O LIVRO DOS ESPÍRITOS de ALLAN KARDEC – tradução de nossa autoria

AOS CAROS VISITANTES SUGIRO E PEÇO QUE, DEPOIS DE TEREM LIDO O LIVRO APRESENTADO, FAÇAM O FAVOR DE NOS COMUNICAREM AS VOSSAS MAIS SINCERAS IMPRESSÕES.

Este livro, a que os caros e qualificados editores de Lisboa chamaram “O Verdadeiro Livro dos Espíritos”, apresenta uma tradução muito cuidada e inteiramente independente de grupos ou organizações de qualquer tipo.
A obra está muito valorizada com um vasto conjunto de Notas Finais, para as quais solicitamos uma leitura muito atenta.

Publicado pela primeira vez em 1857, “O Livro dos Espíritos” é uma obra que marcou um importante marco na história do espiritualismo científico. Escrito por Allan Kardec, pseudónimo do educador francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, o livro tornou-se fundamental para o desenvolvimento e divulgação das ideias espíritas, com fundamento e projeção progressistas.

Ao abordar temáticas como a imortalidade da alma, a comunicação com os espíritos e a lei de causa e efeito, Kardec lançou as bases da doutrina espírita e promoveu uma nova forma de entendimento da vida, da morte e do universo.

“O Livro dos Espíritos” – dividido em quatro partes, aborda desde conceitos fundamentais até questões mais complexas, como a evolução espiritual, a pluralidade dos mundos habitados e a lei de justiça, amor e caridade.

A publicação do livro gerou um grande impacto na época, despertando o interesse de diversos estudiosos e curiosos, tanto na França como noutros países ao redor do mundo. Ao longo dos anos, “O Livro dos Espíritos” tornou-se uma referência obrigatória para quem deseja estudar e compreender o espiritualismo científico.

Apesar de ter sido publicado há mais de um século, a obra mantém sua relevância, oferecendo um conhecimento profundo sobre a espiritualidade, as leis que regem o universo e a esperança de progresso e evolução constante do ser humano. “O Livro dos Espíritos” é um convite à reflexão e ao auto conhecimento, proporcionando uma visão mais ampla e esclarecedora da vida e do seu propósito.

Seja seguidor

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fragmento de uma pintura: “Visões do Céu – memórias da infância” , de Costa Brites, 2008

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Resumo da doutrina espírita – Capítulo I

Conhecer:
O funcionamento da realidade;
O sentido da vida e o seu aperfeiçoamento

é um objectivo bastante difícil…

As primeiras noções que recebi do ESPIRITISMO causaram-me a impressão de que – com o esclarecimento dessa doutrina – era possível encontrar a resposta clara para essas três questões cruciais. Por outro lado produziram em mim um tão enorme entusiasmo e uma tão grande fé e confiança no futuro, que me atrevo a vir aqui divulgar uma visão breve e simplificada do mesmo.
Não se trata de apresentar uma nova religião com rituais, clero hierarquizado, dogmas e ortodoxia, mas sim de esquematizar:

  • uma cultura abrangente com carácter filosófico, método científico e objectivos morais.

PRIMEIRA NOÇÃO ESSENCIAL

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O espiritismo baseia-se no conhecimento do contacto com o mundo dos espíritos, ou seja, na COMUNICAÇÃO COM O OUTRO LADO DA VIDA.
Essa comunicação efectua-se, conforme o que está dito mais abaixo, através de um sentido especial de que só são dotadas certas pessoas, o sentido da mediunidade.

A dificuldade em entender as características desse sentido especial resulta do facto de ser, ainda assim, bastante raro. E não é compreendido pela maioria, da mesma forma que não poderíamos entender o sentido da vista se fossemos cegos, ou o da audição se fossemos surdos.
Por falta de esclarecimento há até muitas pessoas que possuem esse dom e não têm consciência disso.

Sofrem de certas perturbações, por serem dotadas com o dom da mediunidade e andam a tomar comprimidos receitadas por psiquiatras SEM NECESSIDADE NENHUMA, sendo até prejudicadas por causa disso.
Se procurarem aconselhamento junto de pessoas conhecedoras (ver esclerecimentos mais adiante) poderão evitar tais problemas,

visto que a mediunidade é um sentido como a vista ou o ouvido e se enquadra perfeitamente:

nas LEIS DA NATUREZA;

na realidade espiritual vivida por muitíssimas pessoas ao longo dos séculos e que permaneceram longe do estudo e do esclarecimento devido às mais diversas razões:

A ciência materialista e académica, de costas voltadas para a transcendência do Espírito, só aceita aquilo que vêem os olhos do corpo, aquilo que pode pesar-se numa balança ou que pode manipular-se na mesa dum laboratório, ignorando – ou fazendo orelhas moucas – ao facto de que muito do que trata o espiritismo também passa por uma abordagem com carácter científico, fundamentado no método observativo e na experimentação aferida com toda a isenção.

As religiões oficiais são sistemas de poder fortemente hierarquizado, sujeitam as pessoas a normas rígidas de rituais que se repetem sem esclarecimento concreto da realidade das coisas.
A sua acção tem-se mantido ao longo de séculos, reduzindo a noção de Deus a fórmulas acanhadas de visão quase antropomórfica, que tem conduzido inúmera quantidade de fiéis à descrença, senão ao ateísmo.
Para esclarecer de modo elevado este tema recomendo a leitura da obra “Depois da Morte” de Léon Denis, senão por inteiro, pelo menos a primeira parte “Crenças e Negações”.

Em que é que se baseia o espiritismo?

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O espiritismo baseia-se fundamentalmente no conhecimento, devidamente codificado e organizado há cerca de 150 anos, em Paris, por Hippolyte Leon Dénisard Rivail (aliás Allan Kardec) – Vidé também o Capítulo II – depois de estudados e coligidos os resultados de inúmeros contactos estabelecidos com o MUNDO DOS ESPÍRITOS, por intermédio de pessoas dotadas dos necessários dotes mediúnicos para esse efeito.

  • A colheita desses testemunhos não foi feita ao acaso, mas sim com metodologia aferida pelos mais rigorosos moldes de honestidade intelectual e o acompanhamento de observadores independentes;
  • resulta da convergência de multiplicidade de tais depoimentos feitos em lugares diferentes, através de individualidades que nada sabiam umas das outras e em ocasiões diferenciadas no tempo;
  • Muitas dessas comunicações tinham essencialmente propósitos de carácter informativo/formativo de importância universal e são compagináveis com a ciência e com os métodos de observação das LEIS DA NATUREZA;

Outras comunicações mediúnicas, que continuam a decorrer nos autênticos e legítimos Centros Espíritas de todo o mundo, são efectuados com propósitos de auxílio moral, esclarecimento de problemas sensíveis e solidariedade espiritual COMPLETAMENTE LIVRES DE PAGAMENTO MONETÁRIO.
Fique perfeitamente entendido que, nos autênticos e devidamente credenciados Centros Espíritas tais trabalhos são movidos com exclusivo objectivo de SOLIDARIEDADE FRATERNA, tendo produzido em imensidade de casos efeitos comprovadamente úteis para as pessoas neles participantes, de acordo com os mais honestos, concretos e comprováveis testemunhos.

Ainda a respeito da mediunidade:

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Tal faculdade, na grande maioria das pessoas, resulta apenas – o que já é muito – numa percepção subentendida de todas as coisas que connosco se passam (e que tantas vezes acabamos, inconscientemente, de designar como o nosso “6º sentido”):

  • uma intuição secreta e disfarçada, mesclada de maior ou menor intuito de certeza, de causas e efeitos de que não temos consciência plena, mas que nos afectam seja de que maneira for.

O “psicológico”, a tristeza ou a alegria, os sentimentos depressivos, as quebras de ânimo, os entusiasmos ocasionais, a tão celebrada “inspiração” que anima qualquer um de nós por vezes e são o combustível de acção e intervenção das pessoas sensíveis, dos artistas e criativos, tudo isso se encontra dependente desse território desconhecido a que continuamos ligados sem o saber, que não controlamos, mas que nos condiciona de muitas e variadas maneiras.
Nos casos das pessoas em que a mediunidade é mais explícita e – melhor ainda – nos casos em que é orientada e estudada de modo cultural e cientificamente adequado:

  • a mediunidade é uma ferramenta importante para conhecer coisas fundamentais da vida, instrumento de intervenções de solidariedade e auxílio precioso, esclarecendo o verdadeiro destino do homem, o lugar e as circunstâncias de que derivamos e o caminho que nos resta percorrer.
Apresentação desta versão resumida da doutrina espírita:

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Este trabalho irá ser desenvolvido em capítulos sucessivos que irão sendo publicados aqui.
Escrito como está, corresponde àquela conversa sossegada e íntima que gostaria de ter com toda e qualquer pessoa que desejasse ouvir-me.
Lembrei-me de a escrever pensando num grande amigo que fez o favor de ter comigo uma conversa semelhante, mas sem ser por escrito: o Senhor Joaquim Inácio Zapata de Vasconcelos, tipógrafo, músico ensaiador do meu naipe no Orfeão de Leiria, o dos segundos tenores, há mais de 60 anos!…
Considerem, por favor, que se trata de uma conversa entre amigos, ultrapassando a dificuldade formal e a extensão de alguns cursos de qualidade que existem na “internet”. Críticas e comentários, agradecem-se.

Ideias essenciais deste Capítulo:

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Allan Kardec definiu o Espiritismo como sendo:
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“…uma ciência que trata da natureza, da origem e destino dos Espíritos, e das suas relações com o mundo corporal”.
“O Espiritismo é ao mesmo tempo uma ciência de observação e uma doutrina filosófica.
Como ciência prática, ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que decorrem dessas relações”.
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In: “O que é o Espiritismo”, de Allan Kardec
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Resumo da doutrina espírita – Capítulo II

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  Resumo da doutrina espírita – Capítulo II

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O segundo capítulo desta nossa conversa vai tratar de dois assuntos:
I A reencarnação; por ser um aspecto fundamental de toda a razão de ser da ciência de observação que também é doutrina filosófica com consequências morais que se chama espiritismo.
II A construção metodológica do espiritismo da autoria de Allan Kardec; por ser um dado histórico já mencionado no Capítulo I.

  I A REENCARNAÇÃO

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A reencarnação é o conceito de que o espírito, como princípio inteligente dos seres, vai acumulando experiência e conhecimentos, vai-se aperfeiçoando intelectual e moralmente, não apenas na fugaz oportunidade de uma existência neste mundo através do seu corpo, veículo material – cuja associação forma aquilo que os espíritas designam como alma.

O espírito regressa à vida todas as vezes necessárias para que se enriqueça e alcance os necessários dotes do intelecto e as qualidades morais que lhe permitam avançar para outros horizontes de perfeição iluminada.


O corpo físico, veículo transitório da eternidade do espírito

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O corpo físico, nessa ordem de ideias, não passa de um meio transitório, com durabilidade dependente de factores os mais diversos – inclusive dos que dependem de acidentes que ocorrem por aparente fatalidade.
O progresso dos Espíritos processa-se, sempre no sentido ascendente, isto é sem regressões, até um ponto de aperfeiçoamento que os liberta da sequência das encarnações.
Desses Espíritos (e usamos aqui o critério do uso de maiúsculas esclarecido por Allan Kardec em “O Livro dos Espíritos”), só regressam à vida aqueles que, por generosa abnegação, se dispõem – de acordo com decisões tomadas a níveis superiores – a servir de guias orientadores da humanidade que habita este nosso mundo que é caracterizado, na hierarquia respectiva, como mundo de “expiação e de provas”.
Este é o caso do planeta Terra, entre o incontável número de mundos igualmente habitados por todo o Universo, cada um deles servindo a seu modo, de conformidade com o seu nível, os desígnios do Criador,

“…A doutrina da reencarnação, que consiste em admitir para o ser humano muitas existências sucessivas, é a única que corresponde à ideia que fazemos da justiça de Deus, para com os que se encontram colocados numa condição moral inferior, a única que pode explicar o nosso futuro e fundamentar as nossas esperanças, dado que nos oferece o meio de redimir os nossos erros através de novas provas. A razão assim nos diz, e os Espíritos nos ensinam.…”

In “O Livro dos Espíritos”  comentário de Allan Kardec à pergunta 171.

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Sem admitirmos a reencarnação, nada faz sentido no mundo e na natureza das nossas vidas como consequência inteligente de uma causa inteligente que garanta a todos os seres um futuro de evolução e aperfeiçoamento em condições de perfeita igualdade.

O espiritismo serve-se da sua cultura, e do exercício da mesma, para comprovar – mediante a “ciência de observação” que de facto é – essa antiquíssima teoria, comum a uma grande variedade de concepções históricas do mundo e da vida, inclusivamente a que vigorava na contemporaneidade de Jesus e que se manteve nos “textos sagrados” até ao segundo Concílio de Constantinopla no ano 553.
O espiritismo não inventou a reencarnação, cujo conhecimento é tão antiga como a Humanidade.
Aliás, também o sentido orgânico da mediunidade é um fenómeno natural familiar e utilizado pelos mais diversos povos de todo o mundo desde a noite dos tempos.
Ambos são elementos de fundamentação e de prova  da vida depois da morte, da pluralidade das existências – ou reencarnação, isto é, dos fundamentos principais da natureza e do funcionamento do mundo material e do mundo espiritual, e da interacção entre ambos.
A evolução de estudos conduzidos por todo o mundo a respeito da reencarnação e o alargamento dos conhecimentos científicos a seu respeito, já fizeram com que ingressasse na área de investigações académicas em importantes institutos científicos e universitários, mesmo não-espíritas.
Dessa realidade, crescentemente tratada e divulgada em variadíssimos círculos procuraremos ir dando conhecimento nestas páginas.

A doutrina da criação da alma no instante do nascimento

De acordo com algumas concepções religiosas conhecidas, a alma é criada no instante do nascimento dos indivíduos, dando a uns o destino de imperadores, a outros o de pedintes; a uns a categoria de intelectuais de valor, a outros a de analfabetos
Algumas pessoas têm prestações excelentes e gloriosas, de acordo com a sua inteligência superior, outros arrastam-se na carência de meios e na inferioridade moral. Uns são abnegados e justos, outros arrogantes e desrespeitadores, praticamente desde a mais tenra idade. Como se o Criador tivesse como método natural criar almas de primeira, de segunda, etc.

A desigualdade de destinos que isso pressupõe, ao fim de apenas uma existência terrena, às vezes muito curta e muito acidentada, não é compreensível perante as perspectivas de evolução equivalente a que todas as pessoas têm direito.

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A admissão de apenas uma existência também não explica um grande número de factos notáveis da nossa mente, como as pré-aquisições, a memória intuitiva de factos inexplicáveis, a sensação do “momento já vivido”, as crianças prodigiosas que nascem com dotes surpreendentes e impossíveis de enquadrar na realidade simples e toda a infinita assimetria de capacidades e particularismos das condições de vida de cada um.

A intuição sensível dos artistas e o “pecado original”

Dos génios pintores e poetas, por exemplo, toda a gente entende que a sensibilidade e os saberes que tão bem dominam não foram “aprendidos” em lado nenhum. Há visões e percepções na criação artística que surgem “naturalmente” NÃO SE SABE DE ONDE.
Todas essas realidades como muitas outras que dizem respeito à natureza intuitiva da Humanidade, às suas qualidades sensíveis e à sua profunda memória, em evidência em todos os seres, mesmo nas crianças de tenra idade, se encontram devidamente explicadas e justificadas no contexto de justiça e de igualdade de direitos que pode entender-se considerando a tese da sucessão das vidas ou da pluralidade das existências.
O que seria do ser humano, do seu génio, da sua criatividade, do seu desejo de futuro e de progresso, se todos fossemos criados a partir do nível zero de conhecimentos, de sensibilidade e de memória afectiva e cultural?
E a maldade, o vício e a violência, perguntará o leitor. Sim tudo isso faz parte do Universo criado e das contingências dependentes do ilimitado e consciente livre arbítrio de que fomos dotados pela inteligência superior que criou todas as coisas.
Mais uma razão ponderosa para estudarmos com atenção a doutrina emancipadora e luminosa dos Espíritos que também a respeito disso, como da imensidade de outras coisas, nos esclarecerá com razões lógicas e comprováveis.

Quanto ao pecado original, muito haveria para dizer, mas basta delinear as contradições sem sentido que imporia a todos os seres humanos uma condenação antecipada que tem como única razão o simples facto de terem nascido.
Nasceste, como tal já és culpado!.. Que absurdo lamentável!…

As religiões dogmáticas declaram-se únicas detentoras da faculdade de libertar os seres desse pecado, através do baptismo, evidentemente. É uma sujeição, desde logo, abusiva e destinada a cimentar o seu poder.
Há dias, ouvi um sacerdote que celebrava um ofício de defuntos, dizer publicamente numa igreja que “fulano”, o falecido, tinha tido muita sorte, porque fora baptizado conforme preceito de catecismo da sua religião. Por isso se transformara “em filho de Deus”. Por isso poderia “ir para o Céu”!…
Perguntei-me, mergulhado em espanto, qual é a ideia que aquela autoridade religiosa alimenta na sua mente e na sua consciência a respeito dos milhares de milhões de pessoas, seres humanos, que não foram baptizados na “sua igreja”?
Só de pensar que o infeliz julga que todos eles NÃO SÃO FILHOS DE DEUS, me faz rezar por ele uma prece, pedindo que se lhe abra o entendimento e que os bem intencionados fiéis que o procuram não fiquem com esse mau conceito do seu Criador, que os elege só a eles como privilegiados filhos de Deus, mas só se tiverem sido baptizados naquela ( E SÓ NAQUELA!…) Igreja.
Seria, só de pensá-lo, um grave atentado ao mínimo sentido da bondade e da justiça divina.

A evolução em regime de igualdade universal

A chocante variedade de destinos que acima se refere tem sido, ao longo de toda vida, motivo de crises existenciais sem fim, arrastando ao descrédito uma concepção da vida sem projecto inteligente respeitador de todos os seres e das suas legítimas aspirações.
Os incrédulos estribam-se nesse tipo de razões para desacreditarem a tese da existência de um Deus criador que a uns dá o corpo de beldades e mentes de inteligência genial e a outros dá o corpo retorcido do sofrimento informe e a mente entorpecida do tresloucado.

O espiritismo inclui a visão racional de todo esse tipo de circunstâncias, que pode comprovar mediante o exercício do “diálogo entre humanidades”, servindo de guia e amparo substancial a todos os sofredores e de estímulo de aperfeiçoamento a todos os que não forem muito  bem sucedidos, conforme as justificáveis circunstâncias e apenas temporariamente.

Se é importante a primeira das ideias, a de amparo dos menos felizes, enfermos ou aparentemente deserdados, muito importante também é orientar os beneficiados por um quadro de vida pleno de felicidade e favores do destino – em direcção a atitudes conscientemente justas, modestas e solidárias para com todos os seus semelhantes.
As informações disponíveis a respeito deste assunto esclarecem devidamente a longa marcha dos espíritos para aprender, melhorar e aperfeiçoar-se até atingir a clarividência e a plenitude dos Espíritos de Luz.


  II – A construção metodológica do espiritismo da autoria de Allan Kardec

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O ordenamento metódico e sistemático dos conhecimentos espíritas foi feito há cerca de 160 anos, em Paris, por Hippolyte Léon Denizard Rivail (que adoptou o pseudónimo de Allan Kardec).
Nascido em 1804 e falecido em 1869, foi um prestigiado pedagogo e homem de ciência (discípulo de Johann Heinrich Pestalozzi) que lançou mão dos recursos da sua formação para dar início a uma investigação metódica de algo que nessa época surpreendia a França e variados círculos espalhados pelo mundo.
No agitado universo de profundas transformações de meados do século XIX, largo número de interessados se mobilizava em torno de manifestações surpreendentes, cujos contornos não se conheciam devidamente: o fenómeno das comunicações espíritas, cuja ocorrência – por numerosa e evidente – não podia deixar as pessoas indiferentes.
A sistemática ordenação metodológica foi feita a partir da recolha de elementos colhidos por vários grupos de investigadores e o professor Hippolyte Léon foi convidado por um amigo seu, que com ele se dedicava ao estudo do magnetismo humano (o Senhor Fortier), para coligir o conteúdo de perguntas e respostas de um famoso conjunto de cinquenta cadernos com notas tomadas em múltiplos círculos de reuniões espíritas.

O espiritismo foi, portanto – e continuará a ser – obra de uma colectividade de seres que, em plena independência e liberdade, se dão as mãos na construção de um novo horizonte de esperança e evolução para toda a humanidade.

É a uma nova visão do mundo e do homem como ser espiritual dirigido por princípios inteligentes e destinados a uma evolução sem fronteiras.
Tais objectivos são para dar frutos futuros  e também poderão contribuir para uma acentuada evolução positiva do nível de entendimento e do progresso espiritual no mundo em que habitamos.
Pressupõem uma vivência e uma partilha de valores como jamais tinha havido na História e corresponde ao levantar da esperança e de progresso para toda a humanidade, que coroa as melhores conquistas da era moderna.

Anexo I

De acordo com Allan Kardec, no Capítulo I da sua obra “A Génese”, três foram as grandes revelações da Lei de Deus: A primeira representada por Moisés; a segunda por Jesus de Nazaré e a terceira a que foi efectuada pelo Espiritismo.
Do ponto de vista de uma revelação religiosa, o Espiritismo apresenta algumas características muito específicas:

 a) Estruturação Colectiva:
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“…as duas primeiras revelações, sendo fruto do ensino pessoal ficaram forçosamente localizadas, isto é, apareceram num só ponto, em torno do qual a ideia se propagou pouco a pouco; mas foram precisos muitos séculos para que atingissem as extremidades do mundo, sem mesmo o invadirem inteiramente. A terceira tem isto de particular: não estando personificada num só indivíduo, surgiu simultaneamente em milhares de pontos diferentes, que se tornaram centros ou focos de irradiação.”
A Génese, Allan Kardec
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 b) Origem Humano-Espiritual:

O Espiritismo tem uma dupla origem:
espiritual dado que a sua estrutura doutrinária foi em grande parte ditada por Espíritos superiores e, por isso, tem sido considerado uma revelação;
e humana, dado que foi e continua sendo enriquecido e trabalhado por espíritas cultos e dedicados que dão o melhor de si no seu aperfeiçoamento.

 c) Carácter Progressivo:

A ordenação cultural espírita, apoiando-se em factos, tem de ser, e não pode deixar de ser, essencialmente progressiva como todas as ciências de observação.

“Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará.”
A Génese, Allan Kardec; cap I ,it 55
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Anexo II

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Os pontos a seguir esquematizados não são revelações dogmáticas de profetas de qualquer natureza. São a resultante do ensinamento dos Espíritos entre vidas que, activos no mundo espiritual, participaram à Humanidade os ensinamentos que é do seu largo conhecimento e que nos é fundamental para conhecermos a nossa natureza, a nossa origem e o nosso destino

O ESPIRITISMO

  • Parte originariamente dos ensinamentos conhecidos de Jesus de Nazaré, Espírito muito antigo de elevadíssimo nível evolutivo, e que nos é proposto em “O Livro dos Espíritos” como modelo de virtudes morais;
    Os ensinamentos conhecidos de Jesus de Nazaré e que foram levados em conta por Allan Kardec, estão devidamente esclarecidos na sua obra “O Evangelho segundo o Espiritismo”;
  • Revela a origem e a natureza mundo espiritual e suas relações com o mundo material;
  • Levanta o véu dos “mistérios” do nascimento e da morte;
  • Demonstra a existência do perispírito, cuja natureza e propriedades são de fundamental importância;O ESPIRITA
  • Sabe de onde vem, porque razão está na Terra, porque motivos sofre, qual é o seu destino e a razão de existir;
  • Nos princípios e claramente apresentados pela sua cultura filosófica com objectivos morais, vê em tudo e por toda a parte a justiça de Deus;
  • Sabe que alma progride incessantemente, pela pluralidade das existências, até atingir o grau de perfeição que o aproxima de Deus;
  • Toma conhecimento da pluralidade dos mundos habitados;
  • Descobre e aperfeiçoa o livre arbítrio e o sentido moral, orientado pela experiência racional e vontade autónoma;
  • Todos estas aquisições científico-filosóficas se encontram devidamente ordenadas e esclarecidas nos restantes quatro livros da autoria de Allan Kardec: “O Livro dos Espíritos”, “O Livro dos Médiuns”, “A Génese” e “O Céu e o Inferno”.

PRECAUÇÕES ACONSELHADAS

A clarificação de horizontes tão empolgantes como os que se descrevem, solicitam evidentemente grande número de esclarecimentos.
O objectivo desta visão resumida do espiritismo e da sua doutrina, tem como único propósito falar com toda a abertura e muito sinteticamente a todos aqueles que têm tido a curiosidade, mas não ousaram aproximar-se com mais cuidado e atenção.
Meios, documentos e elucidação mais completa é o que não falta, desde logo na enorme rede de relacionamentos que é a internet.
Para fazer essa buscas é importante ter cuidado e usar das necessárias precauções de natureza cultural, porque nem todos bebem nas melhores fontes.

Aqui se propõe aos interessados uma cautela permanente e, na dúvida, devem ter como fonte original de conhecimentos o estudo cuidadoso, metódico e a profundado das obras da autoria de ALLAN KARDEC, profundamente documentada nas suas restantes obras, nomeadamente na sua REVISTA ESPÍRITA, publicada por ele mesmo durante 11 anos.

Resumo da doutrina espírita – Capítulo III

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DE HIPPOLYTE LÉON DENIZARD RIVAIL A ALLAN KARDEC

O conhecimento do exemplo de vida e dedicação intelectual de Hippolyte Léon/Allan Kardec é um estímulo valioso para qualquer um de nós. Se tivesse seguido o exemplo dos seus pais e avós – com a inteligência de que dispunha – teria sido um grande advogado ou um grande juiz, que era o que os mesmos mais desejavam. Teria ganho muito dinheiro, teria envelhecido rodeado dos favores da melhor sociedade parisiense, mas ter-se-ia tornado apenas em mais um nome difícil de ler algures numa lápide tumular manchada pela chuva, pelo pó e pelo tempo.
A enorme virtude, o génio que teve foi o de estar atento, disponível, e de atuar de acordo com o que via com os olhos da inteligência sensível. Não se deixou levar na corrente destrutiva do materialismo imediato e foi premiado com a descoberta/revelação de uma das ideias mais extraordinariamente libertadoras da era moderna: o conhecimento certificado da origem e do destino do homem enquanto ser ligado à transcendência.
Hippolyte Léon/Allan Kardec, abriu resolutamente a cortina que escondia a nossa “sala comum” da entrada franca da luz do Sol, ou mais além, da Luz-Luz!…
Só não sabe quem não quiser ser informado.
Só não acredita quem não se consentir uma hora de atenção e diálogo.
No estado atual dos conhecimentos, a perceção e a intimidade com a transcendência já não é uma questão de fé subjetiva ou de predestinação casual: É uma questão de querer saber e ser informado.
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Neste terceiro capítulo vamos falar um pouco sobre Hippolyte Léon Denizard Rivail, o homem que mais tarde veio a ser conhecido por Allan Kardec, tendo por base uma obra da autoria de Henri Sausse, considerado o seu mais importante biógrafo.
Não ignorei também o trabalho de um outro biógrafo, muito mais recente, André Moreil, sobre cuja personalidade não se encontram dados disponíveis na internet.

Allan Kardec

ALLAN KARDEC (Hyppolite-Léon-Denizard Rivail)
Fundador da doutrina chamada espírita, nascido em Lyon em 3 de outubro de 1804, oriundo de Bourg-en-Bresse, departamento do Ain. Conquanto filho e neto de advogados, e de uma antiga família que se distinguiu na magistratura e no foro, não seguiu essa carreira; dedicou-se cedo ao estudo da ciência e da filosofia.
Aluno de Pestalozzi, na Suíça, torna-se um dos discípulos eminentes deste célebre pedagogo, e um dos propagadores de seu sistema de educação, que exerceu grande influência na reforma dos estudos na França e Alemanha. Foi nesta escola que se desenvolveram as ideias que deviam colocá-lo mais tarde na classe dos homens de progresso e dos livres pensadores.
Nascido na religião católica, mas criado num país protestante, os atos de intolerância que sofreu a esse respeito fizeram-lhe conceber, desde os quinze anos de idade, a ideia de uma reforma religiosa, na qual trabalhou em silêncio por muitos anos, com o pensamento de chegar à unificação das crenças; mas faltava-lhe o elemento indispensável à solução desse grande problema.
O Espiritismo veio mais tarde fornecer-lhe esse elemento e imprimir uma direção especial a seus trabalhos. Por volta de 1850, quando se tratou das manifestações dos espíritos, Allan Kardec entregou-se a observações perseverantes sobre esses fenómenos, e dedicou-se principalmente a deduzir daí as consequências filosóficas.
Entreviu aí primeiramente o princípio de novas leis naturais: as que regem as relações do mundo visível e do mundo invisível; reconheceu na ação deste último uma das forças da natureza, cujo conhecimento devia lançar luz sobre uma quantidade de problemas considerados insolúveis, e compreendeu seu alcance do ponto de vista científico, social e religioso.

Suas principais obras sobre esta matéria são:

  • “O Livro dos Espíritos”, para a parte filosófica, e cuja primeira edição saiu em 18 de abril de 1857;
  • “O Livro dos Médiuns”, para a parte experimental e científica (Janeiro de 1861);
  • “O Evangelho segundo o Espiritismo”, para a parte moral (Abril de 1864);
  • “O Céu e o Inferno”, ou a justiça de Deus segundo o Espiritismo (Agosto de 1865);
  • a Revista Espírita, jornal de estudos psicológicos, coletânea mensal começada em 10 de Janeiro de 1858.
  • “A Génese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo”, (Janeiro de 1868)

Fundou em Paris, em 10 de Abril de 1858, a primeira sociedade espírita regularmente constituída com o nome de Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, cuja finalidade exclusiva é o estudo de tudo o que pode contribuir para o progresso desta nova ciência.

Allan Kardec defende-se de ter escrito algo sob a influência de ideias preconcebidas ou sistemáticas; homem de caráter frio e calmo, observou os fenómenos e deduziu as leis que os regem; foi o primeiro a dar-lhes a teoria e formar um corpo metódico e regular.
Demonstrando que os fatos falsamente qualificados de sobrenaturais estão submetidos a leis, ele fá-los entrar na ordem dos fenómenos da natureza, e destrói assim o último refúgio do maravilhoso e um dos elementos da superstição.
Durante os primeiros anos em que se tratou de fenômenos espíritas, essas manifestações foram mais objeto de curiosidade do que assunto de meditações sérias; o Livro dos Espíritos fez considerar a coisa sob um aspecto completamente diferente; então foram abandonadas as mesas giratórias, que haviam sido somente um prelúdio, e aderiu-se a um corpo de doutrina que abarcava todas as questões interessando a humanidade.

Do aparecimento do Livro dos Espíritos data a verdadeira fundação do Espiritismo, que, até então, possuíra apenas elementos esparsos sem coordenação, e cujo alcance não pudera ser compreendido por todo o mundo; a partir desse momento também a doutrina reteve a atenção dos homens sérios e logrou um desenvolvimento rápido. Em poucos anos essas ideias encontraram inúmeros adeptos em todas as classes da sociedade e em todos os países. Esse sucesso sem precedentes deve-se sem dúvida à simpatia que essas ideias encontraram, mas ele é devido também em grande parte à clareza, que é um dos caracteres distintivos dos escritos de Allan Kardec.

Abstendo-se das fórmulas abstratas da metafísica, o autor soube colocar-se ao alcance de todo o mundo e ser lido sem fadiga, condição essencial para a vulgarização de uma ideia. Sobre todos os pontos controversos, a sua argumentação, de uma lógica cerrada, oferece pouca ocasião à refutação, e predispõe à convicção.
As provas materiais que o Espiritismo dá da existência da alma e da vida futura tendem à destruição das ideias materialistas e panteístas. Um dos princípios mais fecundos desta doutrina, e que decorre do precedente, é o da pluralidade das existências, já entrevisto por uma quantidade de filósofos antigos e modernos, e nos últimos tempos por Jean Reynaud, Charles Fourier, Eugene Sue e outros; mas permanecera no estado de hipótese e de sistema, enquanto o Espiritismo demonstra sua realidade, e prova que este é um dos atributos essenciais da humanidade.
Deste princípio decorre a solução de todas as anomalias aparentes da vida humana, de todas as desigualdades intelectuais, morais e sociais; o homem sabe assim de onde vem, aonde vai, para que fim está na terra, e por que sofre.
As ideias inatas explicam-se pelos conhecimentos adquiridos nas vidas anteriores; a marcha ascendente dos povos e da humanidade, pelos homens dos tempos passados que revivem após terem progredido; as simpatias e as antipatias, pela natureza das relações anteriores; essas relações, que ligam a grande família humana de todas as épocas, dão como base as próprias leis da natureza, e já não uma teoria, aos grandes princípios de fraternidade, de igualdade, de liberdade e de solidariedade universal. Toca, além disso, diretamente na religião, pois sendo a pluralidade das existências a prova do progresso da alma, isso destrói radicalmente o dogma do inferno e das penas eternas, incompatível com esse progresso; com esse dogma ultrapassado caem os inúmeros abusos dele originados.

Em vez do princípio: Fora da Igreja não há salvação, que sustenta a divisão e a animosidade entre as diferentes seitas, e que fez derramar tanto sangue, o Espiritismo tem por máxima: Fora da caridade não há salvação, ou seja, a igualdade de todos os homens diante de Deus, a tolerância, a liberdade de consciência e a benevolência mútua.
Em vez da fé cega que aniquila a liberdade de pensar, diz: Não há fé inabalável senão aquela que pode olhar a razão frente a frente em todas as idades da humanidade.
Para a fé é preciso uma base, e esta base é a inteligência perfeita do que se deve crer; para crer não basta ver, é preciso sobretudo compreender.
A fé cega já não é deste século; ora, é precisamente o dogma da fé cega que faz hoje o maior número de incrédulos, porque quer impor-se e exige a abdicação de uma das mais preciosas faculdades do homem: o raciocínio e o livre arbítrio (Evangelho segundo o Espiritismo.)


A doutrina espírita, tal como enunciada nas obras de Allan Kardec, contém em si os elementos de uma transformação geral das ideias, e a transformação das ideias traz forçosamente a da sociedade.
Deste ponto de vista ela merece a atenção de todos os homens de progresso. Estendendo-se já a sua influência a todos os países civilizados, ela dá à personalidade de seu fundador uma importância considerável, e tudo faz prever que, num futuro talvez próximo, ele será colocado como um dos reformadores do século XIX.

Fonte:
Nouveau Dictionnaire Universel, par Maurice Lachâtre, Docks de la Librairie, 38 – Paris, 1866


Hippolyte Léon, aquele que não cuidou de poder nem de imagem para a posteridade

Enquanto Hippolyte Léon, e muito menos como Allan Kardec, não foi uma personalidade que tenha gasto tempo a notabilizar-se a si próprio, contrariamente ao que acontece com aqueles que parecem obcecados pela acumulação dos fugazes vestígios que irão deixar neste mundo.
Não registou impressões suas que constituíssem “curriculum vitae”, não fez considerandos subjectivos que não fossem ao essencial dos temas que ocupavam a sua mente e, muito menos, criou uma qualquer fundação ou museu com o seu próprio nome.
Tendo sido uma pessoa perfeitamente normal, como qualquer de nós, ou seja: nem santo nem profeta, o seu percurso em direcção ao esclarecimento das causas fundamentais da origem e razão de ser do homem como ser espiritual tem uma exemplaridade tão notável que constituem – conforme será possível demonstrar factualmente – um marco essencial na evolução presente e futura da humanidade.

A aceitação da validade e da importância do trabalho de Allan Kardec não se coloca no plano da fé, no facto de acreditar ou de não acreditar em coisas vulgarmente consideradas – e de forma errónea – misteriosas e vagas. Situa-se unicamente no plano da vontade do esclarecimento de factos identificados com a observação experimental, hoje exemplarmente esclarecidos por estudiosos do mais notável prestígio e autoridade. Depende da coragem intelectual de enfrentar realidades claríssimas de grande actualidade, mas com as suas raízes profundamente lançadas na antiguidade histórica e antropológica.

O que é de salientar à partida é que Hippolyte Léon, ele próprio;

• viveu a maior parte de sua vida sem que tenha existido o espiritismo na sua cabeça;
• a codificação do mesmo resultou de um conjunto de razões e de factos que se impuseram à sua consciência científica e cultural, depois de ter começado a estudá-los, a pedido e por insistência de amigos seus;
• verificando-se a circunstância concreta de que, para a sua anterior formação, tais fenómenos tinham um carácter estranho e até francamente duvidoso.

A determinação de Allan Kardec em abordar “os fenómenos” que lhe foram recomendados por amigos surgiu, é preciso acentuar-se, já depois de ter atingido os cinquenta anos de idade.
Note-se que nessa altura o marco dos cinquenta era uma idade muito mais madura do que é agora devido à mudança do tipo de vida e à esperança de longevidade muito mais alargada.
Isto para além de que, sendo a sua cultura perfeitamente académica, positivista mesmo, a uma primeira solicitação para estudar “uns certos fenómenos magnéticos” que lhe foi feita por um amigo que se chamava Fortier, a resposta dele foi pouco entusiástica, mesmo francamente dubitativa.

As origens, a família e as circunstâncias históricas em França

As suas origens tinham sido católicas e os pais, de boa classe social e haveres, haviam-no mandado para estudos na Suíça (relativamente perto da sua cidade natal, Lyon) dado que o ambiente em França era caracterizado por uma instabilidade enorme, com imensas hipóteses de trágicos acontecimentos.
Não uma simples “crise”, mas conflagrações sociais medonhas que fizeram de todo o século XIX, em França como no resto da Europa, um cenário de violências, guerras, miséria e instabilidade.
Do lado positivo dos acontecimentos registaram-se avanços e progressos notáveis, apesar de tudo. A cultura, a arte e as ciências avançaram extraordinariamente em inúmeros domínios, sendo pena que regimes arrogantes e insensíveis tenham permanecido alheios ao sofrimento dos povos, presos às paixões materialistas, à cupidez egocêntrica e a uma insaciável sede de poder.
Guerras entre estados, revoluções e contra revoluções, amotinações dos desesperados e dos desvalidos reprimidas com mão de ferro, prisões e fuzilamentos, fazem com que este século não tenha constituído uma excepção no conjunto de tantos séculos igualmente saturados da sem razão das guerras, da injustiça e da má distribuição das riquezas.
Já no fim do século dezoito haviam ocorrido factos poderosamente transformadores da ordem e do sistema vigentes (com a Revolução Francesa), e todo o período subsequente, sem esquecer o primeiro império e as guerras napoleónicas, tão devastadoramente trágicas para tantos milhares de vítimas, pese muito embora o efeito das transformações sociais e culturais que arrastaram consigo.
Em 1848 houve milhares de prisões e um número indeterminado de cidadãos foram fuzilados em Paris; em 1851, de novo barricadas em Paris com fuzilaria e muitos mortos e execuções; em 53 a França declara guerra à Turquia e à Rússia, com tudo o que isso envolve para o povo combatente e tributário, sem falar uma longa lista de missões francesas de colonização e conquista e outros conflitos coroados pela guerra franco-prussiana em 1870, com uma vastíssima a invasão da França e o cerco de Paris, seguido da sublevação da Comuna afogada em sangue durante a “semana sangrenta” (cerca de 30 mil mortos, um número suposto jamais confirmado visto que os combatentes eram anónimos cidadãos que se haviam amotinado, cansados da sua miséria).

Gravura ilustrando um dos inúmeros fuzilamentos de populares amotinados que tomaram parte no conhecido episódio histórico da “Comuna de Paris”, que é dado como uma das consequências da guerra franco-prussiana, em 1870. De salientar, entretanto, que as condições de vida da imensa maioria dos trabalhadores, nessa época, assumiam aspectos da mais dramática miséria e falta de justiça social. Foi muito desse povo que engrossou o número daqueles que seguiram com esperança e fé os ensinamentos propagados na altura pela pela mensagem espírita propagada pela obra de Allan Kardec.

A eclosão do espiritismo teve lugar durante o período chamado do Segundo Império de Napoleão III, de 1852 à 1870. Este mesmo homem de estado, primeiramente eleito presidente da república e logo depois auto-consagrado como imperador e o “préfet Haussmann” renovaram de modo espectacular o urbanismo parisiense, tendo inovado com a abertura dos larguíssimos “Grands Boulevards” e das praças vastíssimas.
De visita à “cidade luz”, qualquer guia turístico vos dirá, contudo, que um dos propósitos dessa medida formidável que fez da capital da França aquilo que ela é, seria o de abrir espaços amplos por onde esquadrões de cavalaria pudessem carregar sobre cidadãos amotinados pela fome, e regimentos de artilharia pudessem esfrangalhar à bomba as trágicas barricadas populares, celebradas no luto de milhares em muitas cantigas de camisardos tornadas conhecidas pelos piores motivos.

Estampa popular ilustrando o cerco e o bombardeamento de Paris pelos exércitos da Prússia

Basta dar uma pequena vista de olhos pelos compêndios de história e mergulhar na leitura dos monumentos literários da época, tais como, por simples exemplo, “Os Miseráveis” de Victor Hugo – artista e grande herói da França – notório adepto do pensamento espírita e mentor de reuniões mediúnicas que a história abundantemente documenta.
O esclarecimento das características sociopolíticas e culturais vigentes durante todo esse século foram de uma complexidade impossível de abordar aqui, sendo entretanto indispensável referir que eram muitíssimo adversas ao estudo e à divulgação de ideias estranhas ao regime, de que o poderosíssimo catolicismo fazia parte.
Certos estavam aqueles avisos e considerandos que foram conscienciosamente feitos por Hyppolite Léon, no que toca às imensas dificuldades, azedumes e perseguições de que iria ser vítima, obstáculos que – tendo iniciado a tarefa a que entretanto se propôs – não enfraqueceram em nada o seu ânimo, antes pelo contrário.

A cronologia dos acontecimentos a partir da juventude

1823, o interesse pelo magnetismo

Ainda muito novo, pelos 19 anos (1823), um dos assuntos de exploração científica que motivou o jovem Hippolyte Léon, era o magnetismo, as fases do sonambulismo e todos os mistérios adjacentes, conforme esclareceu muito mais tarde, em Março de 1858, a pgs. 92 da Revue Spirite.

«…O magnetismo preparou o acesso ao espiritismo, e os rápidos progressos desta doutrina devem-se incontestavelmente à vulgarização das ideias daquele. Dos fenómenos do magnetismo, do sonambulismo ao êxtase próprio das manifestações espíritas não dista senão um passo; a ligação é tal que, por assim dizer, é impossível falar de um sem falar do outro. Se tivéssemos que nos manter afastados da ciência magnética, o quadro ficaria incompleto e seríamos comparáveis a um professor de física que se abstivesse de falar da luz. Todavia, como o magnetismo já possui entre nós entidades devidamente acreditadas, seria desnecessário insistir num assunto tratado com a superioridade do talento e da experiência; não falaremos nele senão de modo acessório, o suficiente para mostrar as íntimas relações das duas ciências que, na realidade, não passam de uma só…”

Porém, conforme nos diz Henri Sausse:

“…Não nos antecipemos; a conclusão final não fora ainda atingida. Allan Kardec não tinha encontrado ainda a via que o conduziria à imortalidade…”

1854 – a maturidade e a proposta do Senhor Fortier

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Em 1854, uma das pessoas que como ele se interessava pelos fenómenos do magnetismo, o Senhor Fortier, falou-lhe no caso das mesas girantes que “falavam”. A resposta que lhe deu o professor Rival ficou registada para o futuro de forma explícita, para que não restassem dúvidas quanto à sua atitude céptica que tais fenómenos lhe inspiravam:

«…Acredito quando puder ver, quando me tiverem dado provas de que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que pode tornar-se sonâmbula. Até lá permita-me que veja nisso apenas uma historieta para fazer dormir de pé…»

Nos dois anos seguintes iria desenrolar-se uma enorme quantidade de observações e de experiências que iriam mudar a face dos conhecimentos relativos ao espírito, à origem e ao destino da humanidade e que correspondem ao aparecimento de uma nova cultura, cujo ressonância vibra no coração e na mente de todos nós: a cultura espírita.

1855 – Carlotti, Fortier, a Senhora Plainemaison e muitos outros

A partir daqui vale a pena citar as próprias palavras de Allan Kardec que foram publicadas nas suas «Obras Póstumas»:

« …No ano seguinte (começos de 55) encontrei Carlotti, um amigo de 25 anos, que me ocupou durante mais de uma hora a respeito do fenómeno das “mesas falantes”», com o entusiasmo que dedicava a todas as ideias novas.
Falou-me, antes de mais, na intervenção dos espíritos, o que aumentou as minhas dúvidas.
– O meu amigo será um dia dos nossos, asseverou.
– Veremos isso mais tarde, retorqui.
Pelo mês de Maio, estando em casa da Senhora Roger com Fortier, seu magnetizador, encontrei o Senhor Pâtier e a Senhora Plainemaison, que me falaram dos mesmos assuntos que abordara Carlotti, mas num tom completamente diferente. Pâtier era funcionário público de certa idade, grave, frio e calmo. A sua linguagem ponderada, livre de entusiasmos, impressionou-me bastante e resolvi aceitar com empenho o convite que me fez para assistir às experiências que eram feitas em casa da Senhora Plainemaison.
Foi lá, pela primeira vez, que fui testemunha do fenómeno das “mesas girantes”, em condições tais que não havia lugar a dúvidas.
Assisti também a alguns ensaios muito imperfeitos de escrita «medianímica» feita numa ardósia por meio de uma cestinha.
As minhas ideias não se encontravam definidas, mas um facto de tal natureza devia ter necessariamente uma causa. Por detrás daquelas aparentes futilidades e daquela espécie de brincadeira, descortinei algo de sério, como que a revelação de uma nova lei que prometi aprofundar.
Num dos serões da Senhora Plainemaison conheci a família Baudin, que me convidou a assistir a uma das suas sessões semanais, das quais passei a ser visita assídua.
Foi lá que fiz os meus primeiros estudos sérios de espíritismo, ainda não tanto pelas revelações como pelas observações…

A dúvida metódica e o método da experimentação

“…Apliquei a esta nova ciência, tal como costumava fazer até então, o método da experimentação.
Nunca estabeleci teorias preconcebidas, observava com atenção, comparava e deduzia as conclusões; Procurava encontrar para os efeitos as respectivas causas, pela dedução, e pelo encadeamento lógico dos factos, não assumindo como válida uma explicação senão quando ela esclarecia todas as dificuldades da questão.
Era assim que tinha procedido sempre nos meus trabalhos anteriores, desde a idade de quinze ou dezasseis anos.
Estava consciente, antes de mais, da seriedade da exploração que ia levar a cabo.
Entrevi no seio dos fenómenos estudados, a chave do problema tão profundo e controverso do passado e futuro da humanidade, cuja solução tinha buscado toda a minha vida: era, numa palavra, uma revolução de ideias e de crenças.
Era por isso necessário agir com ponderação e profundidade; ser positivista e não idealista, para não embarcar em ilusões.
Um dos resultados das minhas observações foi de que os espíritos, não sendo senão as almas dos homens, não possuíam a sabedoria plena nem a ciência preclara;
De que o seu saber dependia do seu grau de evolução e que a sua opinião não tinha senão o valor de uma opinião pessoal.
Esta verdade, reconhecida desde o princípio, livrou-me do grave inconveniente de acreditar na sua infalibilidade e impediu-me de formular teorias prematuras baseado na opinião de um só ou de vários testemunhos.
O facto de existir uma comunicação com os espíritos, dissessem eles o que dissessem, provava por si só a existência de um mundo invisível envolvente.
Esse facto já era de importância capital, um campo imenso aberto às nossas explorações, a chave de uma multidão de fenómenos inexplicáveis;
O segundo ponto, não menos importante, era conhecer o estado desse mundo, os seus costumes, se assim se pode dizer;
Depressa concluí que cada Espírito, em função da sua posição pessoal e dos seus conhecimentos, me revelava uma faceta, tal e qual como quando se procura conhecer o estado de um país interrogando os habitantes de todas as classes e de todas as condições, cada qual podendo ensinar-nos algo, sem nenhum poder, individualmente, ensinar-nos tudo;
É ao observador que compete formar o quadro geral com a ajuda de documentos recolhidos de fontes diversas, comparados, conjugados e controlados uns pelos outros.
Agi portanto com os Espíritos do mesmo modo como teria feito com os vivos; foram para mim, desde o mais modesto ao mais notável, meios de me informar e não reveladores predestinados…”

Henri Sausse prossegue:

“…Conforme sabemos pelo que consta das « Obras póstumas de Allan Kardec» convém acrescentar que, de início, o Senhor Rivail, longe de ser um entusiasta destas manifestações e, absorvido por outros afazeres, esteve a ponto de abandonar o seu estudo. O que teria feito sem as empenhadas solicitações de Carlotti, René Taillandier – membro da Academia das Ciências, Tiedeman-Mantèse, Sardou pai e filho, e Didier, editor, que há cinco anos seguiam o estudo destes fenómenos e que tinham reunido cinquenta cadernos de comunicações diversas que não haviam conseguido ordenar de forma adequada.
Conhecedores do raro espírito de síntese de Rivail, entregaram-lhe esses cadernos pedindo-lhe que tomasse deles conhecimento e que organizasse devidamente o seu conteúdo.
Era um trabalho árduo que exigia muito tempo, em função das lacunas e da obscuridade das comunicações, e o enciclopédico conhecedor que era Rivail recusou uma tão absorvente como cansativa tarefa, em nome de outras que tinha entre mãos…»

1856-57 – o “surgimento” de Allan Kardec e a primeira edição do “livro dos Espíritos”

É nesse momento que sucede algo de imprevisto e providencial, em linha com os desígnios comunicacionais operados pelos espíritos directores, do conhecido episódio que originou a adopção do pseudónimo de «Allan Kardec», e do esclarecimento da anterior encarnação de Hippolyte Léon, na pessoa de um druida gaulês, tendo-lhe sido prometida pelos espíritos comunicantes ajuda e acompanhamento na sua tarefa, que foi encarada a partir daí como missão, da qual viria a encarregar-se com entusiasmo e competência.
Rivail toma em mãos a tarefa para a qual fora convocado, analisa o conteúdo da enorme quantidade de comunicações mediúnicas que tinha ao seu alcance, fez todas as anotações necessárias, eliminou as repetições, ordenou as matérias em registo, além de ter identificado as lacunas e pontos duvidosos, preparando questões específicas para esclarecer em comunicações futuras.

Ainda ele próprio:

“…Conforme sabemos pelo que consta das « Obras póstumas de Allan Kardec» convém acrescentar que, de início, o Senhor Rivail, longe de ser um entusiasta destas manifestações e, absorvido por outros afazeres, esteve a ponto de abandonar o seu estudo. O que teria feito sem as empenhadas solicitações de Carlotti, René Taillandier – membro da Academia das Ciências, Tiedeman-Mantèse, Sardou pai e filho, e Didier, editor, que há cinco anos seguiam o estudo destes fenómenos e que tinham reunido cinquenta cadernos de comunicações diversas que não haviam conseguido ordenar de forma adequada.
Conhecedores do raro espírito de síntese de Rivail, entregaram-lhe esses cadernos pedindo-lhe que tomasse deles conhecimento e que organizasse devidamente o seu conteúdo.
Era um trabalho árduo que exigia muito tempo, em função das lacunas e da obscuridade das comunicações, e o enciclopédico conhecedor que era Rivail recusou uma tão absorvente como cansativa tarefa, em nome de outras que tinha entre mãos…»

1856-57 – o “surgimento” de Allan Kardec e a primeira edição do “livro dos Espíritos”

Em 1856 Rivail seguiu as reuniões que se realizavam na Rua Tiquetonne, na casa do Senhor Roustan (não confundir com advogado Jean-Baptiste Roustaing, de Bordéus, promotor do gravoso “cisma roustainguista”, de que teremos de falar mais tarde) com a presença da Mademoiselle Japhet, médium, que trabalhava ainda pelo processo da cesta que produzia, aliás, comunicações muito interessantes. Essas sessões foram dirigidas no sentido de controlar as noções anteriormente organizadas.

Allan Kardec esclarece:

«…A verificação feita desse modo não me satisfazia ainda de acordo com a recomendação que recebera dos Espíritos. As circunstâncias tinham-me posto em contacto com outros médiuns e, cada vez que a ocasião se apresentava, fazia perguntas de modo a resolver as questões mais espinhosas.
Deste modo houve mais de dez médiuns a colaborar na realização desta tarefa. É da comparação e da combinação de todas essas respostas, devidamente ordenadas e muitas vezes cruzadas no silêncio da meditação, que redigi a primeira edição do « Livro dos Espíritos » publicado no dia 18 de Abril de 1857…»

Publicada sob a autoria do seu pseudónimo a obra conheceu um sucesso tal que se esgotou em pouco tempo. No ano seguinte houve uma reedição revista e largamente aumentada.
Houve nova edição em Abril de 1860, outra em Agosto de 1860, outra ainda em Fevereiro de 1861 ou seja, três edições em menos de um ano,

Pressionado pelos acontecimentos e pelos documentos que tinha na sua posse, Allan Kardec – com razões fundamentadas no sucesso do « Livro dos Espíritos » –concebeu o projecto de criar um jornal espírita, para o que se dirigiu ao Senhor Tiedeman em busca de apoio financeiro, o que este recusou.
Consultou por isso os seus guias espirituais, por intermédio do médium Senhora E. Dufaux, tendo-lhe sido dito que lançasse mãos à obra, sem se inquietar com nada.

O primeiro número saiu no dia 1 de Janeiro de 1858, à sua exclusiva responsabilidade, não tendo tido que se arrepender, dado que o êxito da iniciativa ultrapassou de longe todas as expectativas.
Esta tarefa iria ampliar-se, tanto no que toca ao trabalho como às responsabilidades, em luta contra toda a sorte de entraves, obstáculos e perigos. À medida que isso sucedia ia também aumentando a sua coragem e determinação, o que produziu frutos durante onze anos de publicação da «REVUE SPIRITE» cujo bom acolhimento e cujos conteúdos constituem um marco histórico de toda a importância no devir e no alargamento das conquistas da doutrina dos Espíritos.

Em 12 de Junho de 1856 havia-lhe sido feita uma comunicação mediúnica do ESPIRITO DA VERDADE, seu guia, por intermédio do médium Mademoiselle Aline C., para as enormes dificuldades e campanhas negativas que iria ter de enfrentar ao longo do cumprimento da sua tarefa.
Dez anos depois, diria Allan Kardec a esse respeito :

«…Escrevo esta nota no dia 1 de Janeiro de 1867, dez anos e meio depois dessa comunicação me ter sido feita, e concluo que ela se concretizou em todos os detalhes, dado que sofri todos as vicissitudes nela indicados. Fui ameaçado pelo ódio de inimigos encarniçados, à injúria, à calúnia, à inveja e ao ciúme; libelos infames foram publicados contra mim; as minhas melhores indicações foram desvirtuadas; fui traído por aqueles em quem tinha depositado toda a confiança, e recebi a ingratidão como pagamento de serviços prestados. A «Société de Paris» foi um alfobre de contínuas intrigas urdidas por aqueles que se diziam do meu lado, que me faziam boa cara pela frente e me dilaceravam por detrás. Disseram que aqueles que tomavam o meu partido estavam subornados por mim com dinheiro que ganhava com o espiritismo. Nunca mais tive descanso; mais do que uma vez sucumbi sob o excesso de trabalho, a minha saúde degradou-se e a minha vida foi prejudicada. No entanto, graças à protecção e à assistência dos bons espíritos que sem cessar me deram provas da sua solicitude, estou feliz por reconhecer que nem um só instante passei pelo desfalecimento ou pela falta de coragem, e que sempre persisti na minha tarefa com o mesmo ardor, sem me preocupar pela malevolência de que era objecto. De acordo com a comunicação que havia recebido de parte do ESPÍRITO DA VERDADE, deveria contar com todas essas coisas, o que veio realmente a suceder…»

Estas e outras realidades, passados muitos anos, continuam a marcar o nosso quotidiano e as limitações e dificuldades daqueles que, honesta e generosamente, continuam a desejar o progresso moral da humanidade, o seu aperfeiçoamento espiritual e o bom viver que pressupõe a difusão da nossa doutrina.

1867, Léon Denis e… uma sessão à luz das estrelas

O segundo Império de Napoleão III reinou em França de 1852 a 1870 de forma autoritária e teve, além de muitos episódios dolorosos para o seu povo um fim catastrófico com o desastre da guerra franco-prussiana e a morte no exílio.
Para ilustrar o ambiente, apenas um pequeno incidente “normal” do que se passava na sociedade francesa durante esses tempos, descrito por Léon Denis: este havia lido aos 18 anos “O Livro dos Espíritos” de Allan Kardec, o que constituiu para ele “uma súbita iluminação de todo o seu ser” e, cerca de três anos mais tarde (tendo 21 anos de idade e Hippolyte Léon 63) colaborou com a organização de uma sessão de esclarecimento feita por Allan Kardec na cidade de Tours, em 1867.
Léon Denis havia alugado uma sala onde o mesmo teria lugar.
A polícia imperial não esteve pelos ajustes e a sessão foi proibida, acabando por decorrer, “à luz das estrelas” como refere Léon, no jardim de um amigo. Nessa sessão campestre dirigida por Allan Kardec teriam estado presentes cerca de trezentos devotados seguidores.
Por essa altura o interesse pelo espiritismo tinha já feito caminho e a adesão à doutrina, que mais tarde foi decaindo em França devido à pressão da cultura oficial materialista, registava um progresso pujante, em clima de grande desespero moral dos cidadãos.

Filósofo, escritor, conferencista, Léon Denis, desenvolveu intensa actividade na divulgação do espiritismo e assinou, em 1927, o prefácio de uma nova edição do livro da autoria de Henri Sausse, um dos mais devotados investigadores da biografia de Allan Kardec.
Muito mais tarde viria a merecer o epíteto de “Apóstolo do Espiritismo” e a ser aclamado em 1925 presidente do Congresso Espírita em Paris, no qual foi formada a Federação Espírita Internacional. 

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Regresso de Hippolyte Léon ao mundo imaterial dos Espíritos

31 de Março de 1869, aos 65 anos

Depois de uma vida magnificamente intensa coroada pela concretização de uma tarefa que representa o esclarecimento das questões centrais da vida do homem, sua origem e seu futuro, Hipollyte Léon/Allan Kardec acabou por falecer naturalmente, pela ruptura de um aneurisma, entregue a tarefas normais de uma programada mudança de residência.
O seu funeral foi um acontecimento público do maior relevo, acompanhado por uma multidão de pessoas, entre as quais figuravam numerosas individualidades ligadas aos interesses de carácter científico de que abundantemente compartilhava.

Muito adequadamente, um dos cientistas que usou da palavra, tanto por ser seu amigo como por ser adepto das mesmas concepções, foi o prestigiado astrónomo Camille Flamarion, cujo discurso passou a constituir um marco referencial dos depoimentos a respeito de Allan Kardec, de que a seguir se incluem alguns fragmentos:

“…Com efeito, seria um acto importante aqui estabelecer (…) que o exame metódico dos fenómenos, erradamente chamados sobrenaturais, longe de renovar o espírito supersticioso e de enfraquecer a energia da razão, ao contrário, afasta os erros e as ilusões da ignorância e serve melhor ao progresso que a negação ilegítima dos que não se querem dar ao trabalho de ver…”
“…Allan Kardec era o que eu chamarei simplesmente “o bom senso encarnado”. Raciocínio recto e judicioso, aplicava, sem esquecer, à sua obra permanente as indicações íntimas do senso comum. Aí não estava uma qualidade menor, na ordem das coisas que nos ocupam. Era – pode-se afirmar – a primeira de todas e a mais preciosa, sem a qual a obra não poderia tornar-se popular, nem lançar no mundo as suas raízes imensas…”
“…O espiritismo não é uma religião, mas uma ciência, da qual apenas conhecemos o á-bê-cê. O tempo dos dogmas terminou. A Natureza abarca o Universo. O próprio Deus, que outrora foi feito à imagem do homem, não pode ser considerado pela Metafísica moderna senão como um espírito na Natureza. O sobrenatural não existe. As manifestações obtidas através dos médiuns, como as do magnetismo e do sonambulismo, são de ordem natural e devem ser severamente submetidas ao controle da experiência. Não há mais milagres. Assistimos à aurora de uma Ciência desconhecida. Quem poderá prever a que consequências conduzirá, no mundo do pensamento, o estudo positivo desta Psicologia nova?…”
“…tu foste o primeiro que, desde o começo de minha carreira astronómica, testemunhou uma viva simpatia por minhas deduções relativas à existência das Humanidades Celestes; porque, tomando nas mãos o livro “Pluralidade dos mundos habitados”, puseste-o a seguir na base do edifício doutrinário que sonhaste…”
“…O corpo cai, a alma fica e retorna ao Espaço. Encontrar-nos-emos num mundo melhor. E, no céu imenso, onde se exercitarão as nossas mais poderosas faculdades, continuaremos os estudos que na Terra dispunham de local muito acanhado para os conter. Preferimos saber esta verdade, a crer que jazes por inteiro neste cadáver, e que tua alma tenha sido destruída pela cessação do jogo de um órgão. A imortalidade é a luz da vida, como este sol brilhante é a luz da Natureza…”

(publicado na Revue Spirite, em 1869).

Henri Sausse, o mais importante biógrafo de Allan Kardec

31 de Março de 1869, aos 65 anos

A biografia de Allan Kardec da autoria de Henri Sausse é um livro que francamente recomendo a qualquer interessado. Foi escrita uma primeira versão em Março de 1896 para acudir a uma solicitação feita pelos seus amigos de Lyon da Federação Espírita Lionesa, por altura da comemoração do dia 31 de Março, data do falecimento do codificador, e mais tarde publicado nessa cidade – também em 31 de Março – mas de 1909.

Além dos dois prefácios, é seguida do historial comentado da vida de Hippolyte Léon/Allan Kardec e tem como anexos artigos importantíssimos da autoria do mesmo e que constituem, como afirma Henri Sausse, uma espécie complementar de autobiografia do próprio, dada a raridade de referências exactas a respeito da sua personalidade propriamente dita.

pego num lápis enquanto sonho


falas do pintor


Pego num lápis enquanto sonho
e desenho em ti sempre mais do que promete o dia.
Pego na pena leve dum pássaro
e coloco uma sombra de chuva no branco sublime
ou no branco só branco
perpendicular ao chão de pedra antiga.
Lajes e lajes solenes enfrentam decididas o tropel do tempo

Os cabelos da lua clara não se agitam.
Sob as arcadas do templo não deram as mãos

o amor e o medo.
Pego num lápis enquanto sonho
e não desenho o sol que me dilacera
desejo tão somente a luz filtrada pelos ramos verdes do silêncio
os pés pisando as folhas húmidas de pranto
o rio sacramental que lave minhas têmporas
ardidas de sal

Segredo que resolve meu ventre retorcido em cólicas
lidas nas páginas implacáveis
dum jornal.

A “Vida depois da Vida”, da autoria do Dr. Raymond Moody, Jr.

O Dr. Raymond Moody,Jor. o conhecidíssimo autor de nacionalidade norte americana que se tem dedicado a explorar a visão que a atualidade científica nos permite a respeito da vida e da sua continuidade para além da morte, apresenta-nos aqui uma obra resultante das narrativas que lhe foram feitas por diversas pessoas que tiveram a invulgaríssima sensação de terem falecido, regressando logo depois à condição de pessoas plenamente conscientes.
Os invulgares depoimentos a respeito dessas estranhíssimas circunstâncias possibilitaram-lhes revelar um conjunto de observações e perceções tão raras como interessantes.
É o que nos é dado a conhecer nesta obra, devidamente comentada pelo espírito de observação do seu autor.

A LIVRARIA BERTRAND já publicou a nossa tradução de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, de Allan Kardec


Aproxima-se a data da apresentação pública da nossa tradução de “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”, que terá lugar em Lisboa, por iniciativa da muito prestigiada  “LIVRARIA BERTRAND”.

PEDIMOS A TODOS OS QUE JÁ LERAM A IMPORTANTÍSSIMA OBRA,
E SOBRETUDO A QUEM AINDA A NÃO LEU
TODA A ATENÇÃO POSSÍVEL !!!

A nova edição da nossa tradução de “O Livro dos Espíritos” diretamente do francês para português de Portugal, inclui duas notas de apresentação de grandes amigos nossos e distintos espíritas, JOÃO XAVIER DE ALMEIDA e JOÃO DONHA, ambos notáveis conhecedores da nobre língua portuguesa, um português, outro brasileiro.

A nossa tradução tem o intuito de ajudar a criar uma nova geração de leitores de “O Livro dos Espíritos”, sobretudo junto de pessoas não espíritas , mas que também poderá, com proveito, ser lido por pessoas já conhecedoras do tema.
Inclui um prefácio dos tradutores, dirigido a essas pessoas e um nutrido grupo de Notas finais acerca das diferenças de cultura, de sensibilidade e de terminologias entre o que era antes e o que é hoje, relativamente ao tempo em que a obra foi organizada por ALLAN KARDEC, em meados do século XIX

O trabalho geral de revisão do livro traduzido foram movidos pelos seguintes propósitos:

De João Xavier de Almeida:
recebemos a mensagem de um prestigiado e histórico dinamizador e organizador da cultura espírita em Portugal.
Do seu valioso prefácio colhemos o seguinte momento, que convida todos os leitores à leitura completa do texto:

Primeiro
Aproximação mais acentuada do francês praticado pelo autor da obra ao português falado nos nossos dias, com critérios de ordem gramatical e lexical coerentes com o espírito da cultura respetiva.

Segundo
Sendo “O Livro dos Espíritos” a obra basilar da cultura espírita, o leitor terá um acesso mais fácil e penetrará mais fundo na restante obra de Allan Kardec.

Terceiro
A vontade de abertura sinalizada no prefácio de autores e o franco desejo de debate de ideias sugerido nas Notas finais do Livro sugerem o recentramento da obra de Allan Kardec no estudo fundamental da cultura espírita.

Jamais nos demitamos do dever de gratidão ao Brasil, pelas diversas traduções (totalizando, todas, muitos milhões de exemplares editados) que facultaram ao leitor português a obra colossal de Allan Kardec; convenhamos porém: a tradução que ora ouso prefaciar supre finalmente uma nada lisonjeira omissão editorial lusitana, tão longa e desconfortável aos nossos brios.
Dizer grandiosa e transcendente a obra traduzida, O Livro dos Espíritos, nada tem de exagero. Ela integra um pentateuco hodierno de que é o volume basilar, e configura um relevante marco civilizacional judaico-cristão de cultura universal. Sagra-se como a terceira dum ciclo de grandes revelações, iniciado com Moisés e aperfeiçoado por Cristo. Mas… revelação agora em estilo direto, lógico, assertivo, coerente com a profundeza latente das duas precedentes; uma revelação já não necessitada de alegorias e formalismos requeridos outrora pelo verdor evolutivo do Homem. Enfim, uma revelação sobre factos e leis naturais sistematizados com inatacável metodologia científica. Consistente, elucidativa, ela emerge vigorosa duma época onde o racionalismo, inebriado pela emancipação da opressiva tutela eclesiástica, derrapava no materialismo presunçoso que decretou “a morte de Deus” e entronizou a Deusa Razão.

De João Donha,

da cidade de Curitiba, no Brasil recebemos o favor fundamental de um testemunho de leitura; palavras de acolhimento e abertura de horizontes, para inspirarem à leitura mais proveitosa deste Livro, que nos oferece:
“…o novo paradigma do Espírito, da imortalidade, da responsabilidade individual pelos próprios atos, e da multiplicação ao infinito das oportunidades de correção e progresso…”

alguns parágrafos de João Donha:

1
…o paradigma teocrático… gerava um Estado teocrático, sustentado por uma poderosa instituição sacerdotal, com sua hierarquia sólida, seus ritos mágicos e sua capacidade de sugestão controlando as massas. O comportamento era subordinado à suposta vontade divina e, a adoração aos seus desejos. E, muito sangue foi derramado pelas religiões em nome da Divindade.
2
…o paradigma humanista, onde a ênfase é retirada da Divindade e passa a ser dada ao Homem, suas necessidades, seus direitos, suas aspirações e suas destinações. E, novamente, muito sangue foi derramado pelas revoluções em nome da Humanidade.
3
…um novo paradigma, onde a ênfase que já foi exclusiva da Divindade e, depois do Homem, transcende o imediato e passa a ser dada ao Espírito, ou seja, à nossa individualidade que sobrevive à extinção do corpo físico.
Este é o novo paradigma que o presente livro e as obras subsequentes que o completam está construindo. O Paradigma do Espírito, da imortalidade, da responsabilidade individual pelos próprios atos e, da multiplicação ao infinito das oportunidades de correção e progresso

NOTA:
Esta tradução de “O Livro dos Espíritos”, bem como o original conjunto de anotações, é da nossa exclusiva autoria, como pessoas INDEPENDENTES DE QUALQUER ORGANIZAÇÃO IDEOLÓGICA, RELIGIOSA OU POLÍTICA.

Da sombra do dogma à Luz da Razão

Caros visitantes

Andando dia após dia em busca de valores positivos para entregar aos nossos visitantes, publicamos agora algo que julgamos ter sido uma descoberta por excelência, que já lemos e estudámos com a máxima atenção e que vos entregamos, com o conselho urgente de uma preciosa leitura.
É obra do muito prestigiado autor PEDRO ALCIRO BARBOZA DE LA TORRE, venezuelano já falecido, ativo militante da mais nobre cultura espírita, que nos oferece vastíssimo interesse histórico-cultural.

A quantos espíritas, finalmente, importa o espiritismo?

A CEPA, como entidade kardecista, laica, livre-pensadora, humanista, pluralista, progressiva e progressista, constitui um espaço aberto no qual se sentem cómodos todos os espíritas que se impressionem e reflitam diante de perguntas como estas e decidam, como sugeria Kardec, atrever-se a pensar, a privilegiar a razão e antepor os valores éticos como guias de suas convicções. Isso é indispensável para a consolidação de um movimento espírita que possa contemplar sem complexos o século XXI e enfrentar com êxito seus enormes desafios.

(Tomamos a liberdade de reproduzir o texto original em língua castelhana, tão familiar para todos os portugueses)


RESEÑA BIOGRÁFICA DEL DR. PEDRO ALCIRO BARBOZA DE LA TORRE

El Doctor Pedro Alciro Barboza de la Torre nació en Maracaibo (Venezuela) el 8 de Noviembre de 1917, en su niñez y juventud demostró grandes dotes en varias disciplinas. En 1944 obtuvo el doctorado en Ciencias Políticas, trabajó durante muchos años como profesor universitario. A decir, por Herivelto Carvalho en la reseña biográfica que escribió: “Dejó una extensa obra sobre historiografía venezolana, pedagogía, filosofía, ciencias sociales, ciencias políticas, derecho y pedagogía. La obra de Pedro Alciro fue también muy importante para la consolidación de la sociología en su país”. En el campo espírita se destaca siendo un notable escritor con obras como las siguientes:
“Espiritismo para Católicos (1962),
Organización de una Sociedad Espírita (1962),
Espiritismo para Espiritistas (1963),
Desarrollode Médiums (1970),
Repertorio experimental para la mediumnidad (1975),
El espiritista Dr. Enrique María Dubuc (1976),
De la sombra del Dogma a Luz de la Razón (1981),
Cronología espírita (1983)

Además, fue cofundador de la Federación Espírita Venezolana en 1960, presidente y organizador del VI y XI Congreso Espírita Panamericano en 1969 y 1978, respectivamente. Fue presidente de la Confederación Espírita Panamericana (1990-1993), entre otros importantes logros.

*Boletín informativo de CEPA News Letter Nº 20,
correspondiente a los meses de julio/agosto 2020, con el título: “Memoria de la CEPA: Pedro Alciro Barboza de la Torre

RESUMO DE IDEIAS

Há dias um amigo telefonou-me fazendo perguntas a respeito daquilo que acontece depois da morte, impressionado pelo facto de sua mãe ter morrido há poucos dias.

É impressionante a ignorância da maioria das pessoas a esse respeito.
Resolvi fazer um resumo de ideias para facilitar ao máximo o acesso ao principal do que SEI a este respeito.
Digo que SEI e não digo que ACREDITO, porque as ideias que existem de parte de muita gente em Portugal e em muitos países estrangeiros, sobretudo os mais evoluídos cientificamente, ESTE ASSUNTO DE HÁ MUITOS ANOS QUE NÃO É MATÉRIA DE FÉ, MAS SIM DE CONHECIMENTO BASEADO EM FACTOS DEMONSTRÁVEIS NA PRÁTICA OBJETIVA.
Vou ordenar a seguir, pela ordem de tamanho e de acessibilidade, os textos que tenho publicados e que podem servir para esclarecer o assunto de que se trata realmente: RESUMO DE IDEIAS SOBRE A VIDA DEPOIS DA VIDA:

Observar cada um dos textos, escolhendo para ler aquele que parecer mais interessante para leitura imediata.

Da cultura da Grécia antiga a Allan Kardec, a falta de memória da Humanidade

O Espiritismo na sua expressão mais simples, de Allan Kardec

Albert de Rochas e a tese das vidas múltiplas

A BUSCA DE DEUS E DA VIDA DEPOIS DA MORTE NA IDADE DA CIÊNCIA

1. Resumo e palavras-chave

RESUMO: Experiências de quase morte (EQMs) e outras experiências transpessoais – são aquelas que transcendem os limites usuais do espaço ou do tempo – apontam para a existência e natureza de Deus e da consciência pessoal após a morte física. Neste artigo, revê-se a história dessas experiências anteriores a 1850 e do seu estudo durante três períodos de pesquisa científica entre 1850 e o presente.
Concluiu-se que:
Uma grande percentagem da população viveu EQMs e outras experiências transpessoais.
A maioria dessas pessoas é mentalmente saudável.
Tais experiências mudam a vida das pessoas para melhor.
Embora as EQMs e outras experiências transpessoais não possam provar a existência de um Deus pessoal e vida após a morte, apontam nesse sentido de forma evidente.

2. Experiências Transpessoais

As experiências transpessoais envolvem percepções que transcendem os limites pessoais usuais de espaço e/ou tempo. Também conhecidas como “experiências místicas”, “ experiências religiosas ” ou “ experiências espirituais ” , as experiências transpessoais incluem:

Nota: psicóticos

O psicótico vive num mundo onde a realidade é outra, inatingível por nós ou mesmo por outros psicóticos, mas vive simultaneamente neste mundo real. Delírio, o principal sintoma. O psicótico possui um estado anormal de funcionamento psíquico. Mudanças de humor constantes, manias, obsessão.
Psicótico não é nessáriamente relativo à pessoa com psicose. Uma pessoa pode ter sintomas psicóticos sem ter uma psicose propriamente dita.
Psicótico difere do psicopata. A psicopatia é uma psicopatologia caracterizada pela frieza emocional, falta de remorso, etc. Não é necessariamente assassino. Nem todo psicopata tem vontade de matar. São numerosos, manipulam as pessoas por prazer, ou para que essas satisfaçam as suas vontades.

Nota:
transpessoais têm sido chamadas as experiências nas quais o senso de identidade ou self se estende para além do indivíduo.

Muitas experiências transpessoais apontam para a existência e natureza de Deus e de uma vida após a morte de consciência pessoal contínua além da morte física. O estudo científico das “experiências transpessoais” foi desenvolvido entre a segunda metade do século XIX e o presente (Basford, 1990, pp. viii-ix). William James criou o termo “experiência transpessoal”, Abraham Maslow expandiu muito o seu estudo sério, ao considerá-la uma “quarta força” na psicologia após a psicanálise , o behaviorismo e o humanismo (Daniels, 2004, pp. 366-370) .

Neste artigo, não abordarei experiências transpessoais envolvendo médiuns, nem a cura pela fé, pois não pesquisei essas áreas. O meu tema será o desenvolvimento do estudo das experiências de quase-morte e quase-morte nos últimos 150 anos. Começo com uma breve discussão das experiências transpessoais anteriores a meados do século XIX.

3. Experiências Transpessoais Antes de 1850

Platão, Zoroastro, São Paulo e São Gregório Magno

Toda a história humana é testemunho da experiência humana do transpessoal. Antes da pesquisa de experiências transpessoais por pesquisadores biomédicos e cientistas sociais, esses relatos eram muitas vezes anedóticos e frequentemente “contos muito contados”. Há 2.500 anos, Platão registrou a EQM de Er em sua República (Platão, século IV aC/1892). Relatos em primeira mão de fontes confiáveis ​​no mundo antigo são raros. Zoroastro compôs um poema que documentava sua experiência direta com Deus (Vincent, 1999, pp. 91-127). São Paulo também escreveu sobre a transformação de vida de Jesus ( 1 Coríntios 15:5-8 ) e sobre a sua experiência fora do corpo em que foi transportado ao terceiro nível do Céu ( 2 Coríntios 12:2-5 ).

No século VI, São Gregório, o Grande , no Livro 4 de seus Diálogos (Gregório, século VI dC/1959) forneceu um tesouro de experiências transpessoais, incluindo EQMs, CPMs , DBVs e sonhos vívidos. Esses e outros exemplos da literatura antiga e medieval têm alguma validade pelo próprio fato de soarem muito semelhantes aos relatos transpessoais modernos; no entanto, em quase todos os casos, simplesmente não há o suficiente nas descrições antigas para fazer um julgamento sobre a veracidade da história. Na análise de relatos medievais e modernos de viagens ao outro mundo, Carol Zaleski (1987) observou:
“Não podemos simplesmente retirar o invólucro literário e colocar a mão num evento não embelezado, mesmo quando uma visão realmente ocorreu, é provável que tenha sido trabalhado muitas vezes antes de ser registado” (pp. 86-88).

Esse tema sugeriu, por exemplo, que a Igreja estaria ansiosa para garantir que os relatos registrados não contradissessem a “Verdade” conforme definida pela doutrina da Igreja. No entanto, no mundo medieval, relatos em primeira mão de experiências transpessoais tornaram-se mais frequentemente relatados na vida dos santos. Uma colaboração interdisciplinar moderna entre um historiador e um psiquiatra em experiências transpessoais medievais revelou que as visões pareciam estar relacionadas com a doença mental em apenas 4 dos 134 casos estudados pelos autores (Kroll & Bachrach, 1982).

4. Primeiro Período de Pesquisa Científica em Experiências Transpessoais (1850-1920)

Ciência médica de meados do século XIX, religiões orientais e pesquisa psíquica

Em meados do século XIX, a medicina começou a ser uma ciência. Os médicos estudavam o corpo humano, descobrindo que muitos de seus tratamentos e medicamentos há muito reverenciados eram ineficazes e/ou tóxicos (Benson & Stark, 1997, pp. 109-114). As ciências sociais tornaram-se realidade em grande parte devido à invenção da estatística moderna (Wood & Wood, 1996, p. 23). Concomitantemente, a religião comparada surgiu como tema de estudo pela primeira vez no Ocidente desde o período clássico (Nigosian, 2000, pp. 412-413). Este período testemunhou a publicação dos Livros Sagrados do Oriente de Max Müller (1897), que aumentaram o conhecimento ocidental da religião oriental .. Simultaneamente, a arqueologia deixou de ser uma “caça ao tesouro” para aventureiros para se tornar uma ciência metódica (Oakes & Gahlin, 2003, pp. 26-41).

Em meados do século 19, os médicos começaram a relatar DBVs e as EQMs, habitualmente ausentes das suas publicações (Basford 1990, pp. 5-10.131-137; Walker & Serdahely, 1990, p. 108). Auxiliados por cientistas sociais, estudos de caso e observações de experiências transpessoais começaram a ser verificados. Na década de 1880, a Society for Psychical Research foi formada na Inglaterra e, pouco depois foi fundada a American Society for Psychical Research (Cardeña, Lynn, & Krippner, 2000, p. 6). Os membros dessas organizações eram maioritariamente médicos, professores e pregadores. Os seus membros estavam cada vez mais interessados ​​em estudar casos envolvendo experiências transpessoais.

b. Estudos Transpessoais Inovadores Importantes

I. Estudo de Frederick Myers

Estudos inovadores produzidos por esse novo grupo de pesquisadores psíquicos incluem Human Personality and its Survival of Bodily Death (1903) de Frederick Myers e Deathbed Visions (1926) de Sir William Barrett .
O relato verídico seguinte, retirado do trabalho clássico de Myers, documenta os raros fenómenos de contato físico com uma visão. É o caso de uma aparição ao barão Basil Fredorovich von Driesen de seu falecido sogro, com quem ele não tinha boas relações. O objetivo da ADC do sogro era a reconciliação. Basil relatou apertar a mão da aparição que ele descreveu como “longa e fria”, após o que a visão desapareceu. No dia seguinte, após o culto na igreja, o padre disse a Basílio e sua esposa: “Esta noite, às 15h, Nicholas Ivanovitch Ponomareff apareceu-me e implorou-me para reconciliá-lo com você.” Na mesma noite, o genro e o padre, em locais separados, tiveram uma visão do mesmo morto (Myers, 1903, pp. 40-42).

II. Estudo de Henry Sidgwick

Outro estudo importante no século 19 foi o Relatório de Henry Sidgwick sobre o Censo de Alucinações (Basford, 1990, p. 161). O estudo britânico incluiu mais de 15.000 pessoas não psicóticas e descobriu que cerca de 10% dos participantes relataram aparições, incluindo CPMs e visões religiosas. Este também foi o caso de outros estudos na década de 1990, usando uma amostra representativa de mais de 18.000 participantes (Bentall, 2000, pp. 94-95). Embora as pessoas com esquizofrenia possam relatar e relatam experiências místicas juntamente com sua psicose (Siglag, 1986), na maioria das vezes as pessoas sem doença mental relatam ver figuras religiosas, enquanto as pessoas com esquizofrenia relatam ser figuras religiosas.

III. Estudo de James Hyslop

James Hyslop escreveu muitos livros sobre experiências transpessoais. NA sua obra Pesquisa Psíquica e a Ressurreição (1908) é interessante. Inclui não apenas exemplos verídicos de ADCs e DBVs, mas também um tratado sobre a ressurreição como uma ADC em que Hyslop afirmou: “A existência de aparições verídicas daria realidade tudo o que é útil na história da ressurreição e tornaria semelhante a experiência humana em todas as épocas” (p.383).
Essa mesma abordagem, afirmando que o corpo ressuscitado de Jesus era (citando São Paulo) um corpo “espiritual” (Hyslop, 1908, p. 377), foi adotada em meados do século pelo cónego anglicano Michael Perry, que escreveu The Easter Enigma : Um Ensaio sobre a Ressurreição com Referência Específica aos Dados da Pesquisa Psíquica (1959).
Esta tese foi novamente levantada no final do século 20 por Phillip Wiebe , autor de Visões de Jesus (1997). Esses e outros autores modernos argumentaram que as aparições de Jesus pós-ressurreição são experiências visionárias equivalentes aos relatos de CPMs ao longo da história (Hick, 1993, pp. 41-44; Maxwell & Tschudin, 1990, pp. 66-67, 78, 105). , 119, 150, 166, 168; Wiebe 1997, pp. 3-88).

4. Estudo de William James

A principal publicação do primeiro período de pesquisa sobre experiências transpessoais foi The Varieties of Religious Experience , de William James , publicado em 1902. Aí, declarou corajosamente: Em certo sentido, a religião pessoal [atualmente denominada transpessoal ou espiritual] mostrar-se-á mais importante do que a teologia ou os casos de ordem ecleciástica. As igrejas, uma vez estabelecidas, vivem de segunda mão na tradição; mas os fundadores de cada igreja deviam o seu poder à comunicação pessoal direta com o Divino. Não apenas os fundadores sobre-humanos, Cristo, Buda ou Maomé, mas todos os originadores das seitas cristãs, estiveram neste caso; Portanto, a religião pessoal ainda deve parecer a coisa primordial, mesmo para aqueles que continuam a considerá-la incompleta (James, 1902/1994, pp. 35-36; material entre colchetes adicionado).

Ele prosseguiu afirmando que, a diferença no “fato” natural que a maioria de nós atribuiria como a primeira diferença que a existência de um Deus deveria fazer seria, imagino, a imortalidade pessoal. Religião, de fato, para a grande maioria de nossa própria raça significa imortalidade, e nada mais (James 1902/1994, p. 569).

Uma validação adicional para a afirmação de William James de que os fundadores de todas as religiões obtiveram o conhecimento espiritual de experiências transpessoais diretas de Deus pode ser encontrada em New Religions (2004, pp. 14-24) de Christopher Partridge (2004, pp. 14-24) . Partridge listou mais de 200 religiões que foram fundadas ou ganharam destaque no século passado; virtualmente todos os seus fundadores foram transformados e inspirados por uma experiência transpessoal como uma voz, uma visão ou outra experiência mística de Deus, ou uma CPM de uma figura religiosa.

5. Período Intermediário (décadas de 1930 a 1950) e Segundo Período (década de 1960 até o presente) da Pesquisa Científica em Experiências Transpessoais

a. Carl Jung e as experiências transpessoais

Durante a década de 1920, a pesquisa sobre experiências transpessoais começou a diminuir. Na minha opinião, as possíveis razões para isso incluem a morte dos fundadores da pesquisa sobre a experiência transpessoal, a ascensão do ateísmo e do marxismo culturalmente, e o freudismo e o behaviorismo nas ciências sociais e biomédicas. Em um artigo focado exclusivamente nas EQMs, Barbara Walker e William J. Serdahely (1990) observaram o mesmo período “seco”. Carl Jung (1961) tornou-se uma “voz solitária no deserto” sobre a importância da experiência religiosa e espiritual no funcionamento humano saudável.

b. Abraham Maslow e a Psicologia Transpessoal

Como o pai da psicologia humanista, Maslow revolucionou o estudo da psicologia enfatizando a personalidade saudável em vez da psicopatologia . No final de sua vida, foi além dessa inovação ao ressuscitar o termo “transpessoal” de James e fundar o campo da psicologia transpessoal (Maslow, 1964, pp. x — xi, 19 — 29; Partridge, 2004, pp. 366- 370). Durante esse mesmo período, os cientistas começaram a usar o eletroencefalograma (EEG) para estudar a meditação e outros estados alterados de consciência, demonstrando que os estados meditativos eram fisiologicamente diferentes da consciência comum e não apenas o “pensamento positivo” dos crentes (Wulff, 1997, pp. 69-89, 95-116). Concomitantemente, a facilitação da experiência religiosa com o uso de drogas psicadélicas tornou-se objeto de estudo científico.

c. Pesquisa de LSD de Timothy Leary

Timothy Leary era um respeitado professor de psicologia em Harvard e um dos maiores pesquisadores do mundo sobre personalidade na época em que começou a experimentar LSD e outras drogas psicodélicas (Wulff, DM, 1997). Fez isso na melhor companhia — com Huston Smith , um ministro metodista, teólogo e pesquisador em religião comparada, e Aldous Huxley , autor de Admirável Mundo Novo e As Portas da Percepção (Smith, 2000, p. 6). Um dos primeiros projetos de pesquisa de Timothy Leary em Harvard teve o nome: “ Prisioners to Prophets” (Leary, 1983, pp. 83-90). Neste estudo, supervisionou a administração de LSD a prisioneiros que foram seguidos após a sua libertação da prisão. Inicialmente, o grupo LSD teve uma taxa de reincidência menor do que o membros do grupo de controle que não tinham recebido drogas psicadélicas. No entanto, posteriormente esses resultados foram questionados, e foi sugerido que seu sucesso poderia ser melhor atribuído à interação dos alunos com os presos, ajudando-os a readaptarem-se à sociedade e ajudando-os a encontrar emprego. De fato, um acompanhamento de 34 anos mostrou que a reincidência foi ligeiramente maior para o grupo LSD (Horgan, 2003).

Leary sinceramente pensou ter descoberto algo benéfico para a sociedade; um atalho que permitiria a todos tornarem-se místicos. Assim, foi por algum tempo o campeão das drogas psicadélicas. Ele e os seus amigos sofisticados não tiveram experiências negativas com o LSD, e alguns obtiveram intuições sob sua influência. Leary pensou que a experiência mística foi causada pela droga; infelizmente, a causalidade e a dinâmica de tais experiências acabaram não sendo tão simples.

Eu era estudante de graduação em psicologia na época em que esta pesquisa inicial estava sendo realizada. Um dia, um dos meus professores entrou na aula e anunciou que estava fazendo uma pesquisa sobre LSD e queria que todos tomássemos a droga como parte de seu experimento. Agora, isso foi nos dias anteriores às diretrizes rígidas para pesquisa ética em seres humanos, e não era incomum que os professores incluíssem entre os requisitos do curso que os alunos participassem nas suas experiências. Fiquei muito aliviado quando meu professor disse que, se tivéssemos empregos, não éramos obrigados a participar. Ele então nos disse que essas coisas eram TÃO boas que ele nos daria algumas se fôssemos ao seu escritório depois da aula! Advertiu-nos que, se tomássemos por conta própria, teríamos que prometer tomá-lo com um amigo, pois havia algumas pessoas que tinham “efeitos colaterais incomuns (bad trips)”, e o Governo Federal tornou os psicodélicos ilegais. Claramente, a experiência de Deus não estava nas drogas, como Leary esperava.

d. Pesquisa PsicAdélica de Walter Pahnke

“O caminho para Deus é apenas um passo, o passo para fora de si mesmo.”

Nessa época, um pesquisador de Harvard chamado Walter Pahnke (Argyle, 2000, pp. 64-66; Smith, 2000, pp. 199-205) conduziu uma experiência controlada no Andover Theological Seminary na qual dividiu os seminaristas em dois grupos: os de um grupo tomaram psicadélicos e os do outro tomaram um placebo. Depois, colocou os dois grupos num culto de Páscoa de 2 horas e meia. O resultado foi que um número significativo daqueles que receberam a psilocibina relataram experiências místicas em comparação com o grupo controle.
O que Pahnke havia feito era o que os xamãs faziam há séculos: usar drogas para “descentralizar” seus súbditos. As drogas psicadélicas induzem distorções percetivas e forçam o sujeito a sair da sua mentalidade normal, mas é o xamã – ou, no caso da tentativa de Pahnke, os ministros cristãos – que desempenha o papel crítico de guiar o experimentador. No caso dos xamãs nativos americanos, o cenário é um hogan onde o participante é cercado por companheiros de adoração, fogo e cânticos. No culto cristão da Páscoa, os “xamãs cristãos” forneceram o contexto de música, liturgia e oração. O cenário espiritual total é o “gatilho” da experiência mística; as drogas ajudam apenas na medida em que permitem ao experimentador sair da realidade comum (Wulff, 1997, pp. 188-193). Como o místico sufi Abu Said (Vincent, 1994, p. 40) colocou:

e. Experiências Transpessoais e Psicose

Além da relação entre experiências transpessoais e drogas psicodélicas, há também alguma sobreposição entre experiências transpessoais e psicose. Este foi o foco de um livro recente intitulado Psicose e Espiritualidade (Clarke, 2001). O misticismo pode ser diferenciado da psicose por meio da avaliação psicológica. Ralph Hood (2001, pp. 20-31) desenvolveu duas escalas para medir a natureza profunda da experiência mística religiosa: a Religious Experience Episode Measure (REEM) e a Mysticism Scale(Escala M). Esses instrumentos separam místicos de não místicos, mas não diferenciam claramente místicos de psicóticos. Para alcançar este último, um diagnosticador precisa também usar um instrumento que diferencie pessoas com e sem psicose. O uso de mais de um teste para diagnóstico diferencial é comum em psicologia; por exemplo, o diagnóstico de dificuldade de aprendizagem requer a administração de avaliações de leitura e de QI (Vincent, 1987, pp. 45-58).

Embora seja possível ser tanto místico quanto psicótico, pesquisas modernas descobriram muito mais pessoas tendo experiências místicas do que psicoses (Argyle, 2000, pp. 71-72, Hood, 2001, pp. 410-411). Essas diferenças são destacadas em um estudo usando análise de palavras para diferenciar as descrições verbais de místicos, usuários de drogas psicodélicas, psicóticos e pessoas não incluídas em nenhum desses grupos. Os pesquisadores descobriram que as descrições das várias experiências não coincidem (Oxman, Rosenberg, Schnurr, Tucker, & Gala, 1988). Em geral, estudos sobre misticismo e saúde mental mostraram consistentemente que a esmagadora maioria dos místicos é mentalmente “normal” ou “saudável”.

f. Pesquisa de experiência religiosa de Sir Alister Hardy

Em 1969, Sir Alister Hardy , um biólogo, criou a Unidade de Pesquisa de Experiências Religiosas na Universidade de Oxford, hoje Centro de Pesquisas de Experiências Religiosas na Universidade de Gales, Lampeter (Rankin, 2008, p. 3). Este empreendimento marcou o início da pesquisa em larga escala sobre experiências místicas. Para pesquisar a experiência religiosa mística na população em geral, Hardy fez um apelo ao público em geral por meio de jornais e panfletos com a pergunta:

“Você já teve consciência ou foi influenciado por uma presença ou poder, chame de ‘Deus’ ou não, que é diferente do seu eu cotidiano?”

Ele convidou os leitores a enviar suas respostas. Dez anos depois, Hardy (1979/1997) publicou um livro baseado nas primeiras 3.000 respostas que recebeu a essa pergunta sobre experiências místicas.

Em seguida, indo além da metodologia de amostra auto-selecionada, os pesquisadores realizaram pesquisas de pesquisa em larga escala. Em 1977, David Hay e Ann Morisy (Hardy, 1979/1997, pp. 124-130) fizeram a mesma pergunta a uma amostra nacional britânica de 1.865 pessoas: 35% responderam “sim”. Entre os tempos do apelo do jornal britânico e da pesquisa populacional objetiva em larga escala, Andrew Greeley (1974) e seus colegas do Centro Nacional de Pesquisa de Opinião da Universidade de Chicago começaram a fazer uma pergunta muito semelhante:

“Você já se sentiu como se estivesse muito perto de uma poderosa força espiritual que parecia levantá-lo para fora de si mesmo?”

Uma amostra de 1.467 americanos mostrou que 39% responderam “sim”. Ao longo dos anos, repetidas amostras nacionais mostraram que o número de pessoas que responderam afirmativamente a essa pergunta variou de 35% a 50% (Wood, 1989, p. 856). Quando os entrevistados foram entrevistados em vez de pesquisados, o número aumentou para mais de 60% (Hay, 1987, pp. 136-137).

Possivelmente porque mais americanos estão se sentindo mais confiantes em sua espiritualidade, ou talvez porque a pergunta tenha sido formulada de maneira diferente, quando perguntada recentemente:

“Em geral, com que frequência você diria que experimentou a presença de Deus ou uma força espiritual que se sentiu muito próxima de você?”

86% dos americanos relataram uma ou mais experiências transpessoais. Quem sabe? Talvez nós, humanos, estejamos “saindo do nosso armário (espiritual)” ( Mitofsky International e Edison Media Research , 2002)!

Nos primeiros 3.000 casos de experiências místicas que Hardy e seus colegas coletaram, um dos “gatilhos” da experiência mística “foi a perspectiva da morte”. Mais recentemente, Mark Fox (2003, pp. 243-329) analisou essas “ experiências de crise” (CE) e as comparou com outras experiências místicas não-crise (não-CE). Considerando que a maioria dessas ECs foram EQMs, era difícil dizer pelos relatórios voluntários se esses indivíduos morreram ou, em alguns casos, apenas chegaram perto da morte. Apesar dessa limitação, Fox conduziu o estudo porque essas EC/NDEs ocorreram antes da popularização da EQM. Ele encontrou notável semelhança entre esses dois grupos. Em outras palavras, uma das maneiras de se ter uma experiência mística é morrer! Esta ligação entre a EQM e outras experiências místicas é um achado comumente relatado (Cressy 1994, 1996; Fenwick & Fenwick, 1995, pp. 229-236; Kircher, 1995, pp. 81-91; Ring, 2005, pp. 51-51- 52; Vincent, 1994, pp. 9-17).

Recentemente, Xinzhong Yao e Paul Badham do Alister Hardy Research Center publicaram um grande projeto de pesquisa intitulado Experiência Religiosa na China Contemporânea (2007). Yao e Badham entrevistaram 3.196 chineses. A religião é suprimida na China, e não deve ser surpresa que poucos entrevistados indicaram uma afiliação religiosa, mas 56,7% relataram experiências religiosas/espirituais. Usando o budismo como exemplo, apenas 2,3% dos chineses relataram ser budistas, mas 27,4% disseram ter adorado Buda no último ano e 18,2% relataram uma experiência religiosa envolvendo Buda ou bodhisattvas em algum momento de suas vidas (Holmes, 2006). ).

g. Pesquisa de experiência transpessoal de Osis e Haraldsson

Outro grande estudo transcultural sobre experiências transpessoais é relatado no livro de Osis e Haraldsson At the Hour of Death (1977), que documenta 1.708 casos de visões no leito de morte.registrados por médicos e enfermeiros nos Estados Unidos e na Índia. Esses pesquisadores compararam pacientes com visões no leito de morte com pacientes cujo diagnóstico resultaria em alucinações psicóticas, como doença cerebral, uremia e febre acima de 103 graus. Eles também levaram em conta os efeitos da medicação. As aparições dos moribundos nos Estados Unidos e na Índia envolveram parentes mortos e figuras religiosas; em nenhum caso, tanto no estudo piloto norte-americano quanto no estudo transcultural, foi a pessoa “levada” ─ a figura familiar ou religiosa que o paciente percebeu ter vindo para levar o paciente para a vida após a morte ─ uma aparição de um ser vivo Individual. Em geral, as visões no leito de morte eram semelhantes em ambos os países, embora houvesse algumas diferenças. Um décimo dos americanos e um terço dos indianos expressaram emoções negativas quando figuras religiosas apareceram. Os indianos estavam mais ansiosos por morrer, provavelmente porque a religião hindu ensina o julgamento. No entanto, uma vez que a experiência de morrer começou, quase sempre foi agradável para indianos e americanos. O único relato de uma pessoa indo para o inferno foi o de uma ítalo-americana. A diferença mais marcante entre as experiências no leito de morte nos EUA e na Índia é uma que poderia ter sido antecipada: as figuras religiosas que vieram para levar a pessoa para a vida após a morte correspondiam à religião da pessoa. Os cristãos viram Deus, Jesus, anjos e Maria. Os hindus viam figuras como era quase sempre agradável para indianos e americanos. O único relato de uma pessoa indo para o inferno foi o de uma ítalo-americana. A diferença mais marcante entre as experiências no leito de morte nos EUA e na Índia é uma que poderia ter sido antecipada: as figuras religiosas que vieram para levar a pessoa para a vida após a morte correspondiam à religião da pessoa. Os cristãos viram Deus, Jesus, anjos e Maria. Os hindus viam figuras como era quase sempre agradável para indianos e americanos. O único relato de uma pessoa indo para o inferno foi o de uma ítalo-americana. A diferença mais marcante entre as experiências no leito de morte nos EUA e na Índia é uma que poderia ter sido antecipada: as figuras religiosas que vieram para levar a pessoa para a vida após a morte correspondiam à religião da pessoa. Os cristãos viram Deus, Jesus, anjos e Maria. Os hindus viam figuras comoYamaraj , o deus hindu da morte, assim como Krishna, Rama e Durga , (Osis & Haraldsson, 1977, pp. 52-78, 218).

Um subproduto do estudo de Osis e Haraldsson foi que incluiu 120 pessoas que passaram por experiências de quase morte (EQMs). Assim como os visionários do leito de morte, os que passaram por uma EQM na Índia e nos Estados Unidos tiveram experiências semelhantes. A única exceção foi que, nos EUA, as pessoas relataram ter sido instruídas a retornar ou que “tinham trabalho a fazer”. Na Índia, eles costumavam ser informados de que seu nome “não estava na lista”. Um hindu teria sido informado por um mensageiro hindu da morte que eles haviam trazido a pessoa errada. Curiosamente, este relatório incluiu um relato em que outro homem com o mesmo nome estava no mesmo hospital e, quando o paciente inicial recuperou a consciência, o outro homem com o mesmo nome morreu (Osis & Haraldsson, 1977, pp. 147-159) .

Também na década de 1970, foram realizadas pesquisas sobre a objetivação do diagnóstico psiquiátrico. Os resultados desta pesquisa culminaram no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais III (DSM-III) em 1980. Tive o privilégio de trabalhar neste projeto (American Psychiatric Association, 1980, p. 481). O DSM-III removeu a mitologia freudiana da nomenclatura diagnóstica e proibiu um diagnosticador de saltar para um diagnóstico baseado em um único sintoma como alucinações . Mais importante, reconheceu que a experiência religiosa não era em si mesma patológica; em outras palavras, agora estava tudo bem Deus falar com você!

h. O início da pesquisa sobre a experiência de quase morte

Em 1975, Raymond Moody publicou Life After Life e cunhou o termo “experiência de quase morte”. Imediatamente após esta publicação, uma pesquisa séria sobre a EQM começou. A International Association for Near-Death Studies (IANDS) foi fundada em novembro de 1977 por Raymond Moody, Kenneth Ring , Bruce Greyson , Michael Sabom , John Audette, e alguns outros (International Association for Near-Death Studies, 2009). A pesquisa sobre a EQM captou rapidamente a atenção do público, ofuscando todas as outras experiências transpessoais. Essa conclusão é evidenciada pelo grande volume de pesquisas sobre EQM (Holden, Greyson e James, 2009, pp. 1-10). Os destaques de pesquisas sérias sobre EQMs incluem a primeira análise objetiva de Ring das características de EQM (1980). Pouco tempo depois, Sabom (1982) realizou o primeiro estudo prospectivo sobre a EQM. Ring e Sharon Cooper pesquisaram recentemente o que os cegos “vêem” quando têm uma EQM (Ring & Valarino, 1998, pp. 73-95). Mais recentemente, Jeffery Long e Paul Perry (2010) publicaram uma análise de 613 casos de Jeff e Jody Long’sSite da Fundação de Pesquisa em Experiências de Quase Morte (NDERF). Uma área frutífera de pesquisa tem sido sobre os efeitos posteriores das EQMs e outras experiências transpessoais. Resumidamente, os efeitos são extremamente positivos e mudam a vida, e não desaparecem com o tempo (Hay, 1987, pp. 153-167; Ring & Valarino 1998, pp. 123-144).

eu. Teorias científicas tentam explicar experiências de quase morte

À medida que foram levantadas questões sobre a EQM e suas características, pesquisas científicas tentaram lidar com elas. Por exemplo, quando a imprensa afirmou consistentemente que todas as EQMs eram experiências prazerosas dominadas por sentimentos como paz, amor e alegria, Greyson e Nancy Evans Bush (1992), em seu artigo “ Distressing Near-Death Experiences”, contra-atacou com sua análise de experiências dominadas por sentimentos como isolamento, tormento ou culpa. Quando o astrônomo Carl Sagan, atuando como psicanalista de poltrona, afirmou que as EQMs eram apenas pessoas revivendo suas experiências de nascimento, sua “teoria” logo foi refutada em um artigo de Carl Becker que incluía dados não apenas sobre a fisiologia do recém-nascido, mas também a falta de semelhança entre as características da EQM e do nascimento (Becker, 1982). Em um estudo de Susan Blackmore (1983) intitulado “ Nascimento e OBE ”, ela não encontrou diferença nos relatos de passagem por um túnelcomo transição para outra realidade para as pessoas nascidas por cesariana ou de parto normal. Finalmente, embora a maioria das EQMs seja prazerosa, o processo de nascimento é amplamente reconhecido como traumático. Em toda a história registrada, diz-se que apenas uma pessoa riu em vez de chorar ao nascer Zoroastro (Vincent, 1999, p. 3). Sagan não foi o único cético em relação à EQM, mas seu caso ilustra que, quando são levantadas questões, segue-se a investigação científica. “ Modelos explicativos para experiências de quase morte ” de Greyson, Kelly e Kelly (2009, pp. 213-234) oferece uma excelente visão geral das pesquisas que apoiam e refutam as afirmações sobre as origens das EQMs.

j. Induzindo Experiências Transpessoais

Michael Persinger ofereceu mais do que teorias sobre a EQM e outros fenômenos transpessoais (Kelly, Greyson e Kelly, 2007, pp. 382-383). Usando estimulação eletromagnética, ele tentou criar fenômenos do tipo EQM em laboratório, e alguns de seus sujeitos relataram fragmentos de fenômenos semelhantes à EQM e outras experiências transpessoais, bem como fenômenos estranhos, como tontura e formigamento (Greyson, 2000, página 335). No entanto, um estudo escandinavo recente não conseguiu replicar suas descobertas (Keller, 2005). Com base na pesquisa de Persinger, seu aluno, Todd Murphy(2006), começou a comercializar dispositivos eletrônicos para aprimorar experiências meditativas. Se experiências transpessoais pudessem ser induzidas com segurança em laboratório usando estimulação elétrica, essa habilidade cumpriria o antigo sonho de dar a todos uma experiência mística, mudar as pessoas para melhor e trazer uma “nova era”? Em outra nota, Persinger expressou a crença de que sua pesquisa demonstra que a EQM e outras experiências transpessoais estão localizadas no cérebro (Kelly, Greyson e Kelly, 2007, pp. 382-384). No entanto, a estimulação cerebral pode ser interpretada como “limpando as portas da percepção” e levando à iluminação (Kelly, 2007, pp. 603-607).

Desde os tempos antigos, as pessoas tentam induzir experiências transpessoais. No mundo antigo, as pessoas usavam a iniciação nos “mistérios” (Meyer, 1987, pp. 3-13). Sobre a indução aos Mistérios de Ísis , Apuleio deu um relato que é com toda probabilidade autobiográfico:

“Eu me aproximei dos limites da morte. Trilhei o limiar da Prosperina : e nasci através dos elementos voltei. À meia-noite eu vi o sol brilhando em toda a sua glória. Aproximei-me dos deuses abaixo e dos deuses acima, fiquei ao lado deles e os venerei.” (Meyer, 1989, p. 199).

Ele passou a afirmar que não poderia revelar mais porque era um mistério! Os historiadores não estabeleceram qual porcentagem de pessoas foram capazes de ter uma experiência transpessoal induzida no mundo antigo. Os métodos dos antigos também não são conhecidos, mas a ideia de que eles possuíam tal conhecimento continua a ser intrigante (Ring, 1986).

Em uma tentativa de indução, Moody inventou o psychomanteum para facilitar as CPMs de maneira não intrusiva. Usando um espelho levemente inclinado, pouca luz, uma cadeira macia e um quarto escuro, Moody foi capaz de criar a condição para cerca de metade de seus sujeitos experimentarem visitas de seus entes queridos mortos (Moody & Perry, 1993). Este experimento foi replicado várias vezes (Hastings et al., 2002; Roll, 2004). Não estou sozinho entre meus colegas ao sentir que essa necromancia moderna não está isenta de riscos. Se essas visões são realmente reais, como observou Moody (1993, p. 112), as pessoas que aparecem podem não ser as esperadas; se as aparições são produtos da mente inconsciente do sujeito, provavelmente é melhor deixá-las em paz.

k. Religião e Experiências de Quase Morte

Isso nos leva a outro aspecto da pesquisa de EQM: religião e EQMs . Fox (2003, pp. 55-97) viu um silêncio ensurdecedor entre os teólogos, que geralmente não abordaram o tema. Essa omissão parece ser verdadeira para os teólogos do cristianismo, bem como para outras religiões. No entanto, Judith Cressy (1994), uma ministra e conselheira pastoral com doutorado, escreveu ligando as semelhanças entre EQMs e misticismo. O teólogo cristão liberal Marcus Borg (1997, pp. 37-44, 171) apoiou a validade das experiências transpessoais; ele também expressou um otimismo hesitante sobre a validade das EQMs. John Hick , o maior universalista/ pluralista do mundoteólogo cristão, é um endossante entusiasta de experiências transpessoais e esperançoso quanto à veracidade das EQMs (Hick, 1999). O teólogo canadense Tom Harpur também abordou como vários aspectos das EQMs se relacionam com o cristianismo em geral, com seitas cristãs específicas e com a religião mundial. Ele concluiu seu livro Life After Death (1991) com uma forte declaração relacionando as EQMs à teologia cristã universalista.

Fora do cristianismo, o endosso para a relevância das EQMs para a religião é escasso. Alguns anos atrás, eu estava assistindo a um programa de televisão no qual perguntaram ao Dalai Lama como as EQMs afetaram sua crença na reencarnação. Ele respondeu que as EQMs refletem o estado “ Bardo ” – na teologia budista, o estado intermediário entre a morte e o renascimento. Recentemente, o padre zoroastrista Kersey Antia (2005) escreveu sobre o zoroastrismo, EQMs e outras experiências transpessoais. Escritores sobre religião comparada também escreveram sobre a EQM. Zalesky’s (1987) Other World Journeys: Accounts of Near-Death Experience in Medieval and Modern Times , Farnaz Masumian’s (1995)Life After Death: A Study of The Afterlife in World Religions e The Uttermost Deep de Gracia Fay Ellwood (2001) são bons exemplos de livros sobre EQMs e religião comparada . Recentemente, Gregory Shushan (2009) examinou cinco civilizações antigas e culturalmente independentes e concluiu que os elementos centrais de suas crenças sobre a vida após a morte são semelhantes aos das EQMs. Ele afirmou:

“Em última análise, este estudo aponta para um tipo de ‘realidade’ experiencial única, que pode ou não indicar uma única realidade transcendental” (Shushan, 2009, p. 199).

Warren Jefferson (2008) escreveu sobre as EQMs de índios norte-americanos e documentou que muitos de seus relatos de vida após a morte incluem experiências de reencarnação. Finalmente, Marianne Rankin (2008) escreveu uma excelente visão geral das experiências transpessoais, incluindo EQMs, intitulada Uma Introdução à Experiência Religiosa e Espiritual . Este trabalho abrange experiências em religiões do mundo, antigas e modernas, orientais e ocidentais.

Já discuti a maravilhosa comparação de Osis e Haraldsson (1977) entre americanos que eram principalmente cristãos e indianos orientais que eram principalmente hindus, mas ambos os autores eram psicólogos e não teólogos. Alguns pesquisadores de EQM, inclusive eu, não têm medo de vincular os resultados da pesquisa de EQM com suas crenças religiosas. Esses autores incluem os cristãos conservadores Maurice Rawlings (1978) e Michael Sabom (1998), o cristão mórmon Craig Lundahl (1981) e os cristãos universalistas Ken Vincent (2003, 2005) e Kevin Williams (2002).

6. Conclusão

A busca por Deus e vida após a morte na Era da Ciência destaca um aspecto negligenciado do chamado conflito entre religião e ciência. Nos últimos 150 anos, cientistas sociais e biomédicos pesquisaram a própria natureza da religião usando todas as ferramentas disponíveis para a ciência moderna. EQMs e outras experiências transpessoais podem e são investigadas da mesma forma que todos os outros fenômenos psicológicos são investigados. A validade dessas experiências é baseada em várias fontes de dados, incluindo:

  1. Estudos de caso de experiência transpessoal (Bucke, 1901/1931, pp. 9-11, 287-289, 357-359; Guggenheim & Guggenheim, 1996; Maxwell & Schudin, 1990; Wiebe, 1997, pp. 40-88; 2000, págs. 119-141).
  2. Pesquisas sociológicas que revelam quem e qual porcentagem da população tem EQMs e outras experiências transpessoais (Argyle, 2000, p. 56; Wood 1989, p. 856).
  3. Instrumentos de avaliação psicológica que medem não apenas a saúde mental do indivíduo, mas também avaliam a profundidade das experiências místicas (Hood, 2001; Hood, Spilka, Hunsberger, & Gorsuch, 1996, pp. 183-272).
  4. Testes biomédicos e de neurociência, incluindo o EEG, PET-scan e ressonância magnética funcional para, em alguns casos, documentar estados alterados genuínos de consciência e demonstrar que as experiências transpessoais não são apenas desejos (Hood et al., 1996, pp. 193-193- 196; Newberg, D’Aquili, & Rause, 2001; Wulff, 1997, pp. 169-188), e EEGs e ECGs que permitem a documentação do processo de morrer em EQMs que ocorrem em hospitais.
  5. Investigações sociológicas e psicológicas que avaliam os efeitos posteriores que essas experiências têm nas pessoas (Greyson, 2000, pp. 319-320; 345; Hick, 1999, pp. 163-170; Hood et al., 1996, pp. 410-411). ).
  6. Pesquisa experimental controlada, como o experimento de Walter Pahnke sobre os efeitos dos psicodélicos (Argyle, 2000, pp. 64-66; Smith, 2000, pp. 199-205).

Na minha opinião, embora a EQM e outras experiências transpessoais não provem a existência de um Deus pessoal e vida após a morte, eles definitivamente apontam para isso. A pesquisa até o momento documenta o fato de que:

  1. Uma grande porcentagem da população experimentou EQMs e outras experiências transpessoais.
  2. A esmagadora maioria daqueles que têm EQMs e outras experiências transpessoais são mentalmente saudáveis ​​e não psicóticos.
  3. EQMs e outras experiências transpessoais mudam a vida das pessoas para melhor. Parece também que as EQMs e outras experiências transpessoais representam realidades fenomenológicas na origem de praticamente todas as principais religiões do mundo .

7. Referências

João Donha e a tradução para português de “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec

.

João Donha – Professor de Português e de História, poeta, escritor e notável estudioso e divulgador espírita de Curitiba, Paraná – Brasil

João Donha - Espiritismo Esta fotografia mostra o cabeçalho do blogue “João Donha – espiritismo” e representa o seu autor, já há alguns anos evidentemente, à entrada da “Passage de Ste. Anne”, em Paris, designação que em português se poderia traduzir como “Galeria de Santa Ana”. Como curiosidade, antes de termos começado a dedicar-nos integralmente à investigação da cultura espírita, estivemos um tempo em Paris, de visita a um filho que ali se encontrava. Movidos por qualquer espécie de intuição, visitámos demoradamente toda esta área histórica da cidade, incluindo, evidentemente o interessantíssimo e muito conhecido espaço do Palais Royal. Na altura não tínhamos a noção exacta, como agora, de que ali trabalhara tão afincada e generosamente Hipólito Leão Denisard Rivail, na produção da grande obra que mais tarde iríamos ler, estudar e traduzir!...
Para ter acesso a “João Donha – espiritismo”, um blogue muito rico de conteúdos de pensamento e cultura espírita, é favor clicar na imagem.


A seguir o comentário do professor João Donha, conforme foi publicado no já mencionado blogue de sua autoria:

PRIMEIRA (E ÚNICA) TRADUÇÃO PORTUGUESA DO LIVRO DOS ESPÍRITOS


A primeira tradução para a língua portuguesa de um livro de Allan Kardec foi feita em 1862, pelo francês Alexandre Canu, secretário nas sessões da Societé Spirite. Trata-se do “O Espiritismo em sua mais simples expressão”, publicado em Paris pelo editor autorizado pelas duas coroas, brasileira e portuguesa, que bastante influenciou a entrada do espiritismo no Rio de Janeiro, segundo o próprio Kardec.
Depois disso, iniciaram-se as traduções das obras de Kardec para o português feitas por brasileiros e lançadas no Brasil.
Posteriormente, edições dessas traduções passaram a ser feitas também em Portugal, com as costumeiras adaptações quanto às peculiaridades regionais do idioma. Adaptações feitas em toda a literatura. Só o Saramago não permitiu; por isso, suas obras são lidas no Brasil tal como escritas em Portugal.
Mas essa lacuna (a falta de uma tradução para o português de Portugal das obras de Kardec) começa agora a ser suprida pelo casal José da Costa Brites e Maria da Conceição Brites, com a publicação de “O Livro dos Espíritos”.
Eu disse “começa”, porque o desafio é lançado, a ser cumprido por eles ou por outros, para que a tradução das demais obras de Kardec também se faça ao som da beleza original do nosso idioma, “última flor do Lácio, inculta e bela” como lembra Olavo Bilac em seu imortal soneto.

E, podemos dizê-lo sem medo de exageros, lacuna preenchida de forma brilhante. Costa Brites e Maria da Conceição (ou, simplesmente São, como ela simpaticamente se coloca numa rede social) têm um excelente domínio do francês e perfeita consciência da dinâmica histórica a influenciar constantemente uma língua, de forma que, não fizeram apenas uma tradução para o português: fizeram uma tradução para o Século XXI. O cuidado com a expressão correta, clara e precisa dos conceitos transmitidos nesta obra (que se insere no rol das grandes obras sintetizadoras da cultura ocidental) norteou seu trabalho. Um elucidativo, instigador e inteligente prefácio, somado às oportunas “Notas Finais” (que são referenciadas ao longo do texto em negrito e entre colchetes), tornam a leitura desta tradução perfeitamente digerível pelo iniciante no conhecimento espírita e, imprescindível para o estudioso aplicado da doutrina.

A proposta de Costa Brites se resume num brado: “OLE – obra viva, obra aberta!” Pois, segundo ele me disse num e-mail: “a cultura espírita, os espíritas, sobretudo aqueles que têm o privilégio de falar com os Espíritos, nunca deveriam ter parado de avançar na pesquisa mediúnica, abrindo cada vez mais o património das informações”. E finaliza com um vibrante e oportuno desafio que, aliás, é também a minha opinião: “quem não estiver de acordo com o nosso trabalho, tem uma proposta antecipada que lhe apresentamos: façam uma tradução para proveito próprio, com todo o empenho e interesse cultural” (…) “No dia em que todos os espíritas tiverem feito uma tradução para seu próprio uso, talvez se tenham dados passos em frente, que nos expliquem de forma consistente ‘a natureza, origem e destino dos Espíritos e as suas relações com o mundo material’, com todas as respetivas facetas e horizontes”.

Enfim, eis a obra. “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec, tradução de José da Costa Brites e Maria da Conceição Brites, Luz da Razão Editora, Portugal, 2017.

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Comentário a este texto inserido por nós no blogue de João Donha :

Caro professor João Donha,

Os autores da tradução de “O Livro dos Espíritos” diretamente do francês original para português da atualidade agradecem reconhecidamente a atenção posta na leitura e na observação cuidadosa do trabalho que fizemos com tanto gosto e interesse proveitoso.
Com efeito, a motivação principal que nos dirigiu foi a de colhermos ensinamentos para nós mesmos, acompanhando todas as fases da tradução com a necessária pesquisa a respeito de todos os temas que mereciam essa atitude.
A intenção última foi a de servir o melhor possível, e simultaneamente, o interesse da cultura espírita e do português de Portugal que aprendemos na escola, na vida e no maravilhoso alento das palavras de nossas Mães.
O resultado mais feliz dessas observações foi o de termos conseguido estabelecer uma construtiva intimidade intelectual com a obra de Allan Kardec e dos ensinamentos dos Espíritos que nos deu a conhecer com tão elevado critério de ordenação metodológica.
Ao autor deste blogue e a todos os seus visitantes as nossas melhores saudações.

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No largo espaço da Internet cabe perfeitamente, e na nossa sensibilidade claramente se justifica, uma breve imagem do que aprendemos a respeito de João Donha. O perfil e as poesias vão inseridas porque valorizam esta página.
Se a Internet não servir para encontrar e conhecer pessoas e enriquecer a nossa visão da vida, para que servirá ela?
.

JOÃO ALBERTO VENDRANI DONHA, professor de Português e História, de Curitiba, Paraná, Brasil.
A si mesmo se qualifica como:

Ex-professor eventual de português e história;
ex-quase-escritor;
ex-funcionário de estatal;
… Algumas publicações infanto-juvenis; artigos e poesias em diversos periódicos.
E… nada a “completar”… A não ser o exercício atual de duas profissões não regulamentadas (graças a Deus):
a de “fiscal da natureza”, exercida na rive gauche do rio Cachoeira,
e a de “palpiteiro contumaz”, que pode ser verificada aqui no blog.

PUBLICAÇÕES:
“Os Gatos de Angaetama” (1979, CooEditora; 1985, Criar; 1995, HDLivros).
“Pelos Outros, Pela Gente” (1980, CooEditora).
“O Lambari Comilão” (1985, Criar).
“Brás Brasileiro” (1986, HDV).
“Espaço Agrário” (1980, Vozes).
“Os Desconhecidos” (1979, Beija-Flor).

Quase Poemas

Cb. 19.2.2007

RIO TEMPO

Estou num corpo, que está num barco, que desce um rio.
Saí da fonte para a foz, e estou em meio do caminho.
Para mim, a fonte é o passado e a foz é o futuro.
Se paro ou me volto as coisas se invertem.
Pois a fonte tem águas que ainda não vi,
o que faz que elas sejam o futuro,
enquanto que a foz são águas passadas.
Mesmo quando me movo ao longo do rio,
tendo a fonte como passado, lá estão surgindo novas águas;
portanto, em meu passado surgem novidades.
Mas as novidades não são coisas do futuro?
Se o futuro é a foz, suas águas podem ter passado por mim;
então meu futuro é conhecido, pois é feito de águas passadas.
Oh, meu Deus, minha vida gira como as voltas deste barco,
tendo o passado e o futuro sempre no presente.

9.7.2008

DIONÍSIO E APOLO

Se somos antes de ser; se temos categorias a priori; se somos uma centelha divina; se temos uma consciência prévia dada por Deus, lá no fundo e tal, esta verdade indemonstrável mas irrefutável, me indica que todo o saber é adquirido pela intuição, e a razão só lhe dá forma. Assim foi na fase inicial do conhecimento humano, e assim deve permanecer no desenvolvimento científico. A razão não é capaz de gerar novos conhecimentos, mas, simplesmente conformar o conhecimento intuitivo. É evidente; basta apenas observar que, quanto mais racional é uma pessoal, mais previsível ela é, e quanto mais intuitiva, mais criativa e genial. Isto não só porque a pessoa que se aferra apenas à razão se torna prisioneira da previsibilidade inerente a essa faculdade, mas, também, porque está fugindo à sua verdadeira natureza.
Viver é melhor que conhecer.

22.4.2009

A CIDADE

Sonho com a cidade da minha infância,
com muros baixos e portões abertos,
fechados apenas no mês de cachorro louco.
Agora, os cachorros estão sempre loucos
e saltam aterradores nos quintais,
obrigando todos a terem grades e
muros altos…

3.9.2009

POEMIAS

Eu não sirvo prá amigo,
nem prá companheiro,
muito menos prá correligionário,
aliás, eu não sirvo prá co-
isa nenhuma: sou apenas um indivíduo.
E da minha individualidade
(ou seria individualismo?)
eu não abro mão.

A contradição vivida
é que no exercício da minha
individualidade
(ou seria individualismo?),
eu dou-me o direito
de não ter opinião definida;
tê-la, portanto, dividida.
E o in-divíduo
é algo não divisível.

.1990

ECLESIASTES

Vaidade de vaidades, disse o Eclesiastes.
Que proveito tiras tu, ó trabalhador,
Do trabalho com que sempre te desgastaste
Debaixo do sol, a não ser a tua dor?

O sol nasce todo dia e torna a se por
Uma geração vem, outra geração parte
Por mais que pense não se livra do Criador
Filosofia, religião, ciência e arte.

Na calha do tempo se esvai inveja e amor
Seja puro ou pecador, não ilude a sorte
A tragédia com mais furor atinge o forte.

E por mim, que se dane burro ou pensador
Tudo é vaidade, pois que seja como for
Sábio e insensato encontram a mesma morte.

.2012

EU POETA?

O poeta senta e escreve
Eu apenas sinto e ouço
A sinfonia dos sabiás
Na hora mágica das cinco.
É muita paz e felicidade
Ainda que não sendo, só estando,
Mesmo que não tendo, só amando.

.


PALAVRAS DE JOÃO DONHA
UMA APRESENTAÇÃO LÚCIDA E INTELIGENTE
DA PERSONALIDADE E DO VALOR DO TRABALHO DESENVOLVIDO POR ALLAN KARDEC:

Da cultura da Grécia antiga a Allan Kardec, a falta de memória da Humanidade

Sócrates e Platão

SÓCRATES (469—399 AC.) É um dos poucos indivíduos dos quais se poderá dizer, pela influência cultural e intelectual que exerceu no mundo, que sem ele a história teria sido profundamente diferente. Ficou especialmente conhecido pelo método, que tem o seu nome, de pergunta e resposta, pela noção que tinha da sua própria ignorância e pela afirmação de que uma vida sem o questionamento de si mesma não merece a pena ser vivida.

PLATÃO (427—347 AC.) é um dos mais conhecidos, lidos e estudados filósofos do mundo. Foi aluno de Sócrates e professor de Aristóteles, e viveu na Grécia em meados do século IV A.C. Embora influenciado inicialmente por Sócrates, a tal ponto de o ter tornado a principal figura dos seus escritos, também foi influenciado por Heráclito, Parménides e pelos Pitagóricos.


Sócrates e Platão, precursores do cristianismo e do espiritismo


..
O Capítulo IV da Introdução de “O Evangelho segundo o Espiritismo” surpreende-nos com uma referência fortíssima ao legado de Platão e de Sócrates que está na linha do que nos informa a Introdução de “O Livro dos Espíritos”, no número VI – Resumo dos ensinamentos dos Espíritos, e é coerente com a restante obra de Allan Kardec.
São esses os temas desta publicação, que apresenta os seguintes conteúdos:

  • NOTA PRÉVIA alertando para a falta de memória da Humanidade e os seus trágicos efeitos.
  • CAPÍTULO IV da Introdução de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, com o texto introdutório e resumo do legado de Sócrates e Platão, em vinte e cinco pontos, a maioria dos quais é seguido por um comentário de Allan Kardec, salientado a azul;
  • Como elemento de contextualização do texto anterior, referência de um valioso trabalho de Reinaldo Di Lucia, apresentado no VII Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, São Paulo, Brasil, em 2001, cujo ficheiro PDF incluímos e cuja leitura e análise completa empenhadamente recomendamos;
  • Inserção Capítulo VI da Introdução de “O Livro dos Espíritos”, para os visitantes poderem reler e comparar o seu conteúdo com o Capítulo IV da Introdução de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e o referido legado de Sócrates/Platão.

A FALTA DE MEMÓRIA DA HUMANIDADE E OS SEUS TRÁGICOS EFEITOS

A impiedosa e quase sempre cruel marcha da História impediu que a sequência das culturas e das sensibilidades pudessem ter tido acesso, ao longo dos séculos, às conceções filosóficas aqui referidas e à sua proveitosa utilidade no estabelecimento da paz e na manutenção da tolerância.
Referimos, é claro, o manancial de informações científico-filosóficas que nos apresenta a cultura espírita dos nossos dias, em paralelo com o conhecimento já em evidência na Grécia Clássica, plasmado há mais de dois mil anos por alguns dos mais insignes pensadores da História da Humanidade.

Levando em conta o momento superior da civilização, salto qualitativo da Humanidade, durante o qual passou pelo planeta a presença, a palavra e o exemplo de Jesus de Nazaré, muito se perdeu na memória dos homens desde o classicismo Grego até aos tempos de hoje.

Entre o pensamento dos Clássicos Gregos e a actualidade posterior a Allan Kardec, não estamos perante conhecimentos casuais ou desirmanados. Foram informações coligidas a seu tempo exatamente pelos mesmos métodos e derivaram das mesmas fontes de que ainda hoje nos servimos, OS ESPÍRITOS.
Os Espíritos na Grécia falaram aos viventes na Terra, irmãos seus como nós o somos agora, com os mesmos propósitos, a mesma vontade generosa e, tantas vezes, para minorar as saudades da pátria espiritual daqueles que prestavam provas e cumpriam expiações como nós o fazemos nas nossas vidas.
Profundo e precioso é o património de conhecimentos da Humanidade, mas lamentável a força dispersiva das piores tendências do Homem, em luta consigo mesmo!…
Com a prática condizente com as ideias aqui expostas, os critérios dogmáticos não teriam surgido ou podiam ter-se resolvido em paz, em harmonia e convivência.

De nada serviram, pelo caminho, os hábitos de milhões de vidas sombrias orientadas pelo medo dos infernos e purgatórios, DAS CRUZADAS ‒ exportação da violência pelo recurso organizado dos organismos político-estratégicos EM ESTREITA CUMPLICIDADE com o DOGMATISMO RELIGIOSO, as conversões à força, a colonização dos corpos, das mentes e das culturas, o pretexto das dilatações da FÉ e dos IMPÉRIOS para a prática dos maiores abusos históricos de todos os tempos, o silêncio mantido à custa de TORMENTOS INQUISITORIAIS e tantas outras abominações que esmagaram as sociedades e foram transportados por todos os continentes, num delírio materialista, desalmado e cego!…

A acentuação destas ideias nada tem de despropositado, antes pelo contrário. A senda pedregosa dos dogmatismos está aberta, e muitos milhões de almas e poderosas forças obscuras continuam a trilhá-la.
Por isso temos recomendado, ao longo destas páginas, uma atenção permanente à memória dos povos e à História da Humanidade. Porque, com o conhecimento dos erros do passado, se resolvem os erros do presente e se evitam as infelicidades injustas do futuro. Muitíssimo grande é a responsabilidade dos portadores de mensagens do ESPÍRITO EMANCIPADOR.

 

A morte de Sócrates, de Jacques-Louis David (1787)

Resumo dos conceitos de Sócrates e Platão que elucidam a ideia da origem e do destino do homem:
Depois de cada tema segue a azul comentários de Allan Kardec.

I – “O homem é uma alma encarnada. Antes da sua encarnação, existia junto aos modelos primordiais, às ideias do verdadeiro, do bem e do belo. Separou-se deles ao encarnar e, lembrando o seu passado, sente-se mais ou menos atormentada pelo desejo de lá voltar.”

Não se pode enunciar mais claramente a distinção e a independência do princípio inteligente e do princípio material. É, além disso, a doutrina da preexistência da alma, da vaga intuição que ela conserva da existência de outro mundo ao qual aspira, da sua sobrevivência à morte do corpo, da sua saída do mundo espiritual para encarnar, e do seu regresso a esse mundo após a morte. É, enfim, o germe da doutrina dos anjos caídos.

II – “A Alma perturba-se e confunde-se quando se serve do corpo para analisar algum objeto. Sente vertigens, como se estivesse ébria, porque se liga a coisas que são, pela sua natureza, sujeitas a transformações. Em vez disso, quando contempla a sua própria essência volta-se para o que é puro, eterno, imortal, e sendo da mesma natureza, aí permanece ligada tanto tempo quanto possa. Cessam então as suas perturbações, porque está unida ao que é imutável. Este estado da alma é o que chamamos sabedoria”.

Assim, o homem que considera as coisas vistas de baixo, terra à terra, do ponto de vista material, vive iludido. Para as apreciar com clareza é necessário vê-las do alto, ou seja, do ponto de vista espiritual. O verdadeiro sábio deve, por qualquer forma, isolar a alma do corpo, para ver com os olhos do Espírito. É isso o que ensina o Espiritismo (Cap. II, n° 5).

III – “Enquanto tivermos o nosso corpo, e a nossa alma se encontrar mergulhada nessa corrupção, nunca possuiremos o objeto dos nossos desejos ─ a verdade. De facto, o corpo oferece-nos mil obstáculos, pela necessidade que temos de cuidar dele. Além disso, enche-nos de desejos, de apetites, de temores, de mil quimeras e de mil tolices, de maneira que, com ele, é impossível ser sensato, mesmo por um momento. Mas, se nada se pode conhecer verdadeiramente enquanto a alma está unida ao corpo, uma destas duas coisas se impõe: ou que nunca se conhecerá a verdade, ou que se conhecerá depois da morte. Livres da loucura do corpo, então conversaremos, é de esperar-se, com pessoas igualmente livres, e conheceremos por nós mesmos a essência das coisas. É por isso que os verdadeiros filósofos se preparam para morrer e a morte não lhes parece de maneira alguma temível”. (Ver O Céu e o Inferno, 1ª parte, cap. II, e 2ª parte, cap. I).

Aqui está o princípio das faculdades da alma, obscurecidas devido aos órgãos corporais, e da expansão dessas faculdades depois da morte. Mas trata-se aqui das almas evoluídas, já depuradas. Não acontece o mesmo com as almas impuras.

IV – “A alma impura, nesse estado, encontra-se pesada e é novamente arrastada para o mundo visível, pelo horror ao que é invisível e imaterial. Vagueia, então, segundo se diz, ao redor dos monumentos e dos túmulos, junto dos quais foram vistos, às vezes, fantasmas tenebrosos. Assim devem ser as imagens das almas que deixaram o corpo sem estar inteiramente puras, e que conservam alguma coisa da forma material, o que permite aos nossos olhos apercebê-las. Essas não são as almas dos bons, mas as dos maus, que são forçadas a vaguear nesses lugares, onde carregam as penas das suas vidas passadas e onde continuam a vaguear até que os apetites inerentes à sua forma material as coloquem de novo a habitar um corpo. Então, retomam sem dúvida os mesmos costumes que, durante a vida anterior, eram da sua predileção”.

Não somente o princípio da reencarnação está aqui claramente expresso, mas também o estado das almas, que ainda estão sob o domínio da matéria, é descrito tal como o Espiritismo o demonstra nas evocações. E há mais, pois afirma-se que a reencarnação é uma consequência da impureza da alma, enquanto as almas purificadas estão livres dela.
O Espiritismo diz isto mesmo, apenas acrescenta que a alma que tomou boas resoluções na erraticidade, e que tem conhecimentos adquiridos, trará ao renascer menos defeitos, mais virtudes e mais ideias intuitivas do que na existência anterior. Assim, cada existência marca para ela um progresso intelectual e moral. (O Céu e o Inferno, 2ª parte: Exemplos).

V – “Após a nossa morte, o génio (daïmon, em grego) que nos fora designado durante a vida, leva-nos a um lugar onde se reúnem todos os que devem ser conduzidos ao Hades, para aí serem julgados. As almas, depois de permanecerem no Hades o tempo necessário, são reconduzidas a esta vida por numerosos e longos períodos”.

Esta é a doutrina dos Anjos da Guarda ou Espíritos protetores, e das reencarnações sucessivas, após intervalos mais ou menos longos de erraticidade.

VI – “Os demónios preenchem o espaço que separa o Céu da Terra, são os laços que ligam o Grande Todo consigo mesmo. A divindade nunca entra em comunicação direta com os homens, é por meio dos demónios que os deuses se relacionam e conversam com ele, quer durante o estado de vigília quer durante o sono”.

A palavra “daïmon”, que originou o termo “demónio”, na Antiguidade não tinha o sentido do mal, como acontece entre nós. Não se aplicava essa palavra exclusivamente aos seres maldosos, mas a todos os Espíritos em geral, entre os quais se distinguiam os espíritos superiores chamados deuses e os Espíritos menos elevados ou demónios propriamente ditos, que comunicavam diretamente com os homens. O Espiritismo ensina também que os Espíritos povoam o espaço, que Deus não comunica com os homens senão por intermédio dos Espíritos puros, encarregados de nos transmitir a sua vontade, que os Espíritos comunicam connosco durante o estado de vigília e durante o sono.
Substituindo a palavra demónio pela palavra Espírito teremos a doutrina espírita; usando a palavra anjo, teremos a doutrina cristã.

VII – “A preocupação constante do filósofo (tal como o compreendiam Sócrates e Platão) é a de ter o maior cuidado com a alma, não tanto por esta vida, que é apenas um instante, mas tendo em vista a eternidade. Se a alma é imortal, não é sábio viver para a eternidade?”

O Cristianismo e o Espiritismo ensinam a mesma coisa.

VIII – “Se a alma é imaterial, deve voltar, após esta vida, a um mundo igualmente invisível e imaterial, da mesma forma que o corpo, ao decompor-se, volta à matéria. Importa somente distinguir bem a alma pura, verdadeiramente imaterial, que se alimenta, como Deus, da sabedoria e dos pensamentos, da alma mais ou menos manchada por impurezas materiais, que a impedem de se elevar ao divino, retendo-a nos lugares da sua passagem pela Terra”.

Sócrates e Platão, como se vê, compreendiam perfeitamente os diferentes graus de desmaterialização da alma. Insistem nas diferenças que resultam da sua maior ou menor pureza. O que eles diziam por intuição, o Espiritismo prova-o, pelos numerosos exemplos que nos põe diante dos olhos (O Céu e o Inferno, 2ª parte).

IX – “Se a morte fosse o desaparecimento total do homem, isso seria de grande vantagem para os maus, que após a morte estariam livres, ao mesmo tempo, dos seus corpos, das suas almas e dos seus vícios.
Só aquele que enriqueceu a sua alma, não com estranhas ornamentações, mas com as que lhe são próprias, poderá esperar tranquilamente a hora da sua partida para o outro mundo”.

Por outras palavras: o materialismo, que proclama o nada após a morte, seria a negação de todas as responsabilidades morais posteriores e, por conseguinte, um estímulo ao mal. O malvado tem tudo a ganhar com o nada, o homem que se livrou dos seus vícios e se enriqueceu de virtudes é o único que pode esperar tranquilamente o despertar na outra vida. O Espiritismo mostra-nos, pelos exemplos que diariamente nos apresenta, quanto é penosa a passagem desta para a outra vida e a entrada na vida futura, para os que praticam o mal. (O Céu e o Inferno, 2ª parte, cap. I).

X – “O corpo conserva bem marcados os vestígios dos cuidados que se teve com ele ou dos acidentes que sofreu. Acontece o mesmo com a alma. Quando está separada do corpo conserva os traços evidentes do seu caráter, dos seus sentimentos, e as marcas que nela deixaram os atos que praticou durante a vida. Assim, a maior desgraça que pode acontecer a um homem é a de ir para o outro mundo com uma alma carregada de crimes. Tu vês, Callicles, que nem tu, nem Polus, nem Górgias, podereis provar que se deve levar outra vida que nos seja mais útil quando formos para o outro mundo. De tantas opiniões diferentes, a única que permanece inabalável é a de que mais vale receber uma injustiça do que cometê-la, e que antes de tudo devemos aplicar-nos, não a parecer, mas a ser um homem de bem”. (Conversas de Sócrates com os discípulos na prisão).

Aqui encontra-se outro ponto capital hoje confirmado pela experiência, segundo o qual a alma não purificada conserva as ideias, as tendências, o caráter e as paixões que tinha na Terra. Esta máxima: mais vale receber uma injustiça do que cometê-la, não é totalmente cristã? É o mesmo pensamento que Jesus exprime por este juízo: “Se alguém te bater numa face, oferece-lhe a outra”. (Cap. XII, nºs 7 e 8)).

XI – “De duas, uma: ou a morte é a destruição absoluta, ou é a passagem da alma para outro lugar. Se tudo deve extinguir- se, a morte será como uma dessas raras noites que passamos sem sonhar e sem nenhuma consciência de nós mesmos. Mas se a morte é apenas uma mudança de morada, a passagem para um lugar onde os mortos se devem reunir, que felicidade a de ali reencontrarmos os nossos conhecidos! O meu maior prazer seria o de examinar de perto os habitantes dessa outra morada e distinguir entre eles, como aqui, os que são sensatos dos que creem sê-lo e não o são. Mas já é tempo de partirmos, eu para morrer e vós para viver”. (Sócrates aos seus juízes).

Segundo Sócrates, os homens que viveram na Terra encontram-se depois da morte e reconhecem-se. O Espiritismo no-los mostra, continuando as suas relações, de tal maneira que a morte não é uma interrupção, nem uma cessação da vida, mas uma transformação sem solução de continuidade.
Sócrates e Platão, se tivessem conhecido os ensinamentos transmitidos por Jesus quinhentos anos mais tarde, e os que o Espiritismo nos transmite hoje, não teriam falado de outra maneira. Nisso, nada há que nos deva surpreender, se considerarmos que as grandes verdades são eternas e que os Espíritos adiantados devem tê-las conhecido antes de vir para a Terra, para onde as trouxeram. Sócrates, Platão e os grandes filósofos do seu tempo poderiam estar, mais tarde, entre aqueles que secundaram Jesus na sua divina missão, sendo escolhidos precisamente porque estavam mais aptos do que outros a compreenderem os seus sublimes ensinamentos. E pode acontecer que façam agora parte da grande plêiade de Espíritos encarregados de virem ensinar aos homens as mesmas verdades.

XII – “Não se deve nunca retribuir a injustiça com a injustiça, nem fazer mal a ninguém, qualquer que seja o mal que nos tenha feito. Poucas pessoas, contudo, admitem este princípio, e as que não concordam com ele só podem desprezar-se umas às outras”.

Não é este o princípio da caridade, que nos ensina a não retribuir o mal com o mal e a perdoar aos inimigos?

XIII – “É pelos frutos que se conhece a árvore. É necessário qualificar cada ação por aquilo que ela produz: chamá-la má quando a sua consequência é má, e boa quando produz o bem”.

Esta expressão: “É pelos frutos que se reconhece a árvore”, encontra-se textualmente repetida, muitas vezes, no Evangelho.

XIV – “A riqueza é um grande perigo. Todo o homem que ama a riqueza, não se ama a si próprio nem ao que é seu, mas ama algo que lhe é mais estranho do que aquilo que é dele”. (Cap. XVI).

XV – “As mais belas preces e os mais belos sacrifícios agradam menos à Divindade do que uma alma virtuosa que se esforce por se lhe assemelhar. Seria grave que os deuses se interessassem mais pelas nossas oferendas do que pelas nossas almas. Se tal acontecesse, os maiores culpados poderiam conquistar os seus favores. Mas não, pois só são verdadeiramente retos e justos os que, pelas suas palavras e pelos seus atos, cumprem os deveres para com os deuses e os homens”. (Cap. X, nºs 7 e 8).

XVI – “Chamo homem violento ao amante vulgar, que ama mais o corpo do que a alma. O amor está por toda a natureza que nos convida a exercitar a nossa inteligência. Encontramo-lo até mesmo no movimento dos astros. É o amor que ornamenta a natureza com os seus admiráveis adornos. Enfeita-se e fixa a sua morada onde encontra flores e perfumes. É ainda o amor que traz a paz à Humanidade, a calma ao mar, o silêncio aos ventos e o sossego à dor”.

O amor, que deve unir os seres humanos por um sentimento de fraternidade, é uma consequência desta teoria de Platão sobre o amor universal, como lei da natureza. Sócrates disse que “o amor não é um deus nem um mortal, mas um grande Daïmon”, ou seja, um grande Espírito que preside ao amor universal. Foi sobretudo esta afirmação que lhe foi imputada como crime.

XVII – “A virtude não pode ser ensinada, vem por um dom de Deus aos que a possuem”.

É quase como a graça no conceito cristão. Mas se a virtude é um dom de Deus, um favor, pode perguntar-se por que razão não é concedida a todos? Por outro lado, se é um dom, não há mérito da parte do que a possui? O Espiritismo é mais explícito, ensina que aquele que a possui já a adquiriu pelos seus esforços nas vidas sucessivas, ao livrar-se pouco a pouco das suas imperfeições. A graça é a força que Deus concede aos homens de boa vontade, para se livrarem do mal e fazerem o bem.

XVIII – “Há uma disposição natural em cada um de nós, é a de nos apercebermos muito menos dos nossos defeitos do que dos defeitos alheios”.

O Evangelho diz: “Vês o argueiro no olho do teu irmão, e não vês a trave no teu?” (Cap. X, nº 9 e 10).

XIX – “Se os médicos não conseguem debelar a maior parte das doenças, é porque tratam o corpo sem a alma, e porque, se o todo não se encontra em bom estado, é impossível que as suas partes estejam bem”.

O Espiritismo esclarece as relações entre a alma e o corpo, e prova que um atua incessantemente sobre o outro. Assim, abre um novo caminho à ciência. Mostrando-lhe a verdadeira causa de certas doenças, dá-lhe, pois, o meio de as combater. Quando a ciência levar em conta a ação do elemento espiritual no conjunto orgânico, será mais eficaz.

XX – “Todos os homens, desde a infância, fazem mais mal do que bem”.

Estas palavras de Sócrates tocam a grave questão da predominância do mal sobre a Terra, questão insolúvel sem o conhecimento da pluralidade dos mundos e do destino da Terra, onde habita apenas uma pequena parte da Humanidade. Só o espiritismo lhe dá a solução, que se encontra desenvolvida mais adiante, nos capítulos II, III e V.

XXI – “A sabedoria está em não julgares que sabes aquilo que não sabes”.

Isto vai dirigido àqueles que criticam as coisas de que, frequentemente, nada sabem. Platão completa este pensamento de Sócrates, ao dizer: “Tentemos primeiro torná-los, se possível, mais honestos nas palavras. Se não conseguirmos, não nos preocupemos com eles e busquemos nós a verdade. Tratemos de nos instruir, mas sem nos incomodarmos“. É assim que devem agir os espíritas, em relação aos seus contraditores de boa ou má-fé. Se Platão vivesse hoje encontraria as coisas mais ou menos como no seu tempo e poderia usar a mesma linguagem. Sócrates também encontraria quem zombasse da sua crença nos Espíritos e o tratasse como se fosse louco, assim como ao seu discípulo Platão.
Foi por ter professado esses princípios que Sócrates foi ridicularizado, primeiro, depois acusado de impiedade e condenado a beber a cicuta. É bem certo que as grandes e novas verdades, levantando contra si os interesses e os preconceitos que elas ferem, não podem ser estabelecidas sem lutas e sem mártires.


Para as pessoas interessadas em documentar histórico-culturalmente, identificando bem a origem destas referências a Sócrates e Platão, recomendo a leitura integral do seguinte trabalho de Reinaldo Di Lucia:

Sócrates e Platão: percursores do espiritismo
de REINALDO DI LUCIA – PDF

A Escola de Atenas, de Raffaello Sanzio (pintura de 1509-1511), uma das obras mais extraordinárias do Museu do Vaticano que representa grande número de pensadores, entre os quais Platão e Sócrates.

ALLAN KARDEC’s teachings summarized in “The Spirits’ Book”:

Chapter VI of the Introduction to “The Spirits’ Book” provides a concise summary of the presented references.

Os seres que deste modo comunicam designam-se a si mesmos – como já dissemos – pelo nome de Espíritos ou génios, e como tendo pertencido, pelo menos alguns, a pessoas que viveram na Terra. Constituem o mundo espiritual, como nós constituímos, durante a vida, o mundo corporal. Resumimos a seguir, em poucas palavras, os pontos mais salientes dos ensinamentos que nos transmitiram:

Deus é eterno, imutável, imaterial, único, todo poderoso, soberanamente justo e bom. Criou o Universo que inclui todos os seres animados e inanimados, materiais e imateriais. Os seres materiais constituem o mundo visível ou corporal e os seres imateriais constituem o mundo invisível ou espírita, isto é, dos Espíritos.

O mundo espírita é o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente e sobrevivente a tudo.

O mundo corporal é secundário, poderia deixar de existir ou nunca ter existido sem alterar a essência do mundo espírita. Os Espíritos animam temporariamente um corpo material perecível, cuja morte os devolve à liberdade.

Entre as diferentes espécies de seres corporais, Deus escolheu a espécie humana para a encarnação dos Espíritos que chegaram a um certo grau de desenvolvimento, o que lhe dá superioridade moral e intelectual sobre as outras. A alma é um Espírito encarnado num corpo material.

Há nos seres humanos três coisas:

1º) O corpo ou ser material, semelhante ao dos animais e animado pelo mesmo princípio vital;
2º) A alma ou ser imaterial, Espírito encarnado no corpo;
3º) O sistema de ligação que une a alma ao corpo, o perispírito, princípio intermediário entre a matéria e o Espírito.

O ser humano tem assim duas naturezas: pelo corpo participa da natureza dos animais, dos quais possui os instintos; pela alma participa da natureza dos Espíritos. O sistema de ligação entre corpo e Espírito, o perispírito, é um complexíssimo sistema semimaterial.

A morte é o falecimento do corpo mais denso. O Espírito conserva o organismo de ligação ou perispírito, que lhe serve como corpo semimaterial, de muito baixa densidade, invisível para nós no seu estado normal. O Espírito pode torná-lo circunstancialmente visível e mesmo tangível, como acontece no fenómeno das aparições.

O Espírito não é, portanto, um ser abstrato, indefinido, que só o pensamento pode compreender. É um ser real, definido, que em certos casos pode ser apreendido pelos nossos sentidos da vista, da audição e do tato. Os Espíritos pertencem a diferentes níveis, não sendo iguais em poder, inteligência, saber ou moralidade:

– Os da primeira ordem são os Espíritos superiores que se distinguem dos outros pela perfeição, pelos conhecimentos, pela proximidade de Deus, pela pureza dos sentimentos e pelo seu amor ao bem: são os anjos ou Espíritos puros.

− Os dos outros níveis distanciam-se progressivamente desta perfeição.

– Os dos níveis inferiores são propensos às nossas paixões: o ódio, a inveja, o ciúme, o orgulho, etc. e comprazem-se no mal.

Neste número há os que não são muito bons nem muito maus, são mais perturbadores e intrigantes do que maus. A malícia e as inconsequências parecem ser as suas características: são os Espíritos tolos ou frívolos.

Os Espíritos não pertencem eternamente à mesma ordem. Todos se vão aperfeiçoando, passando pelos diferentes graus da hierarquia espírita. Esta evolução dá-se mediante a encarnação, imposta a uns como expiação e a outros como missão.

A vida material é uma prova a que devem submeter-se repetidas vezes até atingirem a perfeição absoluta: é uma espécie de filtro purificador, do qual vão saindo mais ou menos aperfeiçoados.

Deixando o corpo, a alma regressa ao mundo dos Espíritos, do qual saíra para reiniciar uma nova existência material, após um lapso de tempo mais ou menos longo, durante o qual fica no estado de Espírito errante. Devendo o Espírito passar por muitas encarnações, conclui-se que todos nós tivemos muitas existências e que teremos ainda outras, mais ou menos aperfeiçoadas, seja na Terra, seja noutros mundos. A encarnação dos Espíritos ocorre sempre na espécie humana. Seria um erro acreditar que a alma ou Espírito pudesse encarnar no corpo de um animal. (Ver pergunta 611 e seguintes.)

As diversas existências corporais do Espírito são sempre de evolução positiva e nunca de evolução negativa ou retrógrada: a rapidez desse progresso evolutivo, contudo, depende dos esforços que fazemos para chegar à perfeição. As qualidades da alma são as do Espírito que está encarnado em nós. Assim, o homem de bem é a encarnação de um bom Espírito e o homem perverso a de um Espírito impuro.

A alma tinha a sua individualidade antes da encarnação e conserva-a após a separação do corpo. No seu regresso ao mundo dos Espíritos, a alma reencontra ali todos os que conheceu na Terra e todas as suas existências anteriores desfilam na sua memória, com a recordação de todo o bem e de todo o mal que fez. (Ver perguntas 305 a 307)

O Espírito encarnado está sob a influência da matéria. O ser humano que supera essa influência, pela elevação e purificação da sua alma, aproxima-se dos bons Espíritos com os quais estará um dia. Aquele que se deixa dominar pelas más paixões, e põe todas as suas alegrias na satisfação dos apetites mais rudes, aproxima-se dos Espíritos impuros, dando preponderância à sua natureza animal.

Os Espíritos encarnados habitam a multiplicidade dos astros do Universo.

Os Espíritos não encarnados ou errantes não ocupam nenhuma região determinada ou circunscrita. Estão por toda a parte, no espaço e ao nosso lado, vendo-nos e convivendo connosco com grande proximidade: é toda uma população invisível que se agita em nosso redor.

Os Espíritos exercem sobre o mundo moral e mesmo sobre o mundo físico uma ação incessante. Agem sobre a matéria e sobre o pensamento e constituem uma das forças da natureza, causa eficiente de uma multidão de fenómenos até agora inexplicados ou mal explicados, que só encontram solução racional no espiritismo.

As relações dos Espíritos com os homens são constantes. Os bons Espíritos estimulam-nos para o bem, apoiam-nos nas provas da vida e ajudam-nos a suportá-las com coragem e resignação. Os maus instigam-nos ao mal: para eles é um prazer ver-nos sucumbir e tornarmo-nos iguais a eles.

As comunicações dos Espíritos com os homens são ocultas ou ostensivas. As comunicações ocultas têm lugar pela boa ou má influência que exercem sobre nós sem o sabermos, cabendo ao nosso julgamento discernir as más e as boas inspirações. As ostensivas realizam-se por meio da escrita, da palavra ou de outras manifestações materiais, na maioria das vezes através dos médiuns que lhes servem de instrumentos.

Os Espíritos manifestam-se espontaneamente ou pela evocação.

Podemos evocar todos os Espíritos:

− Os que animaram homens obscuros e os das personagens mais ilustres, qualquer que seja a época em que tenham vivido;

− Os dos nossos parentes, dos nossos amigos ou inimigos e deles obter, por comunicações escritas ou verbais, conselhos, informações sobre a situação em que se acham além túmulo, sobre os seus pensamentos a nosso respeito, assim como as revelações que lhes seja permitido fazer-nos.

Os Espíritos são atraídos em função da sua simpatia pela natureza moral do meio que os evoca. Os Espíritos superiores gostam das reuniões sérias, dominadas pelo amor do bem e pelo desejo sincero de instrução e de melhoria. A sua presença afasta os Espíritos inferiores que, pelo contrário, têm acesso fácil e liberdade de ação entre pessoas frívolas guiadas apenas pela curiosidade, onde quer que predominem os maus instintos.

Longe de obter bons conselhos e informações úteis, só é possível esperar desses Espíritos futilidades, mentiras, brincadeiras de mau gosto ou mistificações, pois servem-se frequentemente de nomes veneráveis para melhor induzirem em erro.

Distinguir os bons dos maus Espíritos é extremamente fácil. A linguagem dos Espíritos superiores é constantemente digna, nobre, cheia da mais alta moralidade, livre de qualquer paixão inferior. Os seus conselhos revelam a mais pura sabedoria e têm sempre por alvo o nosso progresso e o bem da Humanidade.

A dos Espíritos inferiores, pelo contrário, é inconsequente, muitas vezes banal e mesmo grosseira; se dizem às vezes coisas boas e verdadeiras, dizem com mais frequência falsidades e absurdos, por malícia ou por ignorância. Zombam da credulidade e divertem-se à custa dos que os interrogam, lisonjeando-lhes a vaidade e alimentando os seus desejos com falsas esperanças. Em resumo, as comunicações sérias, na verdadeira aceção da palavra, só se verificam nos centros sérios, cujos membros estão unidos por uma íntima comunhão de pensamentos dirigidos para o bem.

A moral dos Espíritos superiores resume-se, como a de Jesus, nesta máxima evangélica: “Fazer aos outros o que desejamos que os outros nos façam”, ou seja, fazer o bem e não o mal. O ser humano encontra nesse princípio a regra universal de conduta, mesmo para as ações menores.

Os Espíritos superiores ensinam-nos que:
─ O egoísmo, o orgulho e a sensualidade são paixões que nos aproximam da natureza animal, prendendo-nos à matéria;
─ Aqueles que neste mundo se libertam da matéria, pelo desprezo das futilidades mundanas e pelo exercício do amor ao próximo, se aproximam da natureza espiritual;
─ Cada um de nós se deve tornar útil segundo as faculdades e os meios que Deus nos colocou nas mãos, como prova;
─ O forte e o poderoso devem apoio e proteção ao fraco, porque aquele que abusa da sua força e do seu poder para oprimir o seu semelhante viola a lei de Deus.

Ensinam-nos, enfim:
─ No mundo dos Espíritos, onde nada pode estar escondido, o hipócrita será desmascarado e todas as suas torpezas reveladas;
─ A presença inevitável e incessante daqueles que prejudicámos é um dos castigos que nos estão reservados;
─ Ao estado de inferioridade e de superioridade dos Espíritos correspondem penas e alegrias que nos são desconhecidas na Terra.

Os Espíritos superiores ensinam-nos, também, que não há faltas cujo perdão seja impossível e que não possam ser apagadas pela expiação. É nas sucessivas existências que o ser humano encontra os meios que lhe permitem avançar, segundo o seu desejo e os seus esforços, no caminho do progresso que conduz à perfeição, que é o seu objetivo final.”

Este é o resumo do espiritismo tal como resulta do ensino dado pelos Espíritos superiores.

Prefácio dos tradutores de “O Livro dos Espíritos”

Prefácio dos tradutores

Com sugestões de leitura e requisitos essenciais para entender a obra

Esta nova tradução de O Livro dos Espíritos, da autoria de Hipólito Leão Denisard Rivail, sob o pseudónimo de Allan Kardec, foi feita pelos abaixo-assinados diretamente da língua francesa, conforme a segunda edição original de 1860, de modo a torná-lo acessível a todas as pessoas que falam a língua portuguesa dos dias de hoje, isto é, do ano de 2018.
Destina-se tanto a leitores espíritas como não espíritas, tendo sido este pre­fácio especialmente redigido para pessoas não espíritas, dando a conhecer as condições essenciais para aceder à mensagem da obra e aos seus ensinamentos. Além da renovação linguística, esta versão do livro contém algumas dezenas de comentários de contextualização cultural, publicadas no fim do mesmo e designadas como “Notas finais”. Têm a finalidade de esclarecer certas palavras e ideias que se encontram deslocadas ou desatualizadas, devido à antiguidade histórica do escrito original.
O que aqui fica dito resulta da imensa admiração e respeito que temos pelo ensinamento dos Espíritos, na forma que foi metodicamente organizada por Hipólito Leão Dénisard Rivail, aliás Allan Kardec.
Como autores da tradução, deste prefácio e das Notas finais, obedecemos exclusivamente, na forma e no conteúdo desse trabalho, à nossa consciência cultural e moral, visto que não somos membros de qualquer organização religiosa, ideológica ou política.

O espiritismo falado em português de Portugal

Tendo procurado traduções de acordo com o português de Portugal dos dias de hoje, só encontrámos versões revistas para português, mas visivelmente subsidiárias das antigas traduções brasileiras, com todas as respectivas características.
Pensamos que não é prestigiante para os espíritas portugueses terem dei­xado passar tanto tempo sem afirmarem uma desejável autonomia cultural, que tivesse realizado a tradução completa de todos os muito notáveis trabalhos de Allan Kardec, incluindo a Revista Espírita, que teriam ganho, junto dos utilizadores da es­plêndida língua portuguesa, mais vigor e trato familiar.

Carácter da obra e suas qualidades essenciais

O Livro dos Espíritos trata de assuntos de índole universal, cujo conhecimen­to é indispensável a todos os seres humanos conscientes do seu devir ontológico.
O Livro dos Espíritos fornece informações concretas e baseadas em factos, explicando de onde viemos antes de nascer e para onde vamos depois da morte, bastando uma consulta cuidadosa ao índice para ter uma ideia dos seus conteúdos científico-filosóficos e bem assim dos seus objectivos morais.
Pormenoriza a natureza e o significado de fenómenos de todos os dias, dos mais simples aos mais complexos, e qual a atitude mais recomendável para enfrentá-los. Esclarece-nos acerca da alegria, da tristeza, da saúde e das enfermidades, da razão de existirem ricos e pobres e por que razão há pessoas que nascem belas, inteligentes e afortunadas e há outras que nascem com dificuldades, tristezas e até desfiguradas fisicamente.
O Livro dos Espíritos fala com profundidade do bem e do mal, ajudando-nos a compreender a sua complexidade, por vezes desconcertante. A cultura que nos apresenta tem o intuito de melhorar o entendimento do mundo e de reforçar a nossa consciência em clima de responsabilidade sem medo; não obriga ninguém a nada, não é uma religião, não configura um catecismo; apresenta uma visão otimista da vida e alarga os caminhos que conduzem à paz dos indivíduos e da sociedade no seu conjunto.

[1 – O espiritismo é uma religião?]

(NOTA: esta numeração passa a ser inscrita em certos pontos do texto e diz respeito às “Notas Finais” de contextualização cultural, que convirá ir consultando.)

Sugestões para a leitura de O Livro dos Espíritos:

Para quem começa, este não é um livro para ler de empreitada, como uma peregrinação e, muito menos, como uma penitência. Alguns conselhos que aqui registamos aumentarão a receptividade de muitos leitores, dando-lhes a exata noção do que vão encontrar pela frente.
Allan Kardec dedicou uma parte muito importante da sua argumentação com os leitores dirigindo-se, naturalmente, às pessoas do seu tempo. Um número significativo de textos é dirigido aos “opositores”, aos “incrédulos” e aos “adversários” do espiritismo. Nesse tempo, diferentemente do que se passa hoje, escasseavam as actividades lúdicas, e a comunicação social, como a conhecemos hoje, estava à distância de muitos anos. Havia, portanto, certas pessoas que, com a popularidade das “mesas girantes” e das “reuniões espíritas” em geral, se aproximavam desse fenómeno para o contestar, argumentando das mais diversas formas.
É a essas pessoas que Allan Kardec se dirigia em larga porção da “Introdução”, da “Conclusão” e de muitos parágrafos dos extensos comentários espalhados ao longo do Livro.
O leitor da actualidade, posto de sobreaviso, vai compreender o que foi escrito e saberá levar esses textos na devida conta. Estar a argumentar com opositores incrédulos e adversários do espiritismo não faz sentido nenhum na actualidade, porque esses, muito dificilmente abrirão sequer “O Livro dos Espíritos”.
O livro propriamente dito só começa depois de toda a complicada “Introdução” e vem a seguir a um pequeno texto chamado “Prolegómenos”, palavra que quer dizer: “introdução” ou “noções preliminares de uma obra ou de uma ciência”.
O leitor deve ter a liberdade de procurar inicialmente no livro o que mais lhe interessar, lendo por aqui e por ali os temas mais apetecíveis. Poderá, para esse efeito, consultar primeiramente o Índice.

Leia e releia com atenção o que achar mais válido e interessante.

Se não estiver de acordo com o que está explicado em certo ponto, tenha a coragem de prosseguir. Adie as certezas difíceis de atingir com facilidade imediata, para que a longa jornada da vida possa abrir-lhe uma outra maneira de ver as coisas que agora não alcança, mas que tanta falta lhe fazem: o sentido otimista da vida, a esperança, a serenidade e a confiança. Se quiser prosseguir desse modo, é nossa convicta opinião que a leitura deste livro poderá ser um precioso auxiliar para atingir esses objetivos.
Não se pode esperar que a vida e o mundo, a natureza e todo o Universo sejam de entendimento imediato e fácil. Deve, pois, continuar a explorar, mais na atitude de quem estuda do que na atitude de quem lê por simples curiosidade.
O leitor que queira aprender, realmente, deve estar preparado para relacionar diversas partes do livro entre si, tentando encontrar relações coerentes entre os diversos ensinamentos. Só depois de ter feito estas explorações iniciais, com todo o interesse e vontade, valerá a pena ler o livro de uma assentada, ou passar, em alternativa favorável, à leitura de todos os escritos de Allan Kardec, incluindo o formidável conjunto da Revista Espírita, também publicada em vida pelo seu autor.

Requisitos essenciais para entender o livro e a origem dos seus ensinamentos

Sendo muito difícil avaliar a complexidade extraordinária do Universo e configurar com facilidade o significado da vida e da morte, há pessoas que desistem de compreender a realidade como projeto coerente, justo e generoso.
A ciência de observação baseada no estudo dos fenómenos espirituais, associada à enorme coerência de tudo o que nos rodeia desde o átomo às estrelas permite, pelo contrário, concluir que nada acontece de forma gratuita ou casual.
A par dessa conclusão fortemente documentável, todos nós necessitamos de construir reservas de convicção e de energia que nos auxiliem a vencer os obs­táculos com êxito, podendo, desejavelmente, ajudar quem nos rodeia, familia­res, amigos e a sociedade, com vista ao progresso, à felicidade, à verdade e à justi­ça, tais como se encontram fielmente configurados pelo conhecimento espírita.
A conclusão contrária de que o mundo e a vida resultam de acasos sem nexo, sem origem nem destino perfeitamente harmonizados, é uma desistência negligente que conduz à desmoralização, à dureza e ao medo.
As provas da coerência do plano das vidas e da natureza são tão volumosas e eloquentes, estão aqui tão próximas de cada um de nós, que não será necessário gastarmos muito tempo argumentando em seu favor. Os que ainda não atingiram esta ideia comecem a prestar atenção: ler “O Livro dos Espíritos” pode ser um bom começo.
Pensamos, portanto, de forma inabalável, que tudo o que existe deriva de uma inteligência suprema criadora de todas as coisas.
Fiquemos agora apenas por essa expressão, à qual não é necessário dar nome. É mais um sentimento que uma ideia definida que reside no íntimo intuitivo da sensibilidade. Deixemos que ela permaneça aí, onde melhor se compreende e onde mais perto está de tudo o que somos.
Quanto ao leitor que ainda duvida, esperamos com toda a convicção que nos encontre mais tarde, comungando da mesma fé que nos anima, com esperança e vontade esclarecida, harmonia e paz no coração. A criação magnânima da vontade superior que nos trouxe aqui não tem pressa. A jornada, que começou não se sabe onde nem como, continuará a desenvolver-se por todo o sempre. Tenhamos, pois, a serenidade que corresponde a esse devir sem limites nem fronteiras.
Como parte mais técnica e prática, sem cujo entendimento é impossível avançar para a leitura, é favor considerar o seguinte: apesar de dotados de importantíssimo património de capacidades orgânicas e racionais, os seres humanos entendem o Universo com ferramentas muito modestas e limitadas.
Os nossos cinco sentidos, a vista, o ouvido, o olfato, o paladar e o tato, deixam-nos a distâncias inimagináveis da realidade das coisas concretas, do mais perto ao mais longínquo, do mais pequeno ao infinitamente grande.
Tudo o que existe é muito mais do que podemos entender com essas limitadas ferramentas sensoriais, por muito completas e exigentes que sejam a nossa imaginação e a nossa inteligência.
No Universo (ou nos Universos?…) é muito mais aquilo que não se vê e não se entende, do que aquilo que se percebe e se sente com a vista e com o entendimento. A espantosa marcha da ciência tem dado passos de gigante ao tentar aproximar-se dessa enormidade de segredos. Mas quanto mais avança, mais profunda é a noção das coisas ignoradas.
Teremos que regressar ao grande Sócrates e à ideia que lhe conferiu a categoria do homem mais sábio de toda a Grécia: aquele que tinha a noção máxima de tudo o que desconhecia.
Existimos, pois, antes de nascermos neste mundo, num outro plano de que não temos conhecimento, no qual continuaremos a existir depois de falecido o corpo que nos serve de veículo existencial. O nascimento e a morte, portanto, não são o começo e o fim de tudo, e esse é um dos ensinamentos fundamentais de “O Livro dos Espíritos”.
Para confirmar factualmente essa realidade são conhecidas fontes de informação, de cuja existência há provas abundantes, que estão documentadas ao longo de toda a existência da Humanidade.

A mediunidade e a troca direta de informações entre o mundo dos vivos e o dos mortos

Havendo pessoas especialmente dotadas com mais um do que os normalíssimos cinco sentidos, têm por isso a capacidade, incompreensível para a maioria, de poderem sentir, ver e até dar voz às entidades espirituais que, depois da vida material, passam a existir no plano a que chamamos “mundo espiritual”.
Essa capacidade, esse sentido raro, chama-se “mediunidade”, porque são chamados “médiuns” os que a possuem.
Médium é uma palavra latina que signifíca “meio”, e que serve para designar o “in­termediário” ou “tradutor” das inumeráveis mensagens que têm sido trocadas entre os dois planos da existência, de forma que pode ser comprovada pela realidade dos factos.
A mediunidade é muito mais abundante do que se julga, tem graus de operacionalidade e modalidades muito diversas e já foi estudada em meio científico por diversas autoridades isentas e da maior competência, para além de se tornar evidente para qualquer pessoa que dela tenha o conhecimento direto.
“Mundo material” é o nosso, o do corpo físico que conhecemos, o mundo das coisas que vemos e palpamos à nossa volta.
O “mundo espiritual” é o mundo que não vemos, mas que se faz sentir po­derosamente, porque é nele que existimos antes e iremos existir depois, por toda a eternidade. Os contactos entre o “mundo material” e o “mundo espiritual” são contínuos e realizam-se de diversas formas desde há uma imensidade de anos.
O autor de “O Livro dos Espíritos”, Hipólito Leão Denisard Rivail, aliás Allan Kardec, organizou e sistematizou de modo filosófico um grande conjunto de apontamentos tirados de conversas tidas, ao longo de anos, entre pessoas vivas e entidades espirituais, que puderam “conversar” normalissimamente por intermédio de médiuns. Esse trabalho foi desenvolvido em França, em meados do século dezanove. O autor referido designou essa cultura como sendo: “o espiritismo, ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como das suas relações com o mundo corporal”.
É destas conversas, e dos comentários feitos pelo autor da obra a respeito das ideias por ele organizadas, que é feito “O Livro dos Espíritos”.
Segundo as conclusões seguras a que o “espiritismo” chegou, todos nós somos Espíritos, temporariamente ocupados por um breve intervalo de aprendizagens e experiências diversas através da vida no nosso corpo material.
Depois regressaremos, em paz e na maior das liberdades, ao nosso estado natural e mais permanente de Espíritos. Não se esqueçam: com letra maiúscula, por todas as razões mais nobres e mais válidas.

Notas breves sobre o método de tradução que seguimos

Sendo o francês e o português línguas da mesma família latina, tivemos a preocupação de fugir ao critério erróneo da “tradução à letra”, respeitando o fundo e não a forma das palavras do grande livro, tal como os ensinamentos nele contidos recomendam. O autor teve o intuito de escrever um livro que fosse acessível a todos os leitores da sua época. Sabemos, contudo, as profundas modificações que registaram, entretanto, todas as técnicas de comunicação. A frase mais curta, a economia de recursos de carácter retórico e enfático, a sim­plificação dos tempos verbais e muitos outros meios, foram usados por nós para facilitar a aproximação aos leitores, respeitando, entretanto, o carácter próprio que foi conferido à obra pelo seu autor.
Para além das versões em português, procurámos esclarecer muitos dos seus aspetos através de traduções noutras línguas e da pesquisa de outras obras do mesmo autor.
Consultámos, por exemplo, a tradução em castelhano de Alberto Giordano, publicada na Argentina em 1970 e influenciada pela que foi feita pelo professor brasileiro José Herculano Pires, que também analisámos com cuidado; e a excelente tradução em língua inglesa da autoria da jornalista Anna Blackwell, profunda co­nhecedora da cultura espírita, que foi contemporânea e amiga da família Rivail du­rante o tempo que viveu em Paris. A edição de que nos servimos tinha por intuito revelar a obra de Allan Kardec no universo cultural anglo-saxónico e foi publicada em Boston em 1893, mas o prefácio da autora está assinado de 1875, em Paris.
Também lemos as conhecidíssimas traduções de Guillón Ribeiro, a seu tempo dirigente da Federação Espírita Brasileira que, quando pelas primeiras vezes nos vieram à mão, desde logo despertaram em nós a determinação de fazer uma tradução para português de Portugal dos nossos dias. Com o devido respeito por esse trabalho, não foi o modelo que procurámos seguir, por razões muito concretas, mas que não é oportuno detalhar nesta breve apresentação.

A escolha das palavras

Sabendo que as palavras têm alma, usámos uma estrutura lexical coerente com o carácter filosófico e moral da obra, no contexto da sua visão otimista da magnânima obra da criação e do glorioso destino da Humanidade.
No texto original de Allan Kardec, por tendências de época que serão compreensíveis e estão bem estudadas, é usado em certas passagens do Livro algum vocabulário herdado das teorias penalizantes do universo filosófico das antigas religiões.
O aproveitamento dessas expressões nas traduções dos dias de hoje, deixou em absoluto de fazer sentido. Prosseguimos, nesta edição, no uso de referências lexicais compatíveis com a cultura que nos orienta com todo o rigor moral e toda a exigência intelectual. Porém, com uma visão do mundo, que encoraje a conquista da paz e do progresso pelo raciocínio, e da ultrapassagem do erro pelo conhecimento racional. Para colocar esta questão plano histórico cultural, sugerimos a leitura da Nota Final nº 39, que trata da “queda do homem”, e do ensino primordial das religiões dogmáticas.

Allan Kardec

Hipólito Leão Denisard Rivail,

organizador dos ensinamentos dos Espíritos

No início deste prefácio de tradutores escolhemos a grafia do nome Hipólito Leão Denisard Rivail, com os dois nomes próprios traduzidos e Denisard com “s”, como está na sua certidão de nascimento. Fizemos isso por ser a versão que nos parece mais perto da nossa língua e, especialmente, porque nos temos habituado a pensar nele como um semelhante, nosso amigo íntimo.
O destino fez com que Hipólito Leão/Allan Kardec tivesse ficado sem biografia oficial propriamente dita, feita por um contemporâneo seu. Por algu­ma coisa foi: a obra é o que interessa, ditada por narradores invisíveis, configu­rada pelo autor que organizou a mensagem.
Vale muito a pena ler tudo o que deixou escrito, sobretudo este “Livro dos Espíritos”, trabalho estruturador da mensagem de que se encarregou. De cada vez que se lê, novas coisas se descobrem e melhor se entendem o todo e os por­menores. Será estudo útil para os que desejam encontrar o fio da vida, tantas vezes encarada como drama sem solução, e serem capazes de construir agora um destino que valha a pena, com alegria e entusiasmo, porque há um depois!…
Hipólito Leão começou a interessar-se pelo tema que iria tratar de forma tão brilhante e generosa numa posição distanciada de qualquer crença, outros- sim cuidadosamente positivista e até cautelosamente cético, numa idade de ple­na maturidade, apenas por ter sido insistentemente convidado por amigos para esse efeito.
O trabalho, que começou aos 55 anos de idade (numa época em que a esperança de vida era muito inferior à da atualidade), foi levado a cabo com de­dicação total, mediante um esforço hercúleo, sem medida, que de certa forma conduziu ao desenlace da sua vida.
Convém referir que o modelo expositivo que serve à estruturação de O Livro dos Espíritos, desenvolvido nas restantes obras de Allan Kardec, obedece ao formato que durante os séculos XVIII e XIX constituía os princípios da exposição cientifica clássica, definindo ordenadamente:

1° – A escolha do objeto de estudo, que se conclui ser o Espírito, tratado no Livro Primeiro (As Causas Primárias);
2° – A análise do objeto de estudo, ou seja, a consideração e avaliação de toda a fenomenologia que constitui a sua razão de ser, que é tratada no Livro Segundo (O Mundo Espírita ou dos Espíritos);
3° – O estabelecimento das leis que regulam esse conjunto de fenómenos, que é feito no Livro Terceiro (sobre as Leis Morais);
4° – A dedução das consequências da aplicação dessas leis, que é feita no Livro Quarto (sobre as Esperanças e Consolações).

O critério de Hipólito Leão, em todo o imenso trabalho que efetuou, nun­ca foi o de se promover pessoalmente à condição de dirigente ou autoridade ideológica e muito menos religiosa. A metodologia utilizada para a estrutura­ção do “corpus” de informações e saberes científico-filosóficos que levou a cabo foi isenta de segundos sentidos de proveito pessoal ou institucional.

O professor Hipólito Rivail desaconselhou os grandes coletivos espiritas

Obedecendo a critérios que foi enunciando em diversas intervenções, nunca favoreceu o agrupamento de grande número de adeptos em instituições federativas as quais, de antemão, declarou perniciosas, por facilitarem a arqui­tetura do poder e a manipulação das consciências.
Toda a realidade que se seguiu ao seu falecimento, quer em França, quer no estrangeiro, deu plena razão às previsões e avisos que formulou.
Os pequenos grupos de cidadãos, harmonicamente associados numa con­vivência produtiva de pensamento claro e de reta consciência, na obediência da razão crítica e do diálogo construtivo, formam o modelo mais claramente por si recomendado para constituir a sociedade espírita.
Em síntese, fique esclarecido que a obra traduzida e a filosofia que encerra oferecem uma visão otimista da vida, liberta de dogmatismo, verdadeiramente emancipadora da Humanidade e produtora de paz, na igualdade entre todos os seres humanos.
Consideramos ainda que O Livro dos Espíritos defende, com o máximo respeito, a integridade ecológica do planeta que habitamos, o direito à dignida­de, à justiça e à máxima felicidade de todos os seres que nele habitam.
A característica essencial desta tradução, que sugere a passagem de toda a obra de Kardec para o português de Portugal/2018, num clima cultural aberto, é propor o regresso metódico a uma obra muito conhecida pelo seu nome, mas escassamente debatida; abrindo o seu acesso, se possível, a novos públicos e a jovens inquietos pelo grande mistério da sua origem e do seu destino.
Para esta terceira edição foram cuidadosamente revistos e ampliados os seus conteúdos de referenciação cultural, além de se ter procurado com mais abertura uma versão mais próxima da nossa linguagem de todos os dias, usando as prodigiosas qualidades estético-culturais de que dispõe a magnífica língua portuguesa.
Consideramos, não obstante, que a nossa tarefa de ler atentamente o que nos deixou Allan Kardec, não fica por aqui. A sua leitura em português dos nossos dias faz parte de um debate de ideias que gostaríamos de ver par­tilhado e enriquecido pelo maior número de leitores, espíritas e não espíritas.

O destino adequado para O Livro dos Espíritos não é permanecer imóvel, como peça sacralizada de ideias petrificadas. Julgamos que deve ser entendido por todos os seus leitores de antes, de agora e do futuro, como uma obra ener­gicamente VIVA e justificadamente ABERTA.

Entregamo-lo a todos os prezados leitores com os melhores votos de feliz e proveitosa leitura

José da Costa Brites e Maria da Conceição Brites
Setembro de 2018

“O Céu e o Inferno” de Allan Kardec, em português de Portugal

Caríssimos leitores,

Tendo começado há algum tempo a tradução para a língua portuguesa de Portugal dos nossos dias, das cinco obras principais da cultura espírita da autoria de Allan Kardec, apresentamos agora a versão digital da última delas, o “Céu e o Inferno, ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo”.
A primeira das obras por nós traduzida foi editada em papel em Abril de 2017, com o apoio de amigos espíritas do Norte de Portugal, membros ativos da ASEB de Braga, tendo-se esgotado essa edição pouco tempo depois.
Não sendo membros de nenhuma organização espírita, mas não nos faltando meios para divulgar a nossa obra em todo o mundo de língua portuguesa através do nosso site na internet, não hesitámos em passar a publicar as nossas traduções em https://palavraluz.com, e em https://espiritismocultura.com , a que demos o carácter de iniciativa sem objetivos materiais.
As muito largas centenas de obras que já foram descarregadas daqueles livros nos nossos blogues, por todo o mundo, sem que saibamos sequer o seu número exato, nada custaram aos interessados, e enchem-nos de satisfação.

A ADULTERAÇÃO DAS DUAS ÚLTIMAS OBRAS DE ALLAN KARDEC, APÓS A SUA MORTE

Este fenómeno é dificílimo de compreender, agora como no tempo em que ocorreu, sem levarmos em conta o muito escasso interesse que o espiritismo suscitou, sobretudo em França, ao longo de tempos muitíssimo conturbados por conflitos imensos de toda a ordem.
O espiritismo é, no país em que nasceu, uma minoria sem categoria estatística, e o grande interesse que merece o espiritualismo científico quer na Europa quer noutros continentes, é algo que só minorias muito isoladas associam a Allan Kardec.
As piores consequências dessas adulterações, tiveram os seus efeitos no Brasil, onde a percentagem de pessoas interessadas naquilo que se chama ali “o espiritismo”, e que tem variadíssimas facetas, chegou a alcançar uma expressão estatística como em nenhuma outra parte do mundo.
A precedência histórica e social nesse vastíssimo país, era marcada pela poderosa influência do catolicismo, o que facilitou, quase naturalmente, a insinuação da trágica deformação do “roustainguismo”, inventada em França, como o próprio espiritismo, mas que naquele país não teve os mesmos efeitos e projeções que no Brasil.
Se um bom número de franceses tivesse tomado a devida nota do conteúdo e do significado das autênticas obras espíritas, as falsificações que ocorreram logo após a morte do seu autor, não teriam a mínima hipótese, porque teriam defendido – como era justo – uma grande obra universalista, que seguirá em frente, ajudada pelos bons Espíritos, com grande esperança e fervor da nossa parte.
Os próprios contemporâneos franceses que sobreviveram a Allan Kardec e que tinham o conhecimento exato do conteúdo dos seus livros, alguns houve que deram conta das movimentações dos péssimos sucessores herdeiros de Kardec e, tendo tomados posições claras, não conseguiram fazer-se ouvir nem impor as suas razões.
A instabilidade geral da França em termos político-estratégicos e sócio-económicos, nessa época, teve efeitos avassaladores e o espiritismo, praticamente, foi esquecido.
O Roustainguismo e a teosofia, entre várias outras formas de adulteração do espiritualismo, tiveram a sua vida facilitada e foram ostensivamente divulgadas na revista que sucedeu àquela que Kardec tinha fundado. Não tiveram uma propagação notável, mas ajudaram muitíssimo a desprestigiar o verdadeiro espiritismo.

OS TRABALHADORES HUMILDES – OS MAIS DEVOTADOS SEGUIDORES DO ESPIRITISMO

 Em França, a classe que principalmente apoiava e tinha interesse no espiritismo era a dos trabalhadores humildes dos principais sectores da economia. Conflitos tremendos e confrontações sangrentas a nível nacional e internacional transtornaram de tal forma toda a sociedade – e sobretudo as classes trabalhadoras – que não foi possível evitar o pior que, neste caso também foi essencialmente prejudicial para a cultura espírita em todo o mundo.

Um século e meio depois, com a disponibilidade evidente de originais franceses das obras autênticas de Kardec em certas bibliotecas públicas e particulares, se o espiritismo fosse matéria devidamente estudada na Europa, o nome de Allan Kardec não seria tão escandalosamente ausente em quase todas as obras que falam no espiritualismo nas suas várias facetas, que hoje se afirmam das mais diversas maneiras em várias sociedades.

Dedicamo-nos há vinte anos à investigação de tais matérias e temos originais franceses não adulterados, que foram aqueles pelos quais fizemos as nossas traduções.

Para dispor deles não tivemos que sair da nossa longínqua terra portuguesa. Quem faz as buscas na internet em mais do que uma língua, pode consegui-los sem dotes milagrosos, basta ter interesse e saber escolher.

Sempre encarámos o Espiritismo com maiúscula, como ele é para nós, e sempre tivemos o roustainguismo, com seus sucedâneos e afins, como incompreensíveis aberrações.

Já publicámos a tradução em português de Portugal de “A Génese” expurgada dessas adulterações, publicando agora a tradução de “O Céu e o Inferno”, igualmente fiel à às palavras de Allan Kardec.

Chamamos a atenção para um estudo exaustivo de todas as modificações introduzidas pelas adulterações em “A Génese”:

É favor ver: https://palavraluz.com/2021/01/13/compgeneseporponto/

É evidente que tentaremos publicar simultaneamente com esta tradução um trabalho semelhante aplicado ao texto de “O Céu e o Inferno”.

Um prefácio que esclarecesse todos os factos desta área de problemas, teria a dimensão de uma obra extensíssima, que não só referisse a sua origem histórica, como as gravíssimas consequências prejudiciais a uma cultura importantíssima que se viu desfigurada de alto a baixo, durante mais de século e meio após o seu início.

Isto deu-se pelas movimentações originadas no Brasil, da parte de entidades federadas, que conseguiram poderes invulgares de intervenção e vantagens materiais que têm tido reflexos em diversos outros países, atendendo à vitalidade comunicativa dos brasileiros.

A NOSSA TRADUÇÃO DE “O CÉU E O INFERNO”

Esta tradução da última das grandes cinco obras de Allan Kardec, foi feita, em princípio, para nossa própria utilidade de aprendizes de uma sabedoria que achamos fundamental para o entendimento e construção das vidas da atualidade e de todas as outras que se seguem.

Não temos como objetivo criar uma escola, ou formar uma tendência. As nossas traduções foram feitas como leitura aprofundada dos originais para nossa própria conveniência, largamente acompanhados pela leitura atenta da Revista Espírita, também publicada por Allan Kardec.

Temos seguido o princípio de redigir prefácios que revelam a visão que temos de cada uma dessas magníficas obras, ao mesmo tempo que procuramos tomar conhecimento do desenvolvimento de ideias convergentes com esta, de base científica.

A reincarnação, as memórias de outras vidas e até a própria semelhança fisiológica e os sinais corporais de fenómenos ocorridos em vidas anteriores, têm sido investigadas a nível académico-científico em vários países muito desenvolvidos, bem como muitos outros fenómenos cuja naturalidade não poderia escapar a uma imensidade de observadores, durante muitos séculos. Basta procurar ler o que existe a este respeito em várias das línguas mais conhecidas no mundo, na imensíssima área de pesquisa que é a Internet.

NDE * EQM * Espiritismo – revisto e simplificado

A CHAMADA “REVOLUÇÃO ESPÍRITA”

Apareceu recentemente no Brasil um movimento esclarecedor das gravíssimas adulterações das duas últimas obras de Allan Kardec, logo depois do seu falecimento, “A Génese” e “O Céu e o Inferno”.

Temos seguido todo esse fenómeno, embora para nós – que temos investigado sempre por fontes legítimas pesquisadas em arquivos franceses – não constituiu de forma nenhuma novidade.

Podíamo-nos ter enganado, é evidente, e até nem vale a pena acrescentar razões. As recentes investigações de SIMONI PRIVATO GOIDANICH e de LUCAS SAMPAIO, feitas nos arquivos franceses vieram consagrar as escolhas que fizéramos antes, confirmando a felicidade óbvia das nossas pesquisas de exemplares originais.

A EXTRAORDINÁRIA IMPORTÂNCIA DA OBRA DE PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO

A mais importante série de obras que, para nós, tem vindo a transformar positivamente a visão do espiritualismo racional no Brasil deve-se a PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO.

Recorrendo a um processo naturalíssimo de referenciação histórico-cultural, PHF remete o início da odisseia do espiritualismo racional para muito mais atrás de Allan Kardec, recuperando com especial incidência a figura de Franz Anton Mesmer e fazendo, muito adequadamente, pela citação que fez já na página 141 da sua obra que lhe dedica, da menção que Allan Kardec inscreve a seu respeito na primeira de todas as suas Revistas Espíritas

Em “MESMER – A ciência negada do magnetismo animal”, PHF recheia páginas e páginas de uma magnífica e sempre apressada sequência de citações e alusões preciosas à cultura desse tempo, dando coragem ao leitor para não julgar – como é tão frequente – a marcha empolgante das ideias como uma corrida ladeiras abaixo de precipitações inevitáveis.

Esta tendência revela uma inteligência natural que infelizmente, não se tornou eficaz na construção da ideia do espiritismo no Brasil, pela distância a que se encontra da Europa.

Notemos que já na Alemanha, logo ali ao lado, a história do Espiritismo é profundamente diferente daquela que milhões de vezes tem sido dita e repetida em sites e publicações brasileiras.  Os fenómenos que são indicados na Alemanha como despertar do espiritismo são muito mais antigos e culturalmente variados, em cerca de quase trezentos anos. [1]

A sua passagem à obra “REVOLUÇÃO ESPÍRITA – A teoria esquecida de allan kardec” é uma tentativa apaixonada para preencher esse esquecimento, enriquecendo a perspectiva habitualmente traçada em vôo de pássaro por sobre acontecimentos arriscadamente simplificados da história “habitual” do espiritismo.

Como nós temos tentado fazer, há imensidade de exemplos, desde os tempos mais remotos da Antiguidade ao progresso evidente de todas as ciências e da evolução do pensamento nos últimos séculos, que revelam o Espírito como cenário principal da vida profunda e da evolução sem fim.

Nesse grande Teatro de ideias sempre disponível para os Espíritos abertos, como seria possível prestar atenção, um instante que fosse, à perspectiva cruel dos dogmatismos absurdos?

Como poderia acreditar-se num Deus que criasse Céus para espíritos de cores imóveis e luz fluorescente, e Infernos povoados de criaturas abandonadas, tristes inocentes devorados pela solidão da dor e do medo?

SIMÓNI PRIVATO GOIDANICH e LUCAS SAMPAIO

Um dos livros mais importantes publicados no Brasil a respeito do espiritismo, foi “O LEGADO DE ALLAN KARDEC”, resultante das investigações feitas nos arquivos franceses a respeito das adulterações feitas em França dos dois últimos livros daquele autor. Na mesma linha foram feitas investigações, também em França, por Lucas Sampaio que, juntamente com Paulo Henrique Figueiredo publicaram um texto chave para todas estas questões, com a obra “Nem Céu nem Inferno”.

Com a menção deste título, acabamos de configurar um enorme horizonte de investigações sobre o espiritismo, para qualquer leitor português que queira familiarizar-se com estes assuntos.

A NATUREZA DE TODOS OS SERES, A SUA ORIGEM E O SEU DESTINO

Julgamos que este título agrupa um conjunto de interesses culturais e filosófico-científicos, que são do maior valor para toda a gente. Entendemos que o nosso prefácio já vai longo e não podemos dizer tudo.

Por isso desejamos as maiores felicidades a todos, recomendando, como pessoas de mais idade que a grande maioria dos leitores – disso não temos dúvidas – que façam o favor de usar algum do vosso precioso tempo livre para ler pelo menos, as nossas traduções dos livros de Allan Kardec.

Vai ser tempo ganho, podem crer. E contribuirá para a felicidade e o bem-estar presente e futuro de todos os que o fizerem.

Maria da Conceição Brites e José da Costa Brites

[1] Num site espírita de língua alemã, lemos o seguinte:

“….Por muito tempo existiram personalidades famosas, filósofos, cientistas, mas também pessoas comuns na Alemanha que estudaram seriamente, disseminaram e também viveram temas espirituais e espiritualistas na sua vida quotidiana. Muitas vezes não se autodenominavam “espiritualistas” e só mais tarde adotaram os termos “espíritas de Kardec”. Mas construíram uma base espiritual e científica baseada na qual muitos livros, grupos e associações espiritualistas surgiram.

Nesse sentido, a doutrina espírita (ou ‘Espiritismo’) na Alemanha tem uma história de quase 300 anos.

Esta história é acima de tudo uma história de mulheres e homens corajosos. Corajosos porque, apesar do desprezo e do ridículo social, se revelaram espíritas, arriscaram suas carreiras profissionais e seus nomes na sociedade por uma doutrina ainda desconhecida que acreditavam ser. Eram mulheres e homens corajosos, porque mesmo na época do Nacional-Socialismo eles tinham que temer por suas próprias vidas e pelas vidas de seus parentes devido à sua crença como espiritualistas (como muitos outros crentes).

É também por isso que muito se perdeu. Muitos desses livros podem ser encontrados hoje, se é que podem ser encontrados, em livros de segunda mão ou no exterior, e muitos nomes já foram completamente esquecidos.”  Visto em: https://kardec.de Informationsportal über die spiritistische Lehre

Nova edição revista da tradução de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, edição livre e aberta para todos


Em edição aberta e livre para todo o mundo de língua portuguesa...

Esta é a nova edição da nossa tradução de “O Livro dos Espíritos” directamente do francês para português de Portugal, com duas notas de apresentação de grandes amigos nossos e distintos espíritas, JOÃO XAVIER DE ALMEIDA e JOÃO DONHA, ambos notáveis conhecedores da nobre língua portuguesa, um português, outro brasileiro.

A nossa tradução tem o intuito de ajudar a criar uma nova geração de leitores de “O Livro dos Espíritos”, sobretudo junto de pessoas não espíritas , mas que também poderá, com proveito, ser lido por pessoas já conhecedoras do tema.
Inclui um prefácio dos tradutores, dirigido a essas pessoas e um nutrido grupo de Notas finais acerca das diferenças de cultura, de sensibilidade e de terminologias entre o que era antes e o que é hoje, relativamente ao tempo em que a obra foi organizada por ALLAN KARDEC, em meados do século XIX..

O trabalho geral de revisão do livro traduzido foram movidos pelos seguintes propósitos:

Primeiro
Aproximação mais acentuada do francês praticado pelo autor da obra ao português falado nos nossos dias, com critérios de ordem gramatical e lexical coerentes com o espírito da cultura respectiva.
Segundo
Sendo “O Livro dos Espíritos” a obra basilar da cultura espírita, o leitor terá um acesso mais fácil e penetrará mais fundo na restante obra de Allan Kardec.
Terceiro
A vontade de abertura sinalizada no prefácio de autores e o franco desejo de debate de ideias sugerido nas Notas finais do Livro sugerem o recentramento da obra de Allan Kardec no estudo fundamental da cultura espírita.

De João Xavier de Almeida:
recebemos a mensagem de um prestigiado e histórico dinamizador e organizador da cultura espírita em Portugal.
Do seu valioso prefácio colhemos o seguinte momento, que convida todos os leitores à leitura completa do texto:

Jamais nos demitamos do dever de gratidão ao Brasil, pelas diversas traduções (totalizando, todas, muitos milhões de exemplares editados) que facultaram ao leitor português a obra colossal de Allan Kardec; convenhamos porém: a tradução que ora ouso prefaciar supre finalmente uma nada lisonjeira omissão editorial lusitana, tão longa e desconfortável aos nossos brios.
Dizer grandiosa e transcendente a obra traduzida, O Livro dos Espíritos, nada tem de exagero. Ela integra um pentateuco hodierno de que é o volume basilar, e configura um relevante marco civilizacional judaico-cristão de cultura universal. Sagra-se como a terceira dum ciclo de grandes revelações, iniciado com Moisés e aperfeiçoado por Cristo. Mas… revelação agora em estilo direto, lógico, assertivo, coerente com a profundeza latente das duas precedentes; uma revelação já não necessitada de alegorias e formalismos requeridos outro ra pelo verdor evolutivo do Homem. Enfim, uma revelação sobre factos e leis naturais sistematizados com inatacável metodologia científica. Consistente, elucidativa, ela emerge vigorosa duma época onde o racionalismo, inebriado pela emancipação da opressiva tutela eclesiástica, derrapava no materialismo presunçoso que decretou “a morte de Deus” e entronizou a Deusa Razão.

De João Donha,

da cidade de Curitiba, no Brasil recebemos o favor fundamental de um testemunho de leitura; palavras de acolhimento e abertura de horizontes, para inspirarem à leitura mais proveitosa deste Livro, que nos oferece:
“…o novo paradigma do Espírito, da imortalidade, da responsabilidade individual pelos próprios atos, e da multiplicação ao infinito das oportunidades de correção e progresso…”

alguns parágrafos de João Donha:

1
…o paradigma teocrático… gerava um Estado teocrático, sustentado por uma poderosa instituição sacerdotal, com sua hierarquia sólida, seus ritos mágicos e sua capacidade de sugestão controlando as massas. O comportamento era subordinado à suposta vontade divina e, a adoração aos seus desejos. E, muito sangue foi derramado pelas religiões em nome da Divindade.

2
…o paradigma humanista, onde a ênfase é retirada da Divindade e passa a ser dada ao Homem, suas necessidades, seus direitos, suas aspirações e suas destinações. E, novamente, muito sangue foi derramado pelas revoluções em nome da Humanidade.

3
…um novo paradigma, onde a ênfase que já foi exclusiva da Divindade e, depois do Homem, transcende o imediato e passa a ser dada ao Espírito, ou seja, à nossa individualidade que sobrevive à extinção do corpo físico.

Este é o novo paradigma que o presente livro e as obras subsequentes que o completam está construindo. O Paradigma do Espírito, da imortalidade, da responsabilidade individual pelos próprios atos e, da multiplicação ao infinito das oportunidades de correção e progresso

NOTA:
o ficheiro aqui disponibilizado foi tratado por amadores desinteressados de quaisquer direitos autorais ou de afirmação pessoal, completamente INDEPENDENTES DE QUALQUER ORGANIZAÇÃO IDEOLÓGICA, RELIGIOSA OU POLÍTICA.
Poderá pois, de momento, incluir algumas falhas de formatação de que pedimos desculpa e que irão sendo retificadas.

Um convite, para desafiar os leitores…

Quem puder ler esta página a respeito da nossa tradução de “O Livro dos Espíritos” também poderá ler o livro todo, visto que se encontra à disposição de todos para descarregarem livremente.
Lê-lo, é só começar, continuar até ao fim, não custa nada…

Nós, para traduzir e rever vários livros fundamentais do mesmo autor, já os lemos, nas várias línguas, mais de 100 vezes, sem exagero nenhum. E cada vez que os lemos, aprendemos sempre coisas em que não tínhamos reparado bem nas vezes anteriores, e que valeram sempre bem essas novas leituras.

Depois de ler a folha abaixo, façam-nos o favor:

como é evidente, a primeira página do Prefácio dos tradutores não acaba aqui….

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O PERISPÍRITO – 1

Da noção de “campo estruturador” à ideia de Modelo Organizador Biológico

Coloquemos limalha de ferro sobre um papel e, por debaixo do papel, um íman. A limalha “organiza-se” imediatamente sobre a superfície do papel, construindo uma estrutura (ou modelo…) de fragmentos, num formato deste tipo:

O que a imagem mostra é a “ação estruturadora” de uma força magnética sobre as partículas de limalha de ferro. O “campo energético” do íman exerce um efeito mecânico sobre a limalha, que fica “organizada” sobre a folha de papel de acordo com o seu “potencial estruturador”.

No momento em que o nosso querido pai depositou no corpo de nossa querida mãe a sementinha que se associou ao óvulo que nela tinha surgido oportunamente, o nosso perispírito, devidamente alertado pelo “departamento celeste das reencarnações” tomou posição, apoderando-se imediatamente do papel que lhe coube na formação das nossas entidades pessoais.

O perispírito passou a ter, desde esse momento, sobre todas as nossas células, tecidos, órgãos e sobre todos os incontáveis aspetos da nossa individualidade, exatamente as mesmas funções de “campo energético estruturador” que o íman teve sobre a limalha de ferro.

O perispírito, em serviço instante por instante, desde a conceção até ao fim dos nossos dias!…

O íman serviu-nos aqui como ideia básica de um campo estruturador, ou seja, uma fonte de energia que pode orientar partículas de matéria segundo certo “modelo estruturado”.
É isso que faz o nosso perispírito mas, evidentemente, de forma infinitamente mais complexa e inteligente e, seja dito desde já, numa tarefa de longa duração que – além de funções de natureza transcendente – é o gestor vital do funcionamento do corpo durante a vida e se estende para além da morte, durante toda a nossa evolução, ao serviço do Espírito.

Esta sequência de imagens, meramente esquemáticas, representa aquilo que se passa no ventre das futuras mães, no que toca à vertiginosa multiplicação de células durante os primeiros 23 dias de gravidez. No 23º dia é possível ver-se já o saco amniótico, com as primícias do embrião e o próprio cordão umbilical. Elaborações complexíssimas, dirigidas por um prodigioso MODELO ORGANIZADOR BIOLÓGICO: o perispírito, sob a direcção do Espírito detentor de uma DIVINA partícula de PRINCÍPIO INTELIGENTE.

A organização de um ser, o mais complexo e extraordinário de toda a criação

Se não fosse o perispírito, o que teria acontecido ao desenvolvimento do embrião já em processo rapidamente evolutivo no corpo de nossa querida mãe?
As células corporais, multiplicando-se anarquicamente, tornar-se-iam apenas uma massa informe sem nenhum dos atributos de um corpo, capaz de servir como habitáculo funcional e dinâmico.
Com efeito, o processo normal que dá origem à gestação de qualquer ser humano é orientado por um extraordinário campo energético que é o perispírito, superiormente dirigido, não esqueçamos isso, por um ESPÍRITO em tarefa de aprendizagem e evolução positiva, incessante e infinita.
Todas as pessoas ficam enternecidas e impressionadas com a formação da vida, e todos acham prodigioso que a simples atitude de gerar filhos aconteça com tão impressionante normalidade.

O prodígio da criação dos seres assim configurado, nada tem de singelo ou casual. Deriva, sim, de um encadeado admirável de propriedades excelentes dos seres vivos, animados pelo Espírito, e destinados a nascer, crescer e desenvolverem-se norteados pelos mais extraordinários privilégios da sua condição divina.

O Espírito dos seres humanos usa o potencial energético do seu perispírito desde sempre, para governo do corpo material e para que cumpra um sem número de tarefas imprescindíveis à formação e evolução dos seres. Usa-o também como seu corpo subtil durante as existências entre encarnações, e continuará a ser dispositivo fundamental ao longo de toda a sua evolução até alcançar o invejável estatuto de Espírito puro.

Conforme claramente nos ensina a pergunta nº 186 de “O Livro dos Espíritos”:
Há mundos em que o Espírito, deixando de viver num corpo material, só tem por revestimento o perispírito?
– Sim, esse mesmo revestimento torna-se de tal maneira purificado que é como se não existisse. É o estado dos Espíritos puros.

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NOTA: As imagens acima foram pesquisadas e pertencem a um livro do ensino secundário em Portugal, da autoria de Jacinto Rosa Moreira, Helena Sant’Ovaia e Vítor Nuno Pinto, com revisão científica de Nuno Formigo e revisão pedagógica de Margarida Morgado, e foi editado por Areal Editores. Como referência essencial, devo acrescentar que foi usado por um dos meus netos.
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O Homem de Vitrúvio, LEONARDO DA VINCI – 1490

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O PERISPÍRITO – 2

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A IMPORTÂNCIA FUNDAMENTAL DO PERISPÍRITO

NOTA: este texto é a Nota final nº 72 da nossa tradução de “O Livro dos Espíritos”

Ao ler o conteúdo de “O Livro dos Espíritos” e tudo o que ele nos diz a respeito da evolução dos seres humanos, já ficámos com uma ideia da “concentração de complexidades” que o nosso veículo perispiritual carrega consigo. A ciência atual, oferecendo-nos informações técnico-científicas que a experiência e os factos confirmam, ajuda-nos a construir uma imagem mais compreensível da sua verdadeira natureza e propriedades.

Apresentamos algumas ideias base, ponto de partida para as pesquisas que os leitores desejarem fazer:

  • Texto de Gabriel Delanne, Carlos de Brito Imbassahy, e Reinaldo di Lucia, importantes expoentes de épocas diversas da investigação científica relativa a temas de espiritismo;
  • A seguir ao texto de Carlos de Brito Imbassahy, por fazer parte dos investigadores que ele mesmo refere, fazemos alusão a um notável cientista norte americano, Harold Saxton Burr, que trabalhou em eletrodinâmica biológica e fez investigações acerca dos “campos de vida” (fields of life) e dos “agentes estruturadores”, termos e ideias fundamentais para a compreensão da natureza e funcionamento do perispírito.

Fragmentos de Gabriel Delanne:

 

“…Se realmente existe no homem um segundo corpo, que é o modelo inabalável pelo qual se ordena a matéria carnal, compreende-se que – apesar do turbilhão de matéria que se movimenta no corpo humano – se mantenha em nós o tipo individual que nos caracteriza, no meio das incessantes mutações resultantes da desagregação e da reconstituição de todas as partes do corpo, comparáveis a uma máquina à qual, a cada instante, se mudassem todas as suas partes constituintes. O perispírito é o regulador das funções, o arquiteto que vela pela manutenção do edifício, porque essa tarefa não pode depender essencialmente das atividades cegas da matéria.

Reflitamos sobre:

  • A diversidade dos órgãos que compõem o corpo humano;
  • Os tecidos que servem à construção dos órgãos;
  • A cifra prodigiosa de muitos triliões de células aglomeradas, que formam todos os tecidos;
  • O número colossal de moléculas do protoplasma;
  • E, enfim, a imensa quantidade dos átomos que constituem as moléculas orgânicas.

Achamo-nos em presença de um verdadeiro Universo, tão variado que ultrapassa em complexidade o que a imaginação possa conceber.

A maravilha é a ordem que reina nesses milhares de milhões de ações enredadas.

(…) Se no meio desse turbilhão existe um factor que permanece estável, é lógico que seja ele o organizador ao qual a matéria obedece. Esse factor é o perispírito, visto que é evidente a sua existência durante a vida, como é evidente que existe para além da morte. Os avanços no conhecimento das suas propriedades resultarão preciosíssimos no domínio da Fisiologia e da Medicina.

O que os antigos chamavam a “vis medicatrix naturae” é o mecanismo estável, incorruptível, sempre ativo, que defende o organismo contra as ações mecânicas, físicas, químicas e microbianas às quais está sempre sujeito, e que recompõe a cada instante a integridade do ser vivo quando é afetada.

Numa palavra, o corpo não é somente um aglomerado de células justapostas: é um todo harmónico cujas partes constituintes têm funções bem definidas, subordinadas ao papel que desempenham no plano geral.

Claude Bernard (1813 – 1878) Fundador da Medicina Experimental

O perispírito é a realização física dessa “ideia diretora”, que o grande cientista CLAUDE BERNARD assinalou como a verdadeira característica da vida. Essa “ideia diretora” é também o “desígnio vital” que cada um de nós realiza e conserva ao longo de toda a sua existência…”

Texto pesquisado e traduzido a partir da obra “Documents pour servir à l’étude de la Réincarnation” (A Reencarnação). Paris: Éditions de la B.P.S, 1927.

Palavras de Carlos de Brito Imbassahy *

Breve citação de um texto visto no site Era do Espírito enviado a Ellio Mollo pelo autor no dia 2 de novembro de 2007; Tema, “O Perispírito ante a Psico-bio-física”

“…o “campo de vida” seria o que Kardec definiu como perispírito e o “agente estruturador” seria, portanto – e por correspondência – o Espírito encarnante.(.,,)

“… o campo pode ser definido como sendo a área física em torno de um agente qualquer sobre a qual sua ação é percebida. Exemplificando: em torno de uma fogueira há uma região em que seu calor é percebido; será, pois, o campo térmico da mesma. O íman é sempre o exemplo ideal porque em sua volta há uma região restrita de atração fora da qual ela não é sentida.”

“. A primeira característica de qualquer campo é a energia atuante e relacionada com o agente estruturador. O campo do imã tem a propriedade de aglutinar limalhas de ferro e níquel dando-lhes uma formação relacionada com o imã, criando imagens conhecidas como “linhas de força” do campo.

Temos aí uma ideia do que Kardec disse ao definir o perispírito como não sendo material, ou melhor, sendo semimaterial, porque teria esta propriedade aglutinadora de reunir a energia cósmica em si como o campo do imã quando atua sobre as aludidas limalhas.

Esta energia cósmica modulada por um agente físico que atua em determinada região em torno do seu agente estruturador é conhecida como sendo um dos estados físicos da energia fundamental. Assim, o conceito de “semimaterial” emitido à época de Kardec satisfaz plenamente às condições de conhecimento da atualidade. O perispírito só tem sentido porque é capaz de agir de forma semelhante, agregando energia cósmica em seu campo para poder atuar sobre as células orgânicas fetais no útero materno, quando no processo encarnatório.

 

  • campo do íman também é formado de energia agregada a ele, sem o que jamais atuaria sobre as limalhas.

Cabe lembrar que, na época de Kardec, não se conhecia a energia. O próprio Newton teria definido a energia cósmica fundamental como sendo um fluido, o FCU. Portanto, naquela época, não sendo material, só poderia ser considerado como “semimaterial”. Entenda-se, pois, desta forma, o conceito em apreciação.”

Propriedades do perispírito

(…) “…Rigorosamente coerente com o que Kardec informa em O Livro dos Médiuns e na Seleta de artigos da Revista Espírita, vamos chegar às seguintes conclusões obtidas pela verificação feita em laboratório com uso de aparelhos espectrográficos capazes de detetar o aludido “campo de vida”:

  • – O perispírito é elaborado pelo Espírito segundo suas necessidades junto ao mundo cósmico em que vá viver;
  • – É um campo quântico de natureza psíquica capaz de estruturar células orgânicas e formar corpos somáticos;
  • – Em decorrência da propriedade anterior, ele detém a condição de transmitir ao corpo dito somático as suas necessidades orgânicas decorrentes da vida que deva ter;
  • – Como tal, comparando-o ao campo de uma fita de gravador, ele pode interferir diretamente no corpo somático modulando-o para que ele se estruture segundo suas necessidades encarnatórias.
  • – No sentido inverso, ele pode gravar tudo o que o encarnante faça durante sua vida terrena, sendo o arquivo temporário das suas reações; dessa forma, nossas atitudes presentes podem se refletir nas vidas futuras e o “assim como fizeres, assim acharás” terá plena justificativa, lembrando que, como numa pilha elétrica, toda energia que emana de um polo volta para o outro, fechando o circuito; caso contrário, ela não circula pelo mesmo.
  • – Sendo transitório, como todo e qualquer campo, decorrente da ação indutora do agente, ele não poderá ser o registro de nossos atos, ou seja, a “memória inconsciente” freudiana, arquivo de todos os nossos atos passados, mas servirá de elo entre nossa vida encarnada e os demais campos e sistemas integrados do Espírito. – Do mesmo modo que um campo de um condutor elétrico se modifica de acordo com a corrente que passe por ele, também o perispírito será modulado pela índole ou variação de sentimentos do Espírito, motivo pelo qual este necessita de um ambiente compatível com a sua evolução para nele se encarnar, a fim de que seu perispírito possa atuar nas suas energias materiais.

O que se pode concluir é que tudo isso foi comentado por Kardec sem que, à sua época, se tivesse noção ou o conhecimento atual relacionado com um campo energético e principalmente, de natureza psíquica.”

* O Engenheiro e professor universitário Carlos de Brito Imbassahy é investigador espírita com formação científica, muito conhecido no universo espírita brasileiro, tem numerosos artigos e livros publicados a respeito do tema de que tratamos aqui. É filho de Carlos Imbassahy (1883-1969), advogado, jornalista e importante individualidade ligada ao espiritismo brasileiro.

 

– A Eletrodinâmica Biológica e a noção dos “campos de vida” e dos “agentes estruturadores” na obra de Harold Saxton Burr (citado em textos da autoria de Carlos de Brito Imbassahy).

Harold Saxton Burr (1889-1973)
cientista norte americano não espírita, não foi o único investigador a ter interesse por estes temas e a estudá-los.

Na linguagem dos homens de ciência é possível afirmar que tudo o que existe, visível ou invisível, obedece ao potencial organizador de “campos de vida”, “agentes estruturadores” ou “FRAMEWORKERS”.

Harold S. Burr foi professor da “Yale University School of Medicine”, na área da neuroanatomia e da eletrodinâmica biológica. As suas principais áreas de estudo foram: “A teoria eletrodinâmica da vida”; “As características elétricas dos sistemas vivos” e “A comprovação da existência de campos eletrodinâmicos nos organismos vivos”.

Há três obras suas bastante marcantes: “A Natureza do Homem e o Significado da Existência”, “Projeto para a Imortalidade” e “Os Campos de Vida, as Nossas Ligações com o Universo”.

Na sua obra “A Natureza do Homem e o Significado da Existência” de 1962, a que tivemos acesso online, conclui de forma muito expressiva, e com argumentos científico-filosóficos, pela existência de DEUS.

Recomendamos vivamente a leitura desta obra, que pode ser consultada online, e descarregada, página a página, pelo menos nos “sites” de duas bibliotecas universitárias dos EUA.

O Perispírito / Uma abordagem do século XX

Reinaldo Di Lucia *

Incluímos esta breve citação do investigador aqui referido, por ser o documento mais recente que conseguimos encontrar, de fonte espírita, com referências científicas, a respeito do perispírito. Com efeito foi publicado no site do Instituto Cultural Kardecista de Santos em 5 de setembro e 10 de outubro de 2016, como atualização de outro artigo do mesmo autor e com o mesmo título, publicado em outubro de 2002 no Caderno Cultural Espírita.

“…Dentre todos os continuadores do pensamento de Allan Kardec, Delanne é o que maior importância atribui ao perispírito. Provavelmente, isto se dá na medida em que é de grande dificuldade para qualquer pessoa adepta ao positivismo, aceitar que o Espírito, este ser imaterial e, para muitos, puramente abstrato, possa ser o princípio de todas as manifestações intelectivas do homem.

Assim, ele vai atribuir ao perispírito uma gama significativa de funções relativas à organização ou mesmo às capacidades inteligentes do ser humano. As principais funções cujas bases são por ele atribuídas ao perispírito são sumariamente descritas abaixo.

Primeiramente, temos a formação do corpo físico. Delanne depara-se com o problema de explicar como o corpo físico pode ser formado com tantos detalhes e reconstruído, com a mesma semelhança, sempre que certas partes são destruídas. Lança mão então da explicação perispiritual:

A força vital por si só não bastaria para explicar a forma característica de todos os indivíduos, e tampouco justificaria a hierarquia sistematizada de todos os órgãos, sua sinergia em função de um esforço comum, visto serem eles, simultaneamente, autónomos e solidários. Neste ponto é que incide o ascendente da intervenção do perispírito, ou seja, de um órgão que possua as leis organogenéticas, mantenedoras da fixidez do organismo, através de constantes mutações moleculares.”

O perispírito é então, em sua opinião, o modelo fluídico, o molde que servirá para construir o corpo físico. Como veremos, esta também é a opinião de Hernâni Guimarães, atualizando o raciocínio a partir de recentes descobertas científicas.

A grande preocupação desse pensador, para atribuir ao perispírito o papel de molde do corpo está na explicação da forma. Enquanto que ele podia perfeitamente admitir uma força vital primária idêntica para todos os seres vivos, desde a planta até o homem, pressupunha que deveria existir uma outra força que diferenciasse as muitas espécies no que tange à sua forma. Essa força seria o perispírito.

Em segundo lugar, Delanne dá ao perispírito um papel psicológico fundamental. Para ele, o perispírito é a base da memória do homem, a qual, por sua vez, é fundamental para a asseguração contínua de sua identidade.

Ele baseia esta opinião sobre a ideia que, mais que qualquer outra célula do corpo humano, as do cérebro são substituídas rapidamente, o que impossibilitaria a manutenção, neste órgão, da memória.

“O cérebro, porém, muda perpetuamente, as células dos seus tecidos são incessantemente agitadas, modificadas, destruídas por sensações vindas do interior e exterior. Mais do que as outras, essas células submetem-se a uma desagregação rápida e, num período assaz curto, são integralmente substituídas.”

Partindo do principio acima descrito, o eminente pensador espírita debita ao perispírito a função da memória, já que esta não poderia ser unicamente do corpo. Em sua tese, qualquer facto guardado pela memória é registrado no perispírito. Quando uma célula cerebral morre, é substituída por outra formada pelo mesmo perispírito, que lhe imprimirá, qual disco gravado por uma matriz, as mesmas impressões que ele próprio guarda. Fica assim resguardada a memória.

Ideias semelhantes a essas são igualmente defendidas por Léon Denis e Gustave Geley, em vários dos seus livros, o que nos dá a impressão que eram bastante difundidas no meio espirita à época – apesar de não terem sido defendidas por Kardec em sua obra.

(•••)

Em resumo, as principais ideias sobre o perispírito expostas por estes eminentes pensadores, e ainda hoje bastante difundidas no movimento espírita são:

O perispírito é um envoltório do espírito, que o acompanha desde a sua criação e, portanto, preexistente ao nascimento e sobrevive à morte do corpo físico. É composto de matéria, porém, em nível diferente daquela a que os encarnados estão acostumados. Kardec afirma ser uma matéria “quintessenciada”, obtida por modificação direta do fluido cósmico (que é a matéria primordial), contendo ainda elementos do princípio vital e mesmo de componentes físicos e eletromagnéticos.

A sua composição energética é tanto mais densa, ou menos subtil, quanto menos evoluído (do ponto de vista intelectual e moral) for o espírito. Com a evolução deste, vai-se tornando mais subtil, ainda que não se saiba ao certo o que isto significa fisicamente, mas sempre acompanha o espírito.

É totalmente sujeito à vontade do espírito, que pode plasmá-lo a seu gosto e dar-lhe a forma que

Serve como elemento de ligação entre o espírito e o corpo físico, uma vez que um e outro não podem interagir diretamente devido à diferença estrutural entre ambos.

É o elemento que possibilita a manutenção de uma forma para o espírito desencarnado e, assim, permite que este possa identificar-se como uma individualidade.

É o princípio fundamental das manifestações mediúnicas, em especial daquelas caracterizadas como efeitos físicos.

É o molde do corpo físico, uma forma que conteria os elementos informacionais que permitiriam a sua formação e a sua manutenção. Esta função também é a única forma de adequar o surgimento da vida à Segunda Lei da Termodinâmica.

É a sede dos sentimentos e das faculdades, notadamente da memória. Por vezes, é apontado como sede da inteligência.

Possui órgãos e células, como o corpo físico. Este, aliás, é uma cópia daquele.

Reinaldo di Lucia *

(Nota curricular provavelmente desatualizada e inexata)

Engenheiro Químico formado pela Faculdade de Engenharia Industrial, FEI, S.Bernardo,SP; professor universitário, com especialização em Qualidade na Fundação Getúlio Vargas, Reinaldo Di Lucia tem formação em MBA executivo em Gestão Empresarial também pela FGV e pós-graduação em Engenharia de Qualidade pela Faculdade de Engenharia Industrial. Reinaldo di Lucia, da cidade de Santos, Brasil, é membro do Centro de Pesquisa e Documentação Espírita- CPDoc e colunista do Jornal Abertura, mantido pelo Instituto Cultural Kardecista de Santos-ICKS, em que trata de assuntos contemporâneos sob a ótica progressista do espiritismo.

 

Este artigo está disponível em formato PDF para todos os nossos prezados leitores, aqui:

A IMPORTÂNCIA FUNDAMENTAL DO PERISPÍRITO 02

 

O Livro dos Médiuns, nova tradução em português de Portugal

Versão atual : ver por favor na coluna do lado direito


Prefácio dos tradutores
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Achámos fundamental redigir este prefácio, primeiro para dar o devido relevo a uma obra que, embora escrita numa linguagem e com argumentos fortemente datados, continua a ser da máxima importância para a configuração da cultura a que diz respeito, que tem sido pouco estudada e ainda menos seguida cuidadosamente nos princípios que enuncia.
A nossa tradução de “O Livro dos Médiuns”, da mesma forma como dissemos no prefácio de tradutores de “O Livro dos Espíritos”: …resulta da imensa admiração e respeito que temos pelo ensinamento dos Espíritos, na forma que foi metodicamente organizada por Hipólito Leão Dénisard Rivail, aliás Allan Kardec.
Confirmando as intenções que nos animaram quando começámos a traduzir Kardec, repetimos que “… se destina tanto a leitores espíritas como não espíritas… dando a conhecer as condições essenciais para aceder à mensagem da obra e aos seus ensinamentos.”
Sendo este livro o desenvolvimento da vertente científica do espiritismo, sentimo-nos agora obrigados a dirigir a nossa palavra às pessoas que têm assumido a nobre tarefa de possibilitar a “comunicação dos Espíritos com o mundo material”, tal como foi afirmado na conhecida definição da autoria de Allan Kardec.

“O Livro dos médiuns”,aquele que ensina a aprender com os Espíritos

A base do entendimento dos valores da mediunidade está no edifício de conhecimentos que nos foi deixado por Allan Kardec, mensagem exemplar que podia e devia ter continuado a evoluir usando os métodos e critérios por ele mesmo instituídos.
Sobretudo aqueles que têm o privilégio de falar pelos Espíritos, na nossa opinião, nunca deveriam ter abandonado a pesquisa mediúnica, abrindo cada vez mais o património das informações sobre as vidas depois das vidas, tendo em atenção aquilo que está claramente delineado em muitas das páginas deste livro.
É, pois, urgente, relançar as perspetivas da filosofia que nos legou Kardec, com a ajuda principal do ensino dos Espíritos e com raízes no pensamento da religião natural, configurada antes por filósofos e homens de cultura como Immanuel Kant, Jean-Jacques Rousseau e seus sucessores e discípulos.

Coroando esta ideia, citamos de seguida palavras de Sandro Fontana, inseridas no texto de abertura da Revista Ciência Espírita, Edição 7 de Março de 2016, onde é referida a importância do Controlo Universal do Ensino dos Espíritos (CUEE), tão fundamental para Kardec e, por vezes, tão esquecido nos nossos dias:
“É de conhecimento básico do espiritismo que a mediunidade é o seu principal “agente”, ou seja, sem a mediunidade não existiria o espiritismo, principalmente porque a fonte base de informações é proveniente do trabalho beneficente dos médiuns; afinal, são eles quem transmite a informação proveniente do mundo espiritual.
Também é de conhecimento geral espirita que, “a opinião de um Espirito é somente uma opinião”, sendo assim esse pressuposto garante que um Espirito, ao comunicar, está passando as informações que lhe são tangíveis baseada nas suas próprias perceções e seu grau evolutivo.
Tanto é assim que Kardec elaborou um método que “cruzava” informações de vários médiuns e espíritos para poder chegar a alguma conclusão sobre um assunto ou tema, lembrando que isso nunca foi, nem deve ser definitivo, como muitos idólatras e dogmáticos pretendem, isso porque a conclusão final ainda é humana e condicionada ao tempo do observador/pesquisador, que é limitado.
Então, se toda a fonte básica de conhecimento (e ajuda em muitos casos) é proveniente da mediunidade, por que motivo os Centros Espiritas limitam o desenvolvimento mediúnico?”

A Humanidade, como nunca,
à beira de compreender fatualmente a vida depois da morte

A conceção intelectual do espiritismo foi uma extraordinária realização, se atendermos à época em que foi concretizada, com imensa dedicação intelectual e desprendimento pessoal de Allan Kardec, que não quis ser fundador nem dirigente de qualquer movimento instituído. Levava o seu sentido da tolerância até aos limites, sem qualquer desejo abusivo de poder.
A leitura das suas obras, deste “Livro dos Médiuns” e de todos os conteúdos da Revista Espírita, é ainda hoje surpreendente, quer sob o ponto de vista filosófico e científico, a que hoje ─ muito mais do que há um século e meio de distância – vastas áreas da cultura científica se vão rapidamente abrindo.

O espiritualismo científico
uma cultura em explosiva transformação

Julgamos não ser necessário reunir argumentos detalhados para demonstrar a evidência deste subtítulo. A explosão citada diz respeito ao esclarecimento da vida depois da morte em praticamente todo o mundo, no contexto das imensas facilidades que os meios de comunicação nos oferecem e da crescente intervenção de cada vez mais qualificadas entidades de pesquisa.
Vamos por partes.

Visitas ao “céu”, com direito a receção e outros detalhes fantásticos…

Há vários domínios da evolução da Humanidade que têm dado passos de gigante na aprendizagem da natureza, da origem e do destino dos seres vivos, sendo de referir em especial o aparecimento – propiciado pelo desenvolvimento técnico-científico dos métodos de ressuscitação – das chamadas “experiências de quase-morte”, as EQM, referidas em inglês como “Near-Death Experiences” − NDE’s.
O número das pessoas que já referiram ter vivido tais experiências – por todo o mundo – conta-se por muitos milhões, em rápida expansão. Muitos dos depoimentos que chegam agora ao nosso conhecimento derivam de fenómenos decorridos há dezenas de anos, visto que estão a ser vencidos os preconceitos e as inibições em falar abertamente sobre esse tema.
Um dos argumentos que confere especial credibilidade à solidez das suas perceções é o facto de serem todas essencialmente semelhantes umas às outras, seja qual for a língua, a cultura e a localização geográfica dos protagonistas.
Os meios internacionais de comunicação e um já larguíssimo número de instituições de pesquisa, a nível mundial, revelam que esses factos são a porta aberta para uma nova visão da vida e da sua continuação para além da morte, apesar de não serem nem novos nem recentes, havendo relatos de tais acontecimentos há já muitos séculos, originários de praticamente todas as grandes culturas.
O despertar do nosso interesse por esses fenómenos data de há mais de vinte anos, e foi em 2013 que publicámos, na internet, uma análise das principais facetas dos depoimentos respetivos, conotando-os com os ensinamentos que nos foram deixados por Allan Kardec:
É favor consultar a página: https://palavraluz.com/2019/12/29/ndeeqmesp-2/

Esses fenómenos, no entanto, são muito antigos…

Afirmámos acima a perenidade no tempo das “Experiências de Quase-Morte”, sendo muito conhecido “O mito de Er”, um dos exemplos mais remotos que se podem referir, contado por Platão no Livro X de “A República”.
Trazendo essas referências para mais perto de nós referimos seguidamente temas da autoria de Kardec que mencionam a ocorrência desses factos, que não tinham ainda adquirido as modernas designações e siglas respetivas.
O primeiro caso foi publicado em 1858, no ano inaugural da Revista Espírita, no mês de Setembro: “Conversas familiares de Além-Túmulo”, em que o fenómeno narrado na América acerca duma Senhora Schwabenhaus foi designado por Allan Kardec como um episódio de “letargia estática”.
Outro exemplo pode ler-se em “O Céu e o Inferno”, Segunda Parte – Exemplos; Capítulo III – Espíritos em condição mediana; Senhor Cardon, Médico; e que também foi publicado na “Revue Spirite” de Agosto de 1863/Conversas familiares de Além-Túmulo; Monsieur Cardon, médico, morto em Setembro de 1862.
Sugerimos a leitura destes dois casos, que não transcrevemos aqui devido à sua extensão. Sobre o Mito de Er é muito fácil encontrar referências concretas disponíveis nas Enciclopédias da Internet.

A grande obra de Allan Kardec, vítima de maus continuadores

Hipólito Leão Denisard Rivail foi um cidadão francês do século XIX, especialmente notável pela sua capacidade de organização intelectual, embora não pertencesse às camadas socialmente privilegiadas dessa época, o que lhe granjeou um perfil cívico e intelectual especialmente notável.
Tendo sido convidado por conhecidos e amigos, a sistematizar o resultado de certas pesquisas mediúnicas que tinham levado a cabo, acabou por aceitar, embora se tivesse declarado à partida muito cético relativamente a toda a matéria que lhe foi proposta.
Foi penetrando no estudo do tema até se ter convencido – pela evidência natural e óbvia dos fenómenos apresentados para estudo – de que era matéria muito importante e merecedora da sua total dedicação.
Nos últimos onze anos da sua vida entregou-se generosamente a essa tarefa tendo deixado atrás de si um importantíssimo património de estudos e observações que constitui o que conhecemos como “espiritismo”.
Não é de estranhar que, após o momento em que faleceu, repentinamente e, pode dizer-se, por exaustão, o escasso número de apoiantes dedicados e coerentes não teve a capacidade de manter ativa e segura a instituição que ele tinha estruturado, e dar continuidade ao trabalho de defesa e promoção das ideias espíritas.
Esse fenómeno acontece, quase por via de regra, com todos os movimentos de transformação profunda da sociedade, sendo todas as alterações positivas combatidas e desvalorizadas pelos seus detratores. Com o espiritismo também isso aconteceu, e foi Pierre-Gaëtan Leymarie que tomou conta dos destinos da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e operou uma enorme quantidade de oportunismos deformadores das ideias que inspiravam Kardec.
Todas essas modificações abusivas, de desvalorização cultural e científica do espiritismo, conduziram ao seu desprestígio e quase esvaziamento, em França.
Tendo sido levado para o Brasil, por intelectuais muito sérios e bem informados, foi institucionalmente condenado, logo de início, à sua desfiguração, pela adoção de alguns princípios antagónicos das ideias promovidas por Allan Kardec.
Esse foi um dos problemas que apoquentou muitíssimo o desenvolvimento e a unidade dos grupos de interessados no espiritismo, sendo legítimo e da maior utilidade não manter ignorado esse problema pelas suas nefastas consequências, cuja origem e desenvolvimentos são bem conhecidos em Portugal e no Brasil.
Felizmente, 160 anos depois, está em marcha, no Brasil, um vigoroso movimento de recuperação da autenticidade espírita. Várias equipas de trabalho, de pessoas bem qualificadas para o efeito, têm em mãos documentos da época, incluindo grande número de escritos originais redigidos por Allan Kardec, até aqui inteiramente desconhecidos. Essas equipas estão a trabalhar para dar acesso, na sua totalidade, à verdadeira versão do espiritismo proposta por Allan Kardec.

Sugestões para a leitura de  “O Livro dos Médiuns”

Também aqui vamos referir algumas ideias que inserimos no prefácio dos tradutores de “O Livro dos Espíritos”.
“…Para quem começa, este não é um livro para ler de empreitada, como uma peregrinação e, muito menos, como uma penitência. Alguns conselhos que aqui registamos aumentarão a recetividade de muitos leitores, dando-lhes a exata noção do que vão encontrar pela frente…”
“…O leitor deve ter a liberdade de procurar inicialmente no livro o que mais lhe interessar, lendo por aqui e por ali os temas mais apetecíveis. Poderá, para esse efeito, consultar primeiramente o Índice.
Leia e releia com atenção o que achar mais válido e interessante.…”

Estas sugestões de leitura têm o propósito de não vincular o leitor a uma leitura demorada de uma obra que não foi redigida de acordo com as modernas técnicas de comunicação e na qual, o seu autor, se dirige a sectores de opinião enfronhados na cultura dessa época, hoje em dia completamente ultrapassada.

Traduzir é escrever tudo de novo, amar como quem dá à luz

Temos lido Kardec com a máxima atenção, usando o conhecimento da língua francesa que, no tempo da nossa juventude, era a segunda língua mais estudada, por ser, como o português, de origem latina, e por ser oriunda de um país de vasta cultura, de onde nos veio – sem ser por acaso – a grande cultura espírita.
Entregámo-nos de início ao trabalho de tradução com o objetivo principal de desvendar com minúcia o significado de cada página, de cada frase, de cada expressão e de todas as palavras, uma a uma. Quando acabámos a tradução do primeiro livro – “O Livro dos Espíritos” – não tínhamos a mínima ideia de podermos um dia tê-lo na nossa mão, impresso em papel como qualquer outro livro.
Serve isto para dizer que, para nós, o principal objetivo–ler o livro com atenção de minúcia e pleno entendimento– estava plenamente alcançado.
Quanto à tradução que foi feita, deu-nos coragem para continuar traduzindo Kardec, maneira excelente de o ler com a máxima penetração que nos é possível.
Após a tradução da primeira obra, já aspiramos ver completa a conclusão dos seus principais cinco livros.
Se Deus nos der vida e saúde, gostaríamos ainda de fazer uma tradução antológica de textos da Revista Espírita, que temos amplamente explorado, visto que é fundamental para instalar devidamente a noção completa do espiritismo edificado pelo nosso grande e íntimo amigo Hipólito Leão, generosamente ajudado pelos Espíritos superiores.
Sonhar é fácil e ninguém pode levar-nos a mal que sonhemos.
Porque também temos filhos e netos, esse é apenas um dos nossos principais desejos!…
E que Deus nos ajude a todos.

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O Evangelho Segundo o Espiritismo

L’Évangile selon saint Matthieu, Pier Paolo Pasolini. Ao fundo da notícia: comentário a respeito da obra prima e possibilidade de vê-la na íntegra (legendada em português).


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

 Tradução para Português de Portugal – 2019 – de José da Costa Brites e Maria da Conceição Brites

O QUE É O ESPÍRITISMO?

Ideias colhidas em “O que é o Espiritismo” de Allan Kardec, 1859

“…O espiritismo funda-se na existência de um mundo invisível, formado pelos seres incorpóreos que povoam o espaço e que são as almas daqueles que viveram na terra, ou noutros planetas. São os seres a que chamamos Espíritos, que nos cercam, exercendo sobre nós uma grande influência e desempenhando papel muito activo no mundo moral…”

“…o Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, analisa todas as consequências morais que derivam dessas relações. Podemos defini-lo assim: “…é uma ciência que trata da natureza, da origem e do destino dos Espíritos, bem como das suas relações com o mundo corporal…”

“…o Espiritismo, depois de se tornar conhecido, esclareceu grande número de problemas,até certa altura insolúveis ou mal compreendidos. O seu verdadeiro caráter é o de uma ciência e não de uma religião…”

“O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO” de Allan Kardec, conforme está na capa da obra original,
trata-se categoricamente de: “O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO” e de forma nenhuma  de “o Espiritismo segundo o Evangelho”.
Convém fixar esta ideia claríssima e conservá-la em mente, porque é fundamental.

Ou seja, em nenhum dos aspectos desta obra nos é apresentada uma versão do Espiritismo paralela ou directamente derivada do conteúdo narrativo dos Evangelhos, excepto na parte subjacente que corresponde a ensinamentos de Jesus de Nazaré, coincidentes com o ensino moral dos Espíritos, esse sim, fonte legítima e atualizada do Espiritismo.

Portanto,para todos aqueles que têm este livro como uma aproximação tácita a uma conceção evangélica do ensino dos Espíritos, afirmamos redondamente que não é esse o significado que lhe atribuiu o seu autor ou as entidades espirituais que comunicaram os seus conteúdos.

A presença na obra de citações escolhidas dos evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João destinam-se predominantemente à descodificação de fragmentos desses Evangelhos concebidos com o carácter de metáforas ou de parábolas, muitas vezes redigidos numa linguagem místico-alegórica, de situações que nem sequer poderiam ter sido vividas por Jesus de Nazaré.

Citamos apenas um exemplo, entre muitos que poderíamos mostrar: as cenas referíveis a tentações a que Jesus teria sido sujeito pelo próprio “diabo”, que inconcebivelmente o teria levado para o deserto para esse efeito.
Sabemos, pelo estudo da escala espírita que está incluída em “O Livro dos Espíritos” que Jesus, sendo um Espírito puro, estaria definitivamente acima dessa eventualidade, além de que a figura de “o diabo” é meramente teórica e que “o Inferno” não existe.

Pela sua intensidade imaginária, episódios como este, tão totalmente fora da possibilidade real, têm sido expressivamente ilustrados, até em cinema e em vídeo, arrastando a equívocos de carácter lamentável.
Que fique bem claro, portanto, que as explicações dos capítulos que foram acrescentadas pelo autor de “O Evangelho segundo o Espiritismo” a cada conjunto de citações dos Evangelhos, explicam o verdadeiro sentido que lhes é associável no âmbito específico do ensino dos Espíritos.

O ENSINO DOS ESPÍRITOS É BEM CONHECIDO DESDE A ANTIGUIDADE

O livro que apresentamos, logo no número IV da Introdução, inclui um resumo com algum detalhe de um fenómeno geralmente desconhecido e muito pouco discutido nas suas razões histórico-culturais: Sócrates e Platão percursores da ideia cristã e do espiritismo. Esse interessantíssimo momento desta obra fornece uma detalhada referência que comprova que os princípios do espiritismo estão no arquivo dos conhecimentos da Humanidade há muito mais de vinte séculos. Conhecimentos resultantes de muito numerosas trocas de impressões com os Espíritos, exactamente do mesmo tipo de comunicações que foram levadas à prática por Allan Kardec e seus colaboradores, já muito conhecidas nessas recuadas épocas da história da Humanidade.

Esses conhecimentos tiveram condições para se implantarem numa vasta sociedade culta,com grande projecção civilizacional,informando os estudos de notáveis filósofos, grandes homens de ideias e até importantes e diferenciados sectores da sociedade.
Qualquer enciclopédia nos dará uma ideia bastante concreta de “pré-socráticos”, como Pitágoras, fundador da duradoura Escola Pitagórica, com notáveis estudos sobre a alma e a reencarnação e um numeroso grupo de discípulos que se projectou por séculos, em pleno coração da Antiguidade Clássica.
Chamamos a atenção para um simples detalhe, ainda relativo à obra de Platão. Da sua importantíssima obra “A República”, faz parte “O Mito de Er”, a narrativa de um fenómeno do mesmo género de experiências que na actualidade têm atingido notoriedade mundial, com milhões de exemplos registados,investigados em numerosos países com a designação de “EQM -Experiências de Quase-Morte” ou, em inglês, as conhecidíssimas “NDE –Near Death Experiences”.

O DESCONHECIMENTO DO FUTURO EVOLUTIVO –MOTIVO DE MEDOS E ANGÚSTIAS

Uma complexa ordem de transformações que colocaram termo à Antiguidade Clássica, fez com que o ensino dos Espíritos e a vasta zona de influência de que dispunha, tivesse sido irradiado das práticas socio-culturais e ideológicas de toda a sociedade organizada.
Os vestígios de toda essa imensa cultura, foram sendo implacavelmente combatidos pela que se foi instalando nas áreas de predominância dogmática. Não tardaria que as pessoas que praticavam a mediunidade fossem presas e condenadas, como gente que praticava feitiçarias e “falava com o diabo”.
Séculos e séculos duraram em que eram queimadas vivas, como gente maldita e cúmplices do demónio.
O espiritualismo teórico e prático, o conhecimento da vida depois da morte e a evolução da humanidade concebida pelo processo das vidas sucessivas, permaneceu largamente ignorado durante cerca de vinte séculos, que mergulharam no silêncio a consciência fundamental da sequência das vidas e das mortes.
Ao longo desse imenso lapso de tempo as desigualdades e os conflitos sangrentos tiveram a palavra mais pesada nas atitudes e doresda Humanidade, cujas nefastas sementes continuam a ser plantadas num mundo ansioso e desigual, agora já com mais de sete mil milhões de almas.

A ignorância da verdadeira natureza, da origem e do destino dos Espíritos, fez com que se tenham generalizado culturas dominadas pelo materialismo mais violento, causador de desigualdades e conflitos, como bem registam os livros de História de vários continentes.
O medo da morte aflige uma grande maioria dos habitantes da Terra,trazendo a inquietação e a angústia, sobretudo para aqueles cuja morte se aproxima.
Outra situação de dor e de incerteza é a perda de entes queridos, atingindo o falecimento de parentes na idade juvenil uma incompreensão dolorosa, muito difícil de entender, para além do negrume inexplicável da própria morte.

A VIDA DEPOIS DA MORTE –CONHECIMENTO AO ALCANCE DE TODOS

Na actualidade, o estudo dessas ideias, com elevado nível de aprofundamento e de provas experimentais muito sólidas está ao pleno alcance de todas as pessoas. Só depende de cada um de nós interessarmo-nos e desejar abordar esse estudo. Tem sido feito desde há muitos anos, nas reuniões tidas com assistência de pessoas especialmente dotadas com o naturalíssimo sentido da mediunidade, em reuniões especialmente organizadas para esse efeito.
Desde fins do século XIX, começos do século XX já não foi só em reuniões geralmente confidenciais e muito recolhidas. Já de há muito são feitas por médiuns muito conhecidos e prestigiados, sob os auspícios de investigadores de elevado nível académico, em instituições especializadas. Estudos devidamente organizados por interessados conhecidos, que já não foram perseguidos pela medonha inquisição para serem torturados ou queimados vivos por… “falarem com o demónio”.
É fácil conhecer todo esse universo, está ao alcance de todos.

O ESTUDO ESSENCIAL E COMPLETO DA OBRADE ALLAN KARDEC

Chamamos a atenção de uma ideia que se aplica a todos os escritos de Allan Kardec: não são obras para ler; as obras de Allan Kardec, são obras para estudar!…

Não é por uma simples leitura que se chega à compreensão adequada dos temas quedevem ser articulados a partir da leitura da obra, relacionando conteúdos entre si, pelo estudo cuidadoso das outras obras do mesmo autor.
Chamamos a atenção para a importância fundamental da REVISTA ESPÍRITA, tão largamente ignorada.
Há estudos sobre as obras de Allan Kardec que fazem referências concretas a certas passagens da mesma, sendo possível ter acesso imediato aos trechos citados e respetiva interpretação através da sua abundante disponibilidade internet.

Sugerimos como base de dados muitíssimo completa, a visita de: https://kardecpedia.com/.

COMO E ONDE EXISTE O ESPIRITISMO

O espiritismo, se existe e merece nome, é construído por nós, na autonomia do nosso pensamento. É fruto da nossa condição de Espíritos sujeitos ao itinerário já percorrido, ansiosos por avançar honestamente na parcela da verdade que nos for permitido construir no território amplo e livre da nossa consciência.
Ler, estudar e pesquisar é fundamental, para que o nosso pensamento se encontre com ideias novas, diferentes, pesquisadas e descobertas por outros seres como nós, empenhados na sua própria evolução, suficientemente generosos na partilha.
Vivemos a vida material responsáveis por todos os nossos atos e pensamentos, solidários com todos os nossos semelhantes. Enquanto vivos a categoria de seres dotados de consciência autónoma e livre arbítrio, permite-nos todo o tipo de diligências de associação cultural.

Mas no momento do regresso à pátria espiritual, no voo livre pelo túnel palpitante que nos conduz à luz da paz infinita, vamos sós, levando connosco o que pensámos, dissemos e fizemos durante toda uma curta vida. São essas aquisições que nos guiam, frente a novos e magníficos desafios que se seguirão.

José da Costa Brites e Maria da Conceição Brites

Notas importantes: Os autores da tradução desta e de outras obras de Allan Kardec têm seguido com muita atenção todos estes estudos, individualmente, em clima de total independência cultural e ideológica.

Seguem as suas próprias ideias e não são afectos a nenhum sector com diretrizes pré-definidas. O nosso trabalho de investigação e estudo do espiritismo encontra-se à disposição de todos em fontes de consulta residentes na internet, entre elas:

“palavraluz.com” e “espiritismocultura.com”.

Pessoalmente estamos totalmente disponíveis para depoimentos, observações e críticas,através do e-mail: espiritismo.cultura@gmail.com

Para descarregar a versão mais recente ver na coluna do lado direito


PELA MAGNÍFICA QUALIDADE ESTÉTICA DA OBRA CINEMATOGRÁFICA CITADA, E PELO FACTO DE SER POSSIVEL COMPAGINAR A SUA CONTEMPLAÇÃO COM A LEITURA DO EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS, O QUE FRANCAMENTE SE RECOMENDA, NÃO EXITAMOS ENTREGAR AOS LEITORES O VISIONAMENTE COMPLETO DO FILME RESPECTIVO.

Tradução de “A Génese” de Allan Kardec, para português de Portugal

para ter acesso ao ficheiro Pdf basta clicar na imagem

O ESPIRITISMO, REENCONTRO E CLARIFICAÇÃO

O Espiritismo encontra-se num momento extraordinário de reencontro e de clarificação de erros fundamentais que o mantiveram na penumbra dos mais graves equívocos, desde o momento em que faleceu o seu fundador, Allan Kardec.

É essencial que os leitores de “A Génese”, e também de “O Céu e o Inferno”, cuja tradução inteiramente fiel aos originais legítimos também já estamos a fazer, tomem conhecimento das falsificações deliberadas que foram feitas nestas duas obras, logo após o falecimento do seu autor.
Essas versões falsificadas têm sido publicadas durante todo o tempo até hoje, com um conteúdo que não é especiosamente diferente das obras originais: é o conteúdo dessas obras especializadamente alterado.

O ESCLARECIMENTO FUNDAMENTAL DE QUEM INVESTIGOU

Para ilustrar convenientemente estes temas recorremos, como finalização desta abertura, a dois textos muito importantes e recentes da autoria do conhecidíssimo investigador espírita Paulo Henrique de Figueiredo e da sua compatriota, igualmente investigadora e ativa divulgadora do espiritismo: Simoni Privato Goidanich.
Têm o intuito de revelar acontecimentos que tiveram lugar em França, logo após o falecimento de Allan Kardec, e que viriam a ter consequências muitíssimo graves para o teor e desenvolvimento do espiritismo.
Esclarecemos que a tradução que fizemos deste livro, seguiu os verdadeiros originais da autoria de Allan Kardec, expurgando todas as modificações muito especializadas que transformam radicalmente a sua verdadeira mensagem. Um prefácio que explicasse toda esta complexa ordem de razões, além de certos aspectos dos nossos próprios pontos de vista seria impossível, porque os temas são vastos.
Nestas nossas páginas da internet publicaremos em breve bibliografias base a respeito destes temas, de obras para descarga livre.

Temos dedicado os últimos anos da nossa vida a ler e a traduzir Kardec, tarefa que se nos afigura fundamental para nossa própria conveniência intelectual e moral.
Felizmente que o espiritismo é uma cultura para ser assimilada pelo indivíduo, de acordo com a liberdade que a sua intuição lhe permite alcançar. A autonomia da vontade e do raciocínio confere a independência necessária para ir adiante, adotando as melhores ideias e o nível da evolução espiritual de cada um.
Embora achemos fundamental a comunicação entre as pessoas, na troca de ideias de progresso e evolução, aconselhamos que essa busca seja independente e livre, apelando à razão e ao livre arbítrio.
Esse é, na assimilação de princípios de humanismo progressista, o caminho mais concreto para o entendimento, para a compreensão, numa palavra – PARA A PAZ NO MUNDO.

 Não fazemos parte de nenhum grupo espírita, nem obedecemos aos princípios de nenhum sector de opiniões. Fazemos a nossa própria investigação, de acordo com as nossas possibilidades e a nossa sensibilidade intelectual.

Maria da Conceição Brites e José da Costa Brites
Lousã/Portugal −  Ano de 2020

 

 

O derradeiro e conclusivo livro de Allan Kardec

Por PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO
(Texto de Apresentação de “A Génese – Os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo” – Obra original conforme a primeira edição autêntica de Allan Kardec, Edição da FEAL, São Paulo/Brasil, 2019)

No ano de 2018, veio à tona o relevante debate sobre as alterações realizadas na quinta edição francesa do livro “A Génese”, publicada após a morte de Allan Kardec, no ano de 1872, em Paris.
No livro “O Legado de Allan Kardec”, a pesquisadora Simoni Privato Goidanich demonstra, por meio de provas obtidas nos Arquivos Nacionais e na Biblioteca Nacional de França, que três anos após a desencarnação de Allan Kardec, de forma oculta, sem conhecimento da esposa e sua única herdeira, foi feita uma quinta edição com centenas de alterações do seu texto original. (GOIDANICH, Simoni Privato. O Legado de Allan Kardec. 1. Ed. USE/CCDPE, 2018 p. 163, 166 e 167-168)
A amplitude dessas alterações foi proporcional à importância dos conteúdos da obra. Desde 1863, Allan Kardec já fora avisado antecipadamente pelos Espíritos dos obstáculos que seriam enfrentados pela causa espírita, em mensagem do Espírito Erasto:
“A luta espera-vos! Não serão martirizados corporalmente, como nos primeiros tempos da igreja, nem se levantarão fogueiras homicidas, como na Idade Média, mas torturar-vos-ão moralmente.
Serão montadas armadilhas; emboscadas ainda mais perigosas quando nelas forem utilizadas mãos amigas. Agirão na sombra. Receberão golpes sem saber de onde vêm, e serão atingidos em pleno peito pelas flechas envenenadas da calúnia.
Nada faltará às vossas dores; irão provocar deserções nas vossas fileiras, e pretensos Espíritos, perdidos pelo orgulho e pela vaidade, vão apresentar-se como independentes exclamando:

“Somos nós que estamos no verdadeiro caminho!”, a fim de que vossos adversários natos possam dizer: “Vejam como estão unidos!”.
Tentarão semear o joio entre os grupos, provocando dissidências.
Arrastarão os seus médiuns para fazê-los entrar no mau caminho ou desviá-los de frequentarem os grupos sérios; alguns serão intimidados, outros serão dominados, todas as fraquezas serão exploradas.
Depois, não esqueçam que alguns enxergaram no Espiritismo um papel a desempenhar, e um papel principal, e que sentem hoje mais do que uma desilusão nas suas ambições.
Vão prometer-lhes num lado o que não podem encontrar noutro. Depois, enfim, com o dinheiro, tão poderoso no vosso século atrasado, é fácil encontrar comparsas para representar comédias indignas, com o objetivo de lançar o descrédito e o ridículo sobre a doutrina”. (Erasto, instruções dos Espritos: a guerra surda. Paris, 14 de Agosto de 1863.  Revista Espirita, Dez. 1863)
Como é que poderia ter sido falsificada “por mãos amigas agindo na sombra”, a última obra fundamental do legado de Allan Kardec? Como poderia sofrer tão perigosa emboscada, como avisaram e previram os Espíritos superiores, permanecendo esquecida durante 150 anos a versão original e legítima?
Será necessário recuar no tempo, para descrever a luta que teve de travar a esposa de Kardec, vinte anos depois da sua morte, com a ajuda de espíritas fiéis, para ser mantida a doutrina no caminho apontado pelo mestre.
Por mais natural que fosse, a sua morte abalou todos os Espíritas que estiveram tranquilos enquanto o mestre se manteve ao leme, apontando caminhos e desviando pedras.
Mas ainda faltava cair sobre todos os franceses o “ano terrível”, com foi chamado por Victor Hugo o ano de 1872, evocando Paris sitiada pelas tropas alemãs e o sacrificado povo em luta nas barricadas da Comuna.
Em Janeiro de 1881, nove anos depois, um grupo de amigos da família e médiuns reúnem-se em Villa Ségur, Paris, na casa da viúva Amélie Boudet, e recebem mensagens de Rivail, em que afirmou:
“A doutrina ficou adormecida desde que parti. Era impossível que fosse de outra forma, já que o meu súbito desaparecimento não me deu tempo para pôr de pé uma coletividade homogénea que continuasse o trabalho que havia sido iniciado.
As desgraças que surgiram na nossa querida pátria obrigaram cada um a trabalhar materialmente para melhorar a própria situação e a de nosso querido país. Em tais circunstâncias, é necessário compreender que os Espíritas, embora sendo os primeiros apóstolos, tiveram primeiramente o dever de satisfazer as necessidades diárias das suas famílias sem recursos”.  Berthe FROPPO, Beacoup de Lumière. Paris, França: Imprimerie Polyglotte, 1884.
Infelizmente, porém, os factos agravaram-se, e a “Sociedade Anónima da Caixa Geral e Central do Espiritismo” para a continuação das Obras de Allan Kardec e a Revista Espírita − jornal de estudos psicológicos − por responsabilidade de seus administradores, não permaneceram no caminho traçado pelo mestre, divulgando desvios da doutrina, provocando dissidências e semeando o joio no movimento espírita. Rivail continua:
“Não te disse, Amélie, querida companheira de meus trabalhos, que para o futuro tinhas que olhar por ti, por mim e pelo Espiritismo? Cabe-te a ti, portanto, retificar aquilo que tem sido manchado por erros. Cabe-te a ti distinguir os Espíritas abnegados e devotados, que serão chamados a continuar o que eu iniciei, formando uma sociedade nova para continuar as minhas obras. Começa, para já, a mudar as disposições existentes em favor desta velha sociedade, entregando-as à que vai ser formada e que terás a missão de dirigir”.
Surge uma nova instituição, a União Espírita Francesa. Na véspera do Natal, mais de 400 Espíritas uniram-se a Amélie Boudet, a sua querida amiga e médium Berthe Froppo, a Gabriel Delanne, Léon Denis e tantos outros. Uma comissão central de 30 membros nomeados pela assembleia geral assumiu as recomendações de Allan Kardec na “Constituição transitória do Espiritismo”. Um novo jornal, Le Spiritisme (O Espiritismo), resume no seu título tudo o que deseja divulgar!
Henri Sausse, um dos principais biógrafos de Allan Kardec, colaborador de Le Spiritisme e participante ativo da União Espírita Francesa, no Inverno de 1883-1884, reunido com diversas testemunhas, ouviu de um lionês, dizendo ser amigo pessoal de Leymarie, que este havia feito modificações n’A Génese. Surpreendido com tal noticia, comparou frase a frase com a edição original e constatou as modificações. A esse respeito, comenta Simoni Privato Goidanich:
“Henri Sausse não podia calar-se diante de um fato tão grave. Com a sua conhecida coragem e a sua fidelidade doutrinária, publicou, em Dezembro de 1884, no periódico Le Spiritisme, um artigo que constitui um marco na historia do Espiritismo, denominado “Uma infâmia”: “Contra a minha vontade, sou levado pela indignação que transborda a minha alma. (…) (A Génese sofreu importantes mutilações!”. (GOIDANICH, Simoni Privato. O Legado de Allan Kardec. p. 317, 319 e 320)
Com uma armadilha montada nas sombras, pretensos amigos cheios de orgulho e vaidade, com alterações de autoria desconhecida, modificaram a última obra de Kardec, afastando os leitores das suas verdadeiras palavras, profanando as suas linhas com falsas palavras.
Chegou, todavia, a hora do resgate! Há que restituir a verdade, retomando a obra primeira, genuína e definitiva em toda a sua integridade.
A historia do Espiritismo precisa de ser recuperada e divulgada, profundamente conhecida pelos espíritas, para fazer justiça aos dedicados trabalhadores da causa, e dar a Allan Kardec a justa originalidade de seus escritos, tarefa que ele mesmo considerou fundamental:
“Ao Espiritismo, sendo incontestavelmente chamado a desempenhar um grande papel na História, importa que esse papel não seja desnaturado, opondo a verdade autêntica às histórias apócrifas que o interesse pessoal poderá inventar. O Espiritismo está no seu início, e muitas outras coisas se passarão daqui em diante. É preciso esperar que cada um tome nele o seu devido lugar”. (KARDEC Allan. Revista Espirita, Outubro 1862)

Os factos e as provas irrefutáveis

Por SIMONI PRIVATO GOIDANICH

(Texto inscrito na Apresentação de “A Génese – Os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo” – Obra original conforme a primeira edição autêntica de Allan Kardec, Edição da FEAL , São Paulo/Brasil, 2019 )

A publicação por Allan Kardec de “La Génese, Les miracles et les prédictions selon Le Spiritisme” (“A Génese”) foi documentada pelo governo francês que, naquela época, exercia um controle rigoroso sobre a atividade editorial. A impressão de qualquer livro necessitava ser registada e autorizada pelo Ministério do Interior. Além disso, era obrigatório depositar exemplares em instituições governamentais, como a Biblioteca Imperial, sucedida pela Biblioteca Nacional da França.
Documentos oficiais do Ministério do Interior da época, que atualmente se encontram nos Arquivos Nacionais da França (ANF), bem como na Biblioteca Nacional da França (BNF) provam de maneira categórica que, até ao falecimento de Allan Kardec, o livro “A Génese” foi impresso sempre com o mesmo conteúdo.
Trata-se do conteúdo do exemplar depositado legalmente em 4 de Janeiro de 1868, que atualmente faz parte do acervo da BNF. Sempre com esse mesmo conteúdo, foram impressas, durante a existência física de Allan Kardec, quatro edições da obra. Inclusive no mês anterior a seu falecimento, Allan Kardec mandou imprimir mais 2 mil exemplares desse mesmo conteúdo.
Documentos dos ANF e da BNF, os próprios exemplares das edições publicadas por Allan Kardec e outros factos provam, de maneira irrefutável, que a quarta edição foi a ultima que Allan Kardec publicou durante sua existência física.
Portanto, a edição definitiva de “A Génese”, de Allan Kardec, é a quarta, datada de 1868, cujo conteúdo, igual ao das três anteriores, coincide totalmente com o exemplar depositado legalmente em 4 de Janeiro de 1868, que faz parte do acervo da BNF.
No entanto, em lugar do conteúdo definitivo de “A Génese”, passou a ser difundida, depois do falecimento de Allan Kardec, a quinta edição, “revista, corrigida e aumentada”, que, desde o seculo XIX, tem sido objeto de importantes interrogações no movimento espírita. Documentos oficiais dos ANF provam, de maneira contundente, que a quinta edição, “revista, corrigida e aumentada”, foi depositada legalmente em 23 de Dezembro de 1872, ou seja, mais de três anos depois do falecimento de Allan Kardec, ocorrido em 31 de Marçgo de 1869.
Portanto, a quinta edição, modificada, não foi publicada nem depositada legalmente por Allan Kardec.
As modificações encontradas na quinta edição, “revista, corrigida e aumentada”, são significativas não somente pela quantidade, mas, sobretudo, no que se refere ao conteúdo doutrinário.
Na quinta edição, foram suprimidos e modificados, entre outros, conteúdos que tinham sido desenvolvidos na Revista Espírita e que, confirmados segundo os critérios espíritas, foram publicados por Allan Kardec em todas as edições que ele fez de “A Génese”, em vida.
Além disso, foram acrescentadas, na quinta edição, passagens com erros, inclusive doutrinários, alguns de caráter supersticioso, e outros trechos que constituem fortes indícios de que a autoria dessa edição post mortem “revista, corrigida e aumentada” não foi da responsabilidade de Allan Kardec.
A responsável pela quinta edição de “A Génese” foi a “Sociedade Anónima da Caixa Geral e Central do Espiritismo”, instituição dirigida por Pierre-Gäetan Leymarie, para a qual Amélie Boudet, viúva Rivail, havia doado, de boa fé, todos os direitos sobre as obras de Allan Kardec.
Foi em sua resposta ao artigo “Uma infâmia”, de Henri Sausse, que a Sociedade Anónima, 12 anos depois da publicação da quinta edição, rompeu o silêncio que havia mantido perante o movimento espírita sobre as modificações introduzidas no conteúdo depositado legalmente e publicado por Allan Kardec em “A Génese”.
A Sociedade Anonima alegou que a obra foi revista, corrigida e aumentada por Allan Kardec na quarta edição, em 1868, e que o mestre havia feito, em vida, seis edições.
Entretanto, a versão da Sociedade Anónima é claramente refutada por documentos dos ANF e da BNF, bem como pelos próprios exemplares das quatro primeiras edições, além de outras provas.
Com base nesses fatos, a “Confederación Espiritista Argentina” traduziu para o espanhol e publicou, em 2017, o conteúdo definitivo de “A Génese”, depositado legalmente em 4 de janeiro de 1868.
Essa tradução tem sido amplamente difundida nos países de língua espanhola.
Tanto o livro “O Legado de Allan Kardec”, originalmente em espanhol, como a tradução do conteúdo definitivo de “A Génese” foram divulgados no 4º Congresso Espírita Sul-Americano, realizado em Bogota em Outubro de 2017.
No inicio de 2018, o Movimento Espírita Francófono também lançou, em coordenação com o Conselho Espírita Internacional, o conteúdo definitivo de “A Génese”.
Nos demais países que publicam a obra de Allan Kardec, o caminho da restauração está sendo trilhado.

Uma pausa que não é para descansar…

Lousã, vista para Nordeste

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De acordo com as informações estatísticas de que dispomos estão a aumentar as visitas de portugueses e de pessoas de língua portuguesa residentes em vários países à volta do mundo.

Registamos com muito agrado, e agradecemos, o progressivo aumento de SEGUIDORES, a quem cumprimentamos amistosamente, sugerindo a mesma atitude a todo o restante número de visitantes.

Estando impossibilitados de prosseguir com continuidade as publicações nestes blogues por estarmos monopolizados pela finalização da tradução para português de Portugal de “A Génese” e pela pesquisa de várias obras fundamentais para a sua mais adequada compreensão:

SOLICITAMOS A TODOS OS AMIGOS E SEGUIDORES QUE DIVULGUEM O VASTO CONTEÚDO DAS NOSSAS PUBLICAÇÕES E TRADUÇÕES, na procura de novos interessados na importantíssima cultura que aqui se encontra divulgada, COM PLENA INDEPENDÊNCIA, sem qualquer espécie de influência, que não seja a que diz respeito aos próprios ensinamentos de ALLAN KARDEC e dos seus mais fiéis seguidores.

A todos muito agradecidos pela Vossa preciosa atenção, a todos enviamos as mais fraternas saudações e votos de perfeita saúde.

Coimbra, de um desenho a grafite, s/ Steinbach-Malmedy, Costa Brites

É favor consultar, na coluna à direita, uma lista dos conteúdos publicados. É favor ver, sobretudo, a mesma lista de conteúdos publicada em “espiritismo cultura”

 

 

CSAK – Nancy / França

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Há já muitos anos que visitamos o site do Cercle Spirite Allan Kardec – CSAK, activo na cidade de NANCY, em FRANÇA, que conhecemos os seus principais expoentes e a sua extraordinária tarefa em favor da cultura espírita.
Lemos livros que estão publicitados na sua livraria, muitos textos publicados na internet, nos diversos sites que tem em França e no seu forum e sobretudo, temos tido a possibilidade de acompanhar a imensa riqueza que vem sendo publicada há vários anos no seu Journal Spirite.
É costume ouvir dizer que o espiritismo decaiu em França desde o falecimento de Allan Kardec, sendo de lamentar o facto que tenham sido exatamente os seus compatriotas que deixaram esquecer o seu precioso património de conhecimentos e de ideias.
No que nos diz respeito, consideramos que em França – sem desprimor para outras entidades igualmente ativas na divulgação e no estudo do espiritismo – o profundo conhecimento dessa cultura e dessa atitude do intelecto e do conhecimento humanos estão magnificamente representados pelo Cercle Spirite Allan Kardec.
O que se passa é que em França, como em muitos outros países, determinantes insondáveis relacionadas com o próprio desenvolvimento das pessoas, muitos fatores se têm conjugado para que a Humanidade permaneça distante do interesse ativo e esclarecido de fenómenos que nos determinam de forma transcendentemente complexa.
A atenção, apreciação e o estudo de todo o imenso saber e de toda a dinâmica de intervenção cultural que caracterizam o Cercle Spirite Allan Kardec pode abrir, a todos nós, uma nova e extraordinária perspetiva da vida e do mundo, isto é, da magnífica transcendência da natureza, da origem e do destino de toda a criação.

Teríamos muitíssimo gosto em poder apresentar todo este manancial traduzido em português. De todo o trabalho que aqui temos apresentado constam trabalhos importantes, originalmente escritos noutras línguas estrangeiras. Mas essa tarefa, pela sua extensão, ser-nos-ia impossível de realizar. Confiamos mesmo assim que o francês, por ser uma língua que nos é muito próxima pelas suas origens e pelo seu desenvolvimento cultural, seja do conhecimento de um vasto número dos nossos visitantes de língua portuguesa.

A magnífica revista do CENTRE SPIRITE ALLAN KARDEC

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Journal Spirite N°119
Dossier : Médiums à écriture et médiums artistes Quarante-quatre années de communications avec l’au- delà, auprès de médiums accomplis, nous permettent de répondre à de multiples interrogations concernant la médiumnité. Années longues et difficiles, mais aussi pleines de bonheurs, de victoires, où de nombreux candidats à la médiumnité se sont essayés à l’expérimentation. Certains ont […]

 

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Journal Spirite N°118
DOSSIER : LES POUVOIRS DE LA PENSÉE Au regard de la science, nos progrès dans le domaine scientifique nous conduisent à élucider un grand nombre de phénomènes naturels, des phénomènes qui jadis suscitaient des croyances et des superstitions. Et si une explication n’est pas donnée à un phénomène quelconque, le quorum scientifique considère que tout […]

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Journal Spirite N°117
DOSSIER : LE GUIDE SPIRITUEL «Guide spirituel» est un terme très employé aujourd’hui. Il suffit simplement de taper ces deux mots sur un moteur de recherche pour s’apercevoir qu’une multitude de sites Internet traitant de ce sujet, existent. On trouve des définitions parfois complètement opposées les unes aux autres avec souvent une connotation religieuse et […]

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Journal Spirite N°116
Dossier : La vie et l’œuvre d’Allan Kardec C’est à Lyon, le 3 octobre 1804, dans une famille bourgeoise, que naît Hippolyte Léon Denizard, fils du juge Jean-Baptiste Rivail et de Jeanne Duhamel, son épouse. En naissant dans cette ville, sa vie était prédestinée. À cette époque, ce haut lieu de la spiritualité qui s’illustre […]

 

Journal Spirite N°115
Dossier : La vie des esprits dans l’au-delà Il est difficile pour nous humains qui vivons dans les vibrations lourdes de la matière d’imaginer ce que peut être la vie hors de la vie charnelle, dans la mort, dans l’au-delà. D’abord, il convient de faire des distinctions selon l’état dans lequel se trouve l’Esprit et […]

 

Journal Spirite N°114
Dossier : Les précurseurs du spiritisme – Gabriel Delanne et le spiritisme devant la science – Alexandre Aksakov, un spirite au pays de tsars – Rufina Noeggerath dite “Bonne Maman”, une apôtre du spiritisme – Henri Sausse, spirite Lyonnais – Camille Flammarion, astronome et spirite – Léon Denis, une vie dans la lumière du spiritisme […]

 

Journal Spirite N°113
Dossier Spiritisme et médiumnité Lors d’une première transe, l’esprit du médium se dédouble, il s’extériorise de son corps et comme le décrivait Michel Pantin : «Je me sens basculer en arrière et puis plus rien.» Le médium perd connaissance, son esprit dédoublé s’éloigne de son physique comme cela survient d’ailleurs inconsciemment dans certaines phases du […]

Journal Spirite N°112
Dossier : Les expériences de mort imminente (EMI) et la survie de l’esprit Après avoir été déclarées cliniquement mortes, à la suite d’un coma ou d’un accident grave par exemple, certaines personnes ont pu être ramenées à la vie grâce aux méthodes de réanimation. Parfois, elles ont témoigné être sorties de leur corps, avoir traversé […]

 

Journal Spirite N°111
Dossier : Les Facultés Psychiques Les Esprits nous enseignent que la pensée est une énergie, une force par laquelle l’esprit peut agir sur la matière qui l’environne et sur des personnes mortes ou vivantes. C’est une vibration, un fluide qui s’extirpe de notre esprit pour se véhiculer dans l’espace et ensuite atteindre son objectif. «Celui […]

Journal Spirite N°110
Dossier : Gustave Geley, un précurseur scientifique du spiritisme «La doctrine palingénésique me paraît, au point de vue moral, pleinement satisfaisante ; au point de vue philosophique, absolument rationnelle ; enfin au point de vue scientifique, vraisemblable et mieux encore probablement vraie.» «La Réincarnation» – G. Geley – Juillet 1912 Ce propos introductif du Dr […]

Journal Spirite N°109
Dossier : Le Périsprit ou coprs éthérique À l’aube du 20e siècle, Gabriel Delanne présentait dans son ouvrage L’âme est immortelle un ensemble d’observations et d’expériences faites à son époque, démontrant l’existence d’un double fluidique de l’être humain. En effet, si les expérimentateurs spirites réussirent à fournir la preuve de l’existence du périsprit par le […]

 

Journal Spirite N°108
Dossier : Le Rêve, porte ouverte sur l’au-delà En soixante ans d’une vie, nous aurons passé en moyenne vingt ans à dormir et cinq ans à rêver, ce qui est considérable. Paradoxalement, nous ne nous intéressons en général que trop peu à ce tiers de notre vie, pressée à l’état de veille pour gagner la […]

Journal Spirite N°107
Dossier : Le spiritisme face à la science Nous allons ici tenter de montrer voire démontrer que le spiritisme, qui est avant tout reconnu comme philosophie, est aussi une science. Nous commencerons par une définition générale de la science, pour y inclure en conséquence la plupart des disciplines dont elle est le nom. Nous […]

Le Journal Spirite N°106
Dossier : Les grandes questions de société «Il faut pour de nombreuses années comprendre que dans une vaste mutation technologique, toute une génération aura été sacrifiée à l’autel du chômage. Ceux qui affirment le contraire vendent du rêve. En vérité, il faudra retirer de cette pénible situation, un esprit positif, un esprit solidaire, j’allais dire […]

 

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Journal Spirite N°105
Dossier : L’Art et l’esprit Depuis leur au-delà, nombreux sont les artistes qui se sont manifestés à nous, pour nous crier leur joie de continuer de vivre et de créer, mais aussi de partager leurs connaissances et même si nous ne sommes pas tous médiums, chacun peut tout imaginer, chacun peut tout créer, comme […]

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Journal Spirite N°104
Dossier : Spiritisme & Religion Le spiritisme a souvent été considéré comme une religion, et depuis sa naissance avec Allan Kardec, la question fait encore débat dans certains milieux spirites où l’on dit qu’Allan Kardec lui-même n’avait pas totalement tranché la question en fonction du contenu sémantique que l’on pouvait donner au mot religion. Est-ce […]

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Le Journal Spirite N°103
Dossier : Fantômes et maisons hantées Les apparitions de Jésus Victor Hugo et les fantômes de Jersey Les fantômes du Trianon Fantômes insolites Le fantôme de Geneviève de Rustéphan Fantômes et hantises dans l’histoire du Cercle Les fantômes des vivants Sauvés par des fantômes Les poltergeists Les fantômes, stars de cinéma Les fantômes des vivants […]

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Le Journal Spirite N°102
Dossier : Les preuves de la réincarnation La réincarnation à travers les âges La nécessité des vies successives Le sens de la réincarnation Les accidents de réincarnation Les preuves de la réincarnation Les nouvelles réincarnations, espoir pour le futur Un père réincarné dans sa propre descendance Les réminiscences de Laure Reynaud Naissances multiples, jumeaux et […]

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Le Journal Spirite N°101
DOSSIER : LES GRANDS MÉDIUMS Eva Carrière, médium à ectoplasmie / Florence Cook et le fantôme de Katie King / Jean Gusik et Franek Kluski, deux médiums exceptionnels / Madame Fraya, la renommée aux heures les plus sombres de l’histoire / Elisabeth d’Espérance 26 Eusapia Palladino, médium à effets physiques / Edgar Cayce, le médium des […]

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Le Journal Spirite N°100
DOSSIER : LES PRINCIPES DU SPIRITISME La question de Dieu / Les médiumnités développées dans le Cercle / Le spiritisme face aux enjeux de notre société / L’approche spirite de la réincarnation / Le rôle du périsprit / Les artistes médiums d’hier et d’aujourd’hui / Etre spirite aujourd’hui… Afficher le sommaire complet

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Le Journal Spirite N°99
Dossier : Spiritisme & Médecine Médecine de l’âme : la psychologie spirite / La pratique de l’hypnose dans le Cercle Allan Kardec / Le magnétisme dans le cadre spirite / La chirurgie spirite / La protogenèse / La phytothérapie / L’École de Nancy : Liébault et Bernheim / À propos d’un cas de sclérose en plaques / Évolution des théories sur le magnétisme […]

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Le Journal Spirite N°98
Dossier : Le Passage Ils sont venus décrire leur passage / A la mort, à l’amour / La mort et le trouble /Parce que je souffrais / L’influence des mauvais esprits / Rites funéraires, rites de passage / Le trouble perçu en clairvoyance médiumnique / Les NDE, un passage dans l’au-delà / Mon père s’en est allé pour ailleurs se réveiller […]

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Le Journal Spirite N°97
Dossier : La pluralité des mondes Camille Flammarion, étoile du spiritisme scientifique / Mystères de l’Egypte / La vie infinie selon Flammarion / Entretien avec Gildas Bourdais / Contrèes mystérieuses / Cas au Zimbabwe / Forum « au-delà des mots » / Les fresques non identifiées

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Le Journal Spirite N°96
Dossier : À la rencontre des esprits : 40 ans d’histoire D’hier à aujourd’hui : 40 ans / Quarante années de présence publique / Les délivrances / La médecine de l’âme, nouvelle définition / Hommage à nos doyens / La création des antennes du Cercle Allan Kardec / Michel, l’homme et le médium / Facultés […]

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Le Journal Spirite N°95
Dossier : La psychokinèse Entretien avec Jean-Pierre Girard / De la prothèse à la protogenèse / Influence de la pensée sur l’environnement /Transformer les molécules, un acte possible / Le cas Nina Kulagina / Apports et matérialisations dans le Cercle A.K. / Stanislawa Tomczyk, psychokinésiste d’exception / Un cas de psychokinèse en spiritisme : l’expérience […]

Journal Spirite 94 - Couverture

Le Journal Spirite N°94
Dossier : Les Médiumnités Sommes-nous tous médiums / De la clairvoyance expérimentales à la clairvoyance opérationnelle / Jeanne Laval (1895-1975) médium / La planchette oui-ja / L’écriture semi-automatique / La médiumnité à incorporation / Le sommeil magnétique / La médiumnité guérissante / Médiumnité et délivrance / Médiumnités artistiques / La transcommunication instrumentale

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Le Journal Spirite N°93
Dossier : Léons Denis, l’apôtre du spiritisme Léon Denis, pionnier du spiritisme / Christianisme et spiritisme / Conan Doyle et Léon Denis, un respect mutuel / L’apôtre du spiritisme devenu esprit / Rencontres spirites / La grande énigme / Le monde invisible et la guerre / L’expérience spirite de Léon Denis / Le problème de l’être et de la destinée / Léon Denis, ses […]

Le Journal Spirite 92

Le Journal Spirite N°92
Dossier : La pulsion divine et l’univers La naissance de l’univers / Le multivers / De la matière au spirituel : une histoire de particules / Le ciel et la terre d’hier et d’aujourd’hui / Esprit et matière / Nous deviendrons tous les auteurs de la vie / Les théories de l’évolution / Les forces inconnues de la tellurie

 

Couverture Journal Spirite 91Le Journal Spirite N°91
Dossier : Allan Kardec, le fondateur du spiritisme. Le Kardécisme aujourd’hui / Allan Kardec à la rencontre des esprits / Hippolyte Rivail, le pédagogue / La finalité spirite / Allan Kardec et son époque / Amélie Boudet ou la femme de l’ombre / Qui êtes-vous Monsieur Kardec ? / Les principaux ouvrages d’Allan Kardec / Le décès d’Allan Kardec

 

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Le Journal Spirite N°90
Dossier : Le paranormal au cinéma Sommaire

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Le Journal Spirite N°89
Dossier : Télépathie et force de la pensée / La faim dans e monde : entretien avec Jean Ziegler / La télépathie : coïncidence ou réalité ? / La force de la pensée.

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Le Journal Spirite N°88
Dossier : le guide spirituel / Guide et libre arbitre / Les signes du guide / La rencontre avec mon guide / Les phénomènes prémonitoires / Des guides s’expriment / Quand un guide aide d’autres guides / Guides artistiques et inspiration / Les sorcières de Salem / Spiritisme et religion / La psychokinèse…

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Le Journal Spirite N°87
Dossier : Gabriel Delanne et le spiritisme scientifique / Gabriel Delanne, apôtre du spiritisme / Messages de Gabriel Delanne / Gabriel Delanne et la métapsychie / »L’évolution animique » par Gabriel Delanne / Expériences à la Villa Carmen / L’âme est immortelle / L’extériorisation de la pensée / La villa du silence

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Le Journal Spirite N°86
Dossier : La clairvoyance / Swedenborg, Mme Fraya, Hélène Bouvier… / Le cas remarquable de Gérard Croiset / La clairvoyance dans le Cercle Allan Kardec / Pascal Fortuny : “Je lis dans les destinées” / Gérard Encausse dit Papus / Séances de clairvoyance sur tableaux médiumniques / Témoignage de réincarnation / Le guide spirituel

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Le Journal Spirite N°85

Dossier : L’écriture automatique / Ecriture intuitive et semi-automatique / Entretien avec Karine Chateigner sur la médiumnité / Entretien avec Igor Manouchian sur la musique et la poésie médiumniques / Astrologie et spiritisme / Revue de presse médicale / Les dames blanches existent-elles ? / Xénophobie et crise mondiale

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Le Journal Spirite N°84
Ce numéro est actuellement épuisé en format imprimé. Vous pouvez cependant vous le procurer en format PDF. Dossier : La vie des esprits dans l’au-delà / Le tunnel, passage incontournable vers l’au-delà / Que font les esprits dans l’au-delà ? / Séances de délivrance d’hier et d’aujourd’hui / Dialogues de délivrances / Passage dans l’au-delà […]

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Le Journal Spirite N°83
Ce numéro est actuellement épuisé en format imprimé. Vous pouvez cependant vous le procurer en format PDF. Dossier : Magnétisme et spiritisme / Franz Anton Mesmer / Le baron Dupotet / Deleuze, Puységur, James Braid, Charles Lafontaine / La famille Durville / Thérapies et soins spirites / Jonathan Livingston le goéland / Le spiritisme bouleverse-t-il […]

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Le Journal Spirite N°82
Dossier : NDE-EMI Expériences de mort imminente / le cas Pamela Reynolds / Raymond Moody et Elisabeth Kubler Ross / Les NDE négatives / NDE chez les aveugles / Recherches du Dr Pim Van Lommel, Mario Beauregard, Jean-Jacques Charbonier, Dr Erlendur Haraldsson, Ring et Cooper / EMI et Jung / Le bon sens spirite / […]

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Le Journal Spirite N°81
Dossier : Les pionniers du spiritisme / Allan Kardec, l’architecte indispensable / Alexandre Aksakof un pionnier russe / Charles Richet, la naissance de la métapsychie / Alphonse Bouvier, spiritualiste et humaniste / Le docteur Demeure / Arthur Conan Doyle, le Sherlock Holmes de l’au-delà / Mémoire et perpectives pour demain / Les Etrusques

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Le Journal Spirite N°80
Dossier : Enigmes de l’Histoire / Pistes de Nazca, crânes de cristal, boules du Costa Rica / Les lévitations de Thérèse d’Avila / Les stigmates de Catherine Emmerich / Les miracles de Lourdes et les secrets de Fatima / Enigmes historiques : le maréchal Ney, Jeanne d’Arc / Hommage à Michel Pantin : un homme […]

LE JOURNAL SPIRITE – A melhor publicação espírita que conhecemos

 

Journal Spirite N°111 Dossier : Les Facultés Psychiques / Les Esprits nous enseignent que la pensée est une énergie, une force par laquelle l’esprit peut agir sur la matière qui l’environne et sur des personnes mortes ou vivantes. C’est une vibration, un fluide qui s’extirpe de notre esprit pour se véhiculer dans l’espace et ensuite atteindre son objectif. «Celui […]

Le Journal Spirite

Créé en 1989, Le Journal Spirite est l’organe de presse et de diffusion de l’association Cercle Spirite Allan Kardec. Sa parution est trimestrielle et les différents rédacteurs sont des spirites appartenant à l’association. Cette revue aborde les thèmes attenant au spiritisme dans tous ses aspects, historiques, philosophiques et expérimentaux. Sont abordés également tous les sujets qui relèvent du paranormal, comme les NDE, les manifestations OVNI, les guérisons, la télépathie, la force de la pensée, le magnétisme, la radiesthésie, l’hypnose, etc.
L’enseignement spirite trouve également des applications dans tous les domaines de la connaissance et de la morale, c’est ainsi que dans cette revue, tous les sujets de société ont leur place, considérés et réfléchis à la lumière de la réincarnation et de l’éternité de l’esprit.

Le Journal Spirite peut être commandé sur ce site, à l’unité ou sous la forme d’un abonnement à la rubrique « Publications ». Il est également proposé en version PDF.
Les différents numéros du Journal Spirite sont pratiquement intemporels, de par leur contenu qui n’est pas seulement lié à l’information d’un moment, et de ce fait, peuvent être choisis en fonction des thèmes abordés et non pas nécessairement en fonction de l’actualité du dernier numéro.
Depuis plusieurs années, chaque revue fait l’objet d’un dossier thématique : La réincarnation, les fantômes, la médiumnité, les NDE, spiritisme et religion, spiritisme et science, spiritisme et médecine, la pluralité des mondes, le passage, etc. Se trouvent également dans cette revue des rubriques diverses : Soins et thérapies spirites (analyse des résultats : améliorations de santé ou guérisons), des compte rendus de diverses séances et des témoignages de spirites. Cher lectrice, cher lecteur, vous pourrez ainsi choisir d’anciennes revues en fonction d’un thème principal qui vous intéressera plus particulièrement.
Une presse spécialisée comme celle-ci a besoin de soutien. Nous comptons sur vous pour la faire connaître et la promouvoir dans votre entourage.
Vous trouverez ci-dessous des extraits d’articles parus dans Le Journal Spirite, et qui illustrent les grandes orientations du mouvement spirite tel qu’il est compris et actualisé au sein du Cercle Spirite Allan Kardec.
On pourra en outre consulter le forum de ce site qui apporte de nombreuses réponses, et pour une information plus complète sur différents sujets, se procurer la revue, à l’unité ou par abonnement à partir de la rubrique « Publications » de ce même site ..

Extraits


La Réincarnation
Les différentes croyances
Depuis les temps les plus reculés, l’idée de réincarnation a toujours fait partie des traditions antiques que ce soit sous la forme d’une croyance religieuse ou bien d’une conception philosophique plus élaborée. Toutes les doctrines religieuses, sans exception, comportent, dans leurs principes d’origine, l’idée de réincarnation, idée qui ne s’est pas toujours perpétuée et qui fut abandonnée, par exemple, chez les Hébreux, les Chrétiens et les Musulmans. La conception spirite de la réincarnation qui se suffit à elle-même, dans une définition logique, n’a pas la nécessité de s’appuyer sur d’anciennes traditions, mais il est cependant intéressant de constater qu’en différents points du globe, l’idée des vies successives fut intégrée à toutes les traditions spiritualistes. Même si l’idée fut abandonnée à partir du Haut Moyen Age dans la plupart des religions monothéistes, il n’en demeure pas moins que toute religion révélée comporte à l’origine le principe des vies successives. (…)
Thèmes développés dans la suite de l’article : Les traditions orientales, la Grèce antique, le druidisme… Le Journal Spirite n°42

Le principe de Réincarnation
La pulsion créatrice
Tous les esprits ont une origine que nous nommerons Dieu, par facilité de langage, sachant qu’il nous est impossible d’appréhender la notion de divin, sachant aussi, que toute tentative de définition de Dieu est toujours réductrice à vouloir rendre intelligible un concept qui dépasse la compréhension humaine.
Toutefois, nous pouvons avancer quelques notions générales qui n’enferment pas Dieu dans des limites. Nous pouvons simplement dire, avec la pauvreté de notre langage, que Dieu est une force infinie, une force d’amour incommensurable, à l’origine de toute chose et de toute vie, donc une force créatrice qui est une pulsion vitale. Cette pulsion vitale est la source créatrice à l’origine de chaque esprit individualisé. Chacun d’entre nous a connu un point de départ ; ce point zéro correspond à la pulsion divine qui nous a créés simples et ignorants, esprits individualisés à l’état brut, à l’état le plus primitif qui soit.
A l’état originel, cet esprit nouvellement créé devient à lui seul une force vitale, qui par nature, par instinct, va éprouver la nécessité naturelle de s’incarner pour se développer dans un univers de matière. (…)
Thèmes développés dans la suite de l’article : des lois naturelles, les premières incarnations, la loi d’évolution, le point oméga, le rôle du périsprit, le processus vital, de l’inconscient au conscient.
Le Journal Spirite n°42

Les preuves de la réincarnation
(…) A partir de la communication spirite, nous pouvons donc déduire que la réincarnation est mise en évidence sur le plan intellectuel selon une démarche philosophique. (…) Nous avons l’avantage de pouvoir utiliser des témoignages divers qui apportent des preuves objectives, des preuves qui viennent renforcer et confirmer l’enseignement théorique. (…) Différents moyens ont permis la mise en évidence des vies successives. Certains de ces moyens sont spécifiquement spirites, d’autres consistent à utiliser des témoignages qui ne font pas intervenir le contact avec les esprits.
(…)Thèmes développés dans la suite de l’article : révélation spirite de vies antérieures, revivre son passé sous hypnose, souvenir de l’antériorité à l’état conscient et taches de naissance (enquêtes de Ian Stevenson)
Le Journal Spirite n°42

Spiritisme et Religions
Le spiritisme n’est pas une religion
(…) En toute religion, il y a le concept de croyance à partir de textes anciens qui n’ont pas toujours une grande valeur historique. En cela la croyance religieuse s’appuie souvent sur le mythe ou la légende. En spiritisme, on ne retient plus que les faits, qui passés au crible de la raison, ont permis de déterminer certains principes qui s’enchaînent et s’imbriquent dans une cohérence, ce à partir de quoi naissait la philosophie spirite, élaborée par Allan Kardec et étayée par des faits expérimentaux. La connaissance supplantait alors la croyance. La divinité n’était plus le Dieu vengeur d’une religion, mais une force originelle dont on pouvait deviner les desseins. L’au-delà n’était plus un lieu mythologique de félicité ou de damnation. Les anges et les démons, passaient de la réalité au symbole, devenant des esprits plus ou moins évolués. Les miracles devenaient des faits médiumniques, attestant de la manifestation des esprits. Jésus n’était plus l’incarnation de Dieu, mais celle d’un esprit supérieur et en même temps médium. La réincarnation devenait un principe universel d’évolution intellectuelle et morale, dans la pluralité des mondes habités.
L’expérience spirite est devenue le support concret de la foi, une foi raisonnée et comprise qui ne fait plus appel au sens du mystère, mais à un enchaînement de principes qui ne contredisent plus les lois de la nature. Toute religion est à un moment donné en contradiction avec les lois de la nature. Le spiritisme ne l’est plus, c’est aussi en cela qu’il échappe à la définition religieuse au profit d’une définition philosophique étayée par des faits scientifiquement analysables. (…)
Le Journal Spirite n°64

Au Vatican, une nouvelle approche…
En 1996, l’Eglise, pour la première fois, reconnaissait la possibilité des contacts avec l’au-delà, par la voix du Père Gino Concetti. Ce frère de l’ordre des Franciscains Mineurs, est un des théologiens les plus compétents du Vatican et commentateur de l’Osservatore Romano, le quotidien officiel du Saint-Siège. Le dialogue avec les défunts n’est plus un péché si toutefois cela se pratique sous « l’inspiration de la foi ». Ce qui fut en d’autres temps considéré comme manifestation subtile d’inspiration diabolique prend une tournure bien différente selon le théologien : «Dieu permet à nos chers défunts qui vivent dans la dimension ultra terrestre d’envoyer des messages pour nous guider en certains moments de notre vie. A la suite des nouvelles découvertes dans le domaine de la psychologie sur le paranormal, l’Eglise a décidé de ne plus interdire les expériences de dialogue avec les trépassés, à condition qu’elles soient menées avec une sérieuse finalité religieuse et scientifique».
Les principes du catholicisme ne sont certes pas oubliés, mais la conception de la vie future s’est quelque peu infléchie. Notons que dans le passage qui suit, l’enfer et le jugement dernier ne sont plus évoqués :
«Tout part de la constatation que l’Eglise est un unique organisme dont Jésus-Christ est le chef. Cet organisme est composé des vivants. C’est à dire aussi bien du peuple des fidèles sur la terre que des trépassés, qu’ils soient les bienheureux et les saints qui sont dans la paix de l’esprit au Paradis, que des âmes qui doivent expier leurs péchés au Purgatoire. Ces trois dimensions non seulement sont unies à Jésus, mais dans le concept de la « communion des saints », sont unis ensemble. Ce qui signifie qu’une communication est possible.»
Selon la doctrine catholique ainsi revue et corrigée : «Les messages peuvent nous parvenir non pas à travers les paroles et les sons, c’est à dire avec les moyens normaux des êtres humains, mais à travers des signes divers : par exemple par les songes, qui parfois sont prémonitoires, ou à travers des impulsions spirituelles qui pénètrent dans notre esprit, impulsions qui peuvent se transformer en visions et en concepts.»
A la question : tout le monde peut il avoir ces perceptions ? Le Père Concetti répond : «Ceux qui captent le plus souvent ces phénomènes sont les personnes sensitives c’est-à-dire les personnes qui ont une sensibilité supérieure à l’égard de ces signes ultra terrestres. Je veux parler des clairvoyants et des médiums. Mais les personnes normales peuvent avoir certaines perceptions extraordinaires, un signe étrange, une illumination soudaine. A la différence des personnes sensitives, elles peuvent rarement parvenir à interpréter ce qui se passe en elles et à intérieur d’elles-mêmes.»
Le théologien pose ensuite quelques gardes fous :
«L’Eglise permet de s’adresser à ces personnes particulières, mais avec une grande prudence et à certaines conditions. Les sensitifs auxquels, on peut demander assistance doivent être des personnes qui mènent leurs expériences, même avec des techniques modernes, en s’inspirant de la foi. Si ces derniers sont des prêtres, c’est encore mieux. L’Eglise interdit tous les contacts des fidèles avec ceux qui communiquent avec l’au-delà en pratiquant l’idolâtrie, l’évocation des morts, la nécromancie, la superstition et l’ésotérisme. Toutes les pratiques occultes qui incitent à la négation de Dieu et des Sacrements ».
Concernant les motivations des fidèles à entreprendre un dialogue avec les trépassés : «Il est nécessaire de ne s’approcher du dialogue avec les défunts que dans des situations de grande nécessité. Quelqu’un qui a perdu dans des circonstances tragiques son père ou sa mère ou son enfant ou bien son mari et ne se résigne pas à l’idée de la disparition. Avoir un contact avec l’âme du cher défunt peut déranger un esprit bouleversé par le drame. On peut s’adresser aux défunts si l’on a besoin de résoudre un grave problème de vie. Nos ancêtres, en général, nous aident et ne nous envoient jamais de messages qui portent atteinte ni à nous-mêmes ni à Dieu».
Le Père Concetti conclut :
«Il ne faut pas jouer avec les âmes des trépassés. Il ne faut pas les évoquer pour des motifs futiles pour obtenir par exemple un numéro du Loto. Il convient aussi d’avoir un grand discernement à l’égard des signes de l’au-delà et de ne pas trop les empathiser. On risquerait de tomber dans la crédulité excessive la plus suspecte. Avant tout, il ne faut pas aborder le phénomène de la médiumnité sans la force de la foi. On risquerait de perdre son équilibre psychique et de sombrer tout à fait dans la possession démoniaque.»

Nous avons là un infléchissement de la doctrine officielle de l’Eglise qui s’accorde avec l’air du temps. En témoigne également l’intérêt de prêtres pour le paranormal, ce que nous avons notamment constaté avec le père Biondi et ensuite avec le père François Brune. Cette évolution n’est certes pas une révolution, car on se garde bien de toucher aux dogmes et aux grands principes. Par exemple, le père Concetti, également interrogé sur l’homosexualité, garde une attitude de rejet, partant du principe que ce serait une défaillance supplémentaire concernant l’éducation des enfants déjà bien mise à mal dans nos sociétés modernes.
Nous sommes évidemment bien loin des grands principes du spiritisme (réincarnation), ce qui au demeurant est bien normal. Mais au moins, cette avancée officielle élimine l’ancien argument selon lequel toute communication ne pouvait être que le résultat d’une empreinte diabolique. (…)Le Journal Spirite n°64

Fantômes
Philippe témoigne
C’était une dizaine de mois après la mort de mon père, il est environ 18 heures et, installé au volant de ma voiture, je m’apprête à emprunter la route d’un village menant à mon domicile. Ce village a la particularité d’être en côte très abrupte et la rue assez étroite exige de la prudence et une vitesse limitée. Je jette machinalement un coup d’œil à mon rétroviseur intérieur quand soudain mon sang se glace et mon cœur se met à battre la chamade : mon père est là, assis sur la banquette arrière. Un réflexe immédiat et naturel me fait me retourner violemment : les sièges arrière sont déserts. Du même coup, ce geste me fait faire une embardée qui manque de me projeter contre un plot métallique du bord de la rue. Ayant rétabli la situation, mon regard se porte à nouveau sur le rétroviseur et j’y vois toujours mon père. Il est serein et me sourit. Ma première frayeur s’évanouit et j’essaie de profiter pleinement de cette vision tellement réelle. Il est vraiment là à me regarder, j’en sentirais presque son odeur et une foule de souvenirs arrivent en bouffées bienfaisantes. Il paraît si bienveillant à mon égard, la chaleur de son amour étreint tout mon être. Je ressens un bonheur immense m’envahir, je lui parle sans ouvrir la bouche, juste par l’esprit et il me répond que tout va bien pour lui. (…)
Le Journal Spirite n°70

Témoignage de Jean-Pierre.
Le matin de l’enterrement de ma mère, je me suis rendu à l’église, accompagné de ma grand-mère, afin de me recueillir en toute intimité. Placés à quelques mètres du cercueil, nous étions tous les deux silencieux, plongés dans nos pensées remplies de tristesse. A un moment, j’ai levé la tête puis j’ai regardé ce cercueil qui ne m’apportait que douleur et morosité. Soudain, j’ai vu ma mère debout à coté du cercueil. Elle était habillée comme je l’avais vue sur son lit après son décès. Elle portait sa robe jaune et grise que je connaissais depuis fort longtemps. Son visage était resplendissant, les marques de la souffrance n’étaient plus là, elle revivait. Puis elle m’a souri et a levé son bras. Elle m’a dit au revoir d’un signe de la main, avant de disparaître. (…)
Le Journal Spirite n°70

L’ectoplasme
Les représentations de la substance
La substance se constitue en représentations diverses, généralement des représentations d’organes plus ou moins complètes et parfaites, par exemple un doigt pendant au milieu de franges de substance. (…) Des matérialisations sont progressives et commencent par une ébauche, tandis que les formations plus complètes n’arrivent que plus tard. C’est dans l’intérieur de la pâte gélatineuse, sortie du médium, que des figures, des doigts se forment peu à peu. (…) Les dimensions sont quelquefois plus petites que nature, de véritables miniatures. La matérialisation peut présenter des lacunes. De face, la matérialisation est complète mais le dos reste à l’état d’amas de substance amorphe. (…) On sait que différents observateurs, Crookes et Richet entre autres, ont décrit des matérialisations complètes. Il s’agissait, non pas de fantômes dans le sens propre du mot, mais d’êtres ayant momentanément toutes les particularités vitales d’êtres vivants, dont le cœur battait, le poumon respirait et dont l’apparence corporelle était parfaite. Dans les cas les plus remarquables, l’organe matérialisé a toutes les apparences et les propriétés biologiques d’un organe vivant. Il y eut des doigts admirablement modelés, avec leurs ongles ; il y eut des mains complètes, avec os et articulations, il y eut un crâne vivant dont on pouvait palper les os, sous une épaisse chevelure. Il y eut des visages bien formés, des visages vivants, des visages humains. En même temps que la matérialisation d’un corps humain, il y eut comme les expériences l’établissent, matérialisations d’objets, vêtements, tissus, étoffes. Une main s’est matérialisée avec une bague. (…)
Suite de l’article : formes vaporeuses, liquides ou solides de l’ectoplasme, couleur, visibilité, composition.
Le Journal Spirite n°65

Médiumnités dans le Cercle Allan Kardec
(…) Puisque nous avions alors la possibilité d’être informés par les esprits des facultés réelles des uns et des autres au travers d’un bon médium, nous avons retenu cette bonne formule, nous fiant aux conseils donnés par l’au-delà pour la réalisation de telle ou telle faculté indiquée. (…)
Le maître mot en médiumnité, c’est le «développement». On ne devient pas un bon médium du jour au lendemain car la sensibilité potentielle doit s’affiner avec le temps et l’expérience. Certains médiums ont une faculté qui s’affine très vite, d’autres ont besoin d’une progression beaucoup plus lente, parce qu’il existe des disparités dans les prédispositions qui sont inégales selon les personnes. Quoi qu’il en soit, chaque médiumnité révélée, si elle est sérieusement travaillée en respectant toutes les règles de prudence et d’analyse, ne peut que réussir, à la condition également que la personne concernée se donne une certaine rigueur et accepte les conseils spirituels ou humains, pour ne pas s’égarer dans des extrapolations hasardeuses. Il est souvent arrivé que des personnes échouent dans ce développement pour cause de peur, d’orgueil, de manque de volonté ou de manque d’équilibre psychologique. (…)
Le Journal Spirite n°45

Le Rêve
Le rêve et le songe
Au-delà des définitions psychanalytiques freudiennes et autres, les conceptions spirites permettent d’élargir considérablement toutes les données de la psychologie classique.
L’esprit véhiculé par le périsprit se dissocie du corps physique au moment de la mort, c’est le principe premier à partir duquel la communication spirite existe. Mais ce principe ne s’applique pas seulement au phénomène de la mort, il fut aussi observé à l’occasion d’expériences de dédoublement à l’état de veille, dédoublement qui s’opère également lors des phases du sommeil profond.
A plusieurs reprises au cours d’une nuit, l’esprit se libère de son entrave corporelle pour une durée totale qui n’excède pas deux heures, correspondant aux phases du sommeil paradoxal. Un lien fluidique permet au corps de conserver sa vitalité.
L’esprit momentanément délivré de ses chairs, rejoint sa véritable nature. Il peut se véhiculer dans l’autre dimension et entrer en contact avec le monde des esprits. Le dégagement nocturne est donc un état de perception de l’autre monde, qui permet la rencontre avec le guide et avec d’autres esprits qui prodiguent leurs conseils. Ces rencontres, la plupart du temps, ne laissent pas de souvenirs au réveil. Cependant, des traces inconscientes pourront ressurgir sous forme d’intuitions ou d’impressions au cours de la journée qui suit. (…)
Le Journal Spirite n° 64 / 76

Psychométrie
(…) Voici une clairvoyance sur objet (ou psychométrie) réalisée en aveugle sur un fragment de pierre :
« Je vois un mur, je vois un jeune homme, il est accroupi, il se dissimule. Je vois des miradors, il y a des projecteurs qui éclairent le mur. Le garçon a des cheveux longs châtains. Il est habillé d’un jean et d’un pull très long, on dirait un baba. Il lui reste une cinquantaine de mètres avant d’atteindre le mur. J’aperçois des hommes dans les tourelles, un qui tourne le projecteur, l’autre avec des jumelles. Le jeune homme a un sac plastique dans la main. Je le vois courir, il atteint le mur. Il est venu pour faire un graffiti. Il prend beaucoup de risques, c’est dangereux. Il est en train de dessiner deux personnages. On dirait un soldat américain et un soldat russe en train de se serrer la main. Au-dessus des têtes, je vois une colombe toute blanche. C’est un pacifiste. Il repart, j’entends des coups de feu. Je le vois étendu, il est mort. Je vois Guntard Schmid, il avait 22 ans.
Maintenant, je vois des gens, beaucoup de gens. Ils crient, ils sont heureux, ils ont l’espoir. Je vois des pioches, des marteaux. Ils cassent, chacun repart avec un morceau. Il n’y a plus de gardes, c’est la liberté. C’était le mur de Berlin. »
A l’issue de la séance, la personne qui avait fourni la pierre nous confirma que ce fragment provenait bien du mur de Berlin. (…)
Le Journal Spirite n°64

La Xénoglossie
Le cas Von Reuter
Dans les années 1920, M. Von Reuter et sa mère reçurent des messages en quinze langues diverses dont celles qu’ils ignoraient totalement : russe, magyar, norvégien, polonais, hollandais, lituanien, irlandais, persan, arabe et turc.
Mme Von Reuter opérait toujours les yeux bandés et elle écrivait souvent des langues ignorées en écriture invertie (en miroir), c’est-à-dire, que pour la lire, il fallait la réfléchir dans une glace. Il serait fastidieux de rapporter dans le détail les dialogues entre M. et Mme Von Reuter et leurs interlocuteurs s’exprimant en langues ignorées (se reporter pour plus de précisions à l’ouvrage de Bozzano). Il faut surtout retenir dans ce cas, l’extrême souplesse de deux médiums aptes à une xénoglossie médiumnique très diversifiée.
Pour les langues russe ou arabe qui ont un alphabet différent, les messages parvenaient sous forme phonétique et des linguistes furent sollicités pour apporter la traduction ou la confirmation. Souvent le message obtenu en langue indéchiffrable était dans la même séance traduit par un autre esprit, et après recherches, la traduction donnée en séance s’avérait à chaque fois rigoureusement exacte. Un message obtenu en lituanien phonétique fut déchiffré plus d’un an après réception par un professeur d’université. Les formes du langage et les tournures grammaticales correspondaient à la langue lituanienne usitée plus de cinquante ans auparavant. (…)
Article paru dans le Journal Spirite n° 78 et réalisé à partir des études d’Ernest Bozzano parues dans son ouvrage « La médiumnité polyglotte »

 

Le suicide
Causes du suicide
La souffrance et le désespoir, la solitude et l’incompréhension, l’échec et l’exclusion, le doute de soi et l’absence d’avenir, les excès de malheurs et d’épreuves, peuvent devenir à ce point insupportables que la seule issue paraît être la mort. (…) Extrait de message :
(…) Le suicide est un état de détresse maladive dont les causes sont souvent étrangères au sujet qui va commettre cet acte. Les principales causes du suicide sont les suivantes : le manque d’amour provenant essentiellement de la famille, des proches amis qui n’en sont pas ou qui n’en sont plus ; le dépérissement dans le travail, si le travail est avilissant, répétitif à rendre l’esprit esclave ; le sentiment d’inutilité dans une société inégalitaire qui ne reconnaît la valeur d’un homme qu’à sa réussite financière en traitant l’autre de «raté»: cet adjectif fait très mal et il tue ; le sentiment d’infériorité, marqué par la haine sociale et le refus des différences et en dernier lieu, le réveil soudain d’une vie antérieure déjà suicidaire pouvant entraîner une névrose obsessionnelle conduisant à l’acte. (…) L’homme a le devoir de vivre son incarnation, mais l’homme n’est rien dans l’abandon, dans le mépris et dans la solitude. La réponse au mal suicidaire est donc une réponse profondément amoureuse, elle doit provenir des individus, mais aussi des états, des sociétés qu’ils représentent et des lois qu’ils décident. Je veux imaginer avec vous une société d’amour qui ne pourra que retenir l’homme dans la responsabilité de sa vie physique et non pas le pousser vers la mort comme un outil encombrant devenu inutile. » (…)
Le Journal Spirite n°63

José Arigo, guérisseur brésilien
Nous avons souvent relaté les différents épisodes de la vie de José Arigo, décédé en 1971, et qui fut le meilleur exemple des médiums guérisseur pratiquant ce que l’on a appelé « chirurgie à mains nues » sous l’impulsion d’un esprit.

Les opérations
La médiumnité de José Arigo se manifeste essentiellement sous deux formes : l’incorporation de l’esprit du Dr Fritz et l’influence du Dr Fritz.
En incorporation, Arigo est totalement inconscient, c’est l’esprit qui opère avec une grande vivacité (on parle même d’une certaine brutalité apparente), à l’aide d’un canif, d’un couteau, de ciseaux ou d’un bistouri. En fait, en fonction des circonstances, l’esprit du Dr Fritz utilise ce qui lui tombe sous la main. Il s’exprime en allemand, ou en portugais avec un fort accent allemand. L’incorporation est ainsi décrite : « le médium est pris violemment, il se transforme en une autre personne, avec modification de la physionomie et de l’expression, du regard, des gestes, des déplacements et du langage ». C’est toujours le Dr Fritz qui s’incorpore, assisté d’autres esprits.
Les opérations ont lieu en pleine lumière, Arigo est en bras de chemises et parfois torse nu. Les observateurs ont eu toute possibilité d’examiner de près le déroulement des opérations. Le Dr Fritz incorporé a fréquemment discuté avec des médecins, il a même été interviewé par des journalistes allemands. (…)
Le Journal Spirite n°63

Une convergence est-elle possible

Depuis la naissance du spiritisme, de nombreuses recherches ont été menées dans les différents domaines du paranormal. Depuis « Les maisons hantées » de Camille Flammarion jusqu’aux modernes recherches sur les NDE, nous bénéficions d’un patrimoine considérable d’études qui ont fait l’objet de parutions nombreuses et d’encyclopédies du paranormal. Il y a abondance d’expériences et d’observations, de faits et de théories, d’essais philosophiques qui mettent en lumière les capacités psychiques de l’esprit humain et les communications avec les désincarnés.

Le spiritisme des origines

La base essentielle est l’œuvre d’Allan Kardec, qui reste la référence fondamentale pour une bonne compréhension du contact avec l’au-delà et de ses conséquences philosophiques et morales. Aujourd’hui encore, le spiritisme se réfère à cette œuvre, partout dans le monde, dans une fidélité sans faille au fondateur, ce que l’on constate en particulier dans tous les groupes du Brésil et de l’ensemble de l’Amérique latine. Cette base essentielle fut complétée par les successeurs d’Allan Kardec, qu’il s’agisse des plus connus en Europe comme Gabriel Delanne, Léon Denis, Gustave Geley, Camille Flammarion, Ernest Bozzano, ou de moins connus pour nous, comme les latino-américains Manuel Porteiro, Herculano Pires, Cosme Marino, Humberto Mariotti, etc.
L’œuvre spirite, dans sa progression, a gardé son intégrité revenant sans cesse aux principes kardécistes fondamentaux qui, même s’ils sont réétudiés et affinés, ont conservé toute leur valeur au fil du temps.

La période métapsychique

Lorsque l’Institut Métapsychique International fut créé, en particulier à l’initiative de Jean Meyer et du Docteur Gustave Geley, il se donnait pour but de démontrer scientifiquement les productions médiumniques de l’ectoplasmie et des matérialisations. Ce tournant scientifique fut d’une grande qualité expérimentale mais n’a pas pour autant marqué durablement les mentalités. De nombreuses expériences, de par le monde, furent attestées auprès de médiums à effets physiques, en présence de scientifiques au dessus de tout soupçon. Elles se sont perpétuées jusqu’à la fin de la décennie 1920, laissant un patrimoine considérable de compte rendus, de procès verbaux et de photographies, sans oublier les essais théoriques ou philosophiques comme tous les ouvrages de Gabriel Delanne, le « Traité de métapsychique » de Charles Richet, « Animisme et spiritisme » d’Alexandre Aksakof, « Essai d’interprétation synthétique du spiritisme » et « De l’inconscient au conscient » de Gustave Geley. (…)

Thèmes développés dans la suite de l’article : les NDE, les recherches de Ian Stevenson sur les souvenirs antérieurs d’enfants, l’hypnose, les facultés psychiques (clairvoyance, radiesthésie, magnétisme, etc.), synthèse et convergence.
Le Journal Spirite n°66 – Editorial

 

Georges Aubert, médium pianiste

(…) C’est dans l’obscurité totale que George exécute son premier morceau avec une certaine appréhension «Tout à coup, je sentis mes mains s’engourdir. De plus en plus la sensation du clavier disparaissait sous mes doigts et je fus tout surpris d’entendre résonner avec force un magnifique accord car je ne sentais plus du tout les touches. Je me rendais compte que mes mains étaient anesthésiées, car mes bras remuaient en suivant la suite des notes, mais le tact manuel était aboli… Je sentais mon cerveau complètement libre et sans avoir aucune préoccupation de fausses notes, je m’abandonnais à l’influence de Méhul. Néanmoins cette sensation de jouer du piano, sans sentir le clavier et sans savoir ce qui se jouait sous mes doigts était plutôt étrange.» Or, chose surprenante depuis ce jour, la table des séances reste muette. Intrigué par ce silence, George s’installe au piano et immédiatement ses doigts frappent frénétiquement les touches. Le père comprend à cet instant que chaque note frappée va remplacer une réponse à l’alphabet épelé. Méhul annonce que la médiumnité à effets physiques de George est terminée au profit des manifestations musicales dictées par les esprits. Méhul, Beethoven, Mendelssohn, Mozart, Bach, une multitude de musiciens classiques s’expriment par son intermédiaire pendant treize ans de 1891 à 1904. (…)

Le Journal Spirite n°73 – Dossier sur les artistes médiums

Les artistes médiums du Cerlce Allan Kardec

Sylvain

Peintre et musicien médium, Sylvain nous offre une sonorité musicale nouvelle à travers ses musiques reçues de l’autre monde. Ses visages peints comme ses multiples univers nous entraînent au-delà de notre monde. Sa médiumnité automatique lui permet d’être un interprète particulièrement fascinant pour celui qui l’observe et le regarde travailler.
Sylvain est devenu spirite en 1983. C’est dès cette époque que l’au-delà lui demanda de travailler sa médiumnité artistique, tout d’abord en peinture et quelques années plus tard en musique.

«Depuis mon plus jeune âge, j’ai toujours été attiré par le dessin, la peinture et la musique. J’ai toujours dessiné de manière instinctive sans jamais avoir appris. J’ai réalisé une toile quand j’avais 14 ans. C’est lors d’une séance qu’un esprit m’a révélé qu’elle était d’origine médiumnique. On peut ainsi dire que je fus un peintre médium sans le savoir durant toute ma jeunesse. La création des œuvres de l’au-delà fonctionne avec moi de manière dite «automatique». Je me mets en condition, je fais le vide dans ma tête et j’écoute de la musique. Ma main s’anime et je suis spectateur de ce qui se passe. Elle ne m’appartient plus. Je n’ai pas conscience du choix des couleurs. Les dessins se réalisent assez vite, quelquefois à l’envers, et l’exécution dure de 10 minutes à une demi-heure. Malgré ma forte myopie, je peins sans lunettes. La médiumnité musicale, quant à elle, est beaucoup plus intense qu’en peinture et s’exécute, pour ma part au piano. La mise en condition est identique à celle de la peinture. Cependant l’automatisme dans la manifestation de l’esprit est plus fort, plus physique. J’ai l’impression de perdre connaissance. Je sors de cette inconscience de manière soudaine, mon rythme cardiaque est alors très élevé. L’œuvre musicale est enregistrée par les quelques participants à la séance et c’est à son écoute que je découvre la musique composée.»

Le Journal Spirite n°73 – Dossier sur les artistes médiums

Mrs Curran, médium de Patience Worth

En 1913, Mrs Curran fit sa première expérience de communication avec les désincarnés à l’aide d’un cadran alphabétique muni d’une aiguille au centre. Un jour elle reçut cette phrase d’un esprit : « Bien des lunes se sont écoulées depuis que j’ai vécu. Je reviens. Mon nom est Patience Worth ». Puis l’esprit précisa avoir été Anglaise, née dans le Dorsetshire au XVIIè siècle. Elle décrivit avec précision les caractéristiques des paysages de ce comté et les routes qui permettaient de s’y rendre. Un éditeur M. Yost, témoin des séances, se rendit en Angleterre pour visiter le Dorsetshire et il retrouva les paysages décrits par l’esprit de Patience Worth.
Cet esprit avait également souhaité produire par l’intermédiaire du médium Mrs Curran des ouvrages littéraires. Douze romans historiques furent dictés jusqu’en 1934, un drame, des nombreux poèmes et un volumineux poème idyllique de 60 000 mots intitulé «Telka». Ce dernier était en dialecte Anglo-saxon du XVIIè siècle. M. Yost fit les remarques suivantes :«Telka est unique non seulement par la pureté de sa langue anglo-saxonne, la combinaison de formes en dialecte de différentes époques et ses connaissances grammaticales, mais aussi par les altérations et extensions conférées à différents vocables. Patience Worth, comme Shakespeare emploie parfois un adverbe à la manière d’un verbe, ou d’un nom ou d’un adjectif Cette remarque constitue une preuve supplémentaire pour démontrer que Patience Worth est en plein accord avec son époque, même dans les anomalies grammaticales.»
Ce chef d’œuvre de 270 pages a été dicté dans un ensemble de 35 heures. (…)

Le Journal Spirite n°62

Entretien avec Karine Chateigner

Le Journal Spirite : Aujourd’hui de nombreuses personnes et en particulier des jeunes, tentent des expériences de contact avec l’au-delà sans la moindre connaissance, que peux-tu leur conseiller ?

Karine : Le spiritisme, c’est à dire la possible communication avec les esprits désincarnés, est encore aujourd’hui mal connu et surtout, fort peu étudié. Cependant la curiosité expérimentale et les méthodes qui l’ont caractérisé, ont parcouru les décennies, sans visiblement s’altérer du manque de réussite, de probité, de connaissance et de sérieux. Il semble même, que ces dernières années aient été porteuses de nouvelles expériences et que les adolescents en soient particulièrement friands. J’ai même eu au téléphone il y a quelques mois un jeune garçon de onze ans, qui s’apprêtait à tenter l’expérience, et qui demandait comment s’y prendre. Il va sans dire que je l’en ai fortement dissuadé.

L.J.S : Peut-on blâmer ces jeunes de s’aventurer sur ce terrain expérimental ?

K.C : Le verbe «blâmer» est approprié, car on blâme celui ou celle qui n’a pas respecté une règle énoncée. Or, en ce domaine les personnes aventurières de l’invisible n’en connaissent pas les règles. (…) Il s’agit de dire d’une part que le spiritisme n’est pas dangereux et simultanément qu’une mauvaise pratique du spiritisme peut l’être. Il s’agit de dire d’autre part que la médiumnité ouvre la porte sur un monde infiniment vaste, où s’affrontent des énergies nombreuses. Il s’agit de dire par logique, que l’au-delà n’est pas peuplé que de bonnes intentions, puisque habité par les esprits qui ont parcouru la planète. Il s’agit de dire que le passage de vie à trépas ne rend pas les hommes différents de ce qu’ils étaient la veille. Il s’agit donc de dire que celui ou celle qui s’aventure dans cette démarche, seul ou mal entouré, sans connaissances préalables, risque fort d’y rencontrer des forces et des puissances redoutables, dont l’influence pourrait être néfaste pour son équilibre psycho-mental. (…)

Le Journal Spirite n°63 – Interview à propos de la voyance, du New Age et des guérisseurs

Le guide spirituel

(…) Voyons donc ce que nous enseignent les esprits qui se sont manifestés auprès d’Allan Kardec à la fin du 19ème siècle et qui continuent de le faire dans notre association depuis plus de 30 ans. Une première définition est donnée dans le « Livre des Esprits » de 1857. Au lieu du mot ange gardien, les esprits nous conseillent d’utiliser le mot guide et expliquent que la fonction d’un guide est d’agir de la même manière qu’un père avec ses enfants, c’est-à-dire de conduire son protégé sur la bonne voie, de l’aider de ses conseils, de le consoler de ses afflictions, de soutenir son courage dans les épreuves de la vie.
Ainsi, un guide est simplement un esprit qui a été crée par Dieu et qui, comme chacun d’entre nous, s’est incarné dans la matière un certain nombre de fois, apprenant et progressant de vie en vie, au fil des épreuves et des expériences. Progressivement, cet esprit a grandi en moralité et en intellect, il s’est transformé et, entre deux vies charnelles, il a choisi de s’arrêter un instant sur la courbe de l’évolution pour suivre, conseiller, aimer et conduire un autre esprit qui lui est proche, qu’il a déjà connu dans une vie antérieure et qu’il continue d’aimer au-delà de la matière.
Le guide a pu être un ami, un frère, une sœur, un parent, un compagnon de route ou de combat, seul importe ce lien affectif qui se trouve entre lui et nous et qui se perpétue dans l’invisible. (…)

Le Journal Spirite n°67

Fantômes et hantises dans l’histoire du Cercle

Nous sommes en 1984. Le « Cercle spirite Allan Kardec » de Nancy a été sollicité par un journaliste pour une troublante affaire de maison hantée, à Rogerville, petite localité du Toulois (Meurthe et Moselle).
D’incroyables phénomènes de déplacements d’objets, de bruits divers se produisent dans cette maison, et les actuels propriétaires ont décidé de la mettre en vente, n’ayant pas retrouvé le calme, malgré un recours aux parapsychologues et exorcistes. (…) Les témoignages abondent et se regroupent, les langues se délient après s’être longtemps tues par peur de la dérision, de la moquerie. Nous arrivons dans cette maison afin d’y établir une séance de spiritisme, par voie d’incorporation. Huit spirites entourent le médium qui va prêter son corps aux esprits perturbateurs qui vont se manifester.
Le premier d’entre eux dit s’appeler Eugène Robillard. Il nous explique qu’il était en train de creuser un puits lorsqu’il y eut un violent orage. Tout s’est écroulé autour de lui. Il veut sortir et c’est la raison pour laquelle il frappe. Nous sommes là, face à un esprit qui a été surpris par une mort violente, subite, et qui n’a pas pris conscience de sa mort. Le temps s’est arrêté pour lui au moment de l’accident et il se croit toujours prisonnier sous le puits. Il appelle, il frappe afin qu’on le délivre.
Nous lui avons dit qu’il était désincarné et qu’il fallait qu’il quitte les lieux. Nous lui avons expliqué qu’il pouvait nous parler parce qu’il utilisait le corps d’un médium, que nous étions spirites et que nous étions là pour l’aider. Nous lui avons précisé que nous étions en 1984, ce qui le surprit fortement car il disait être en 1905.
Nous avons appris par la suite dans les archives des journaux régionaux, qu’il y avait eu effectivement un violent orage en 1905, dans le Toulois, et qu’un certain Eugène Robillard était mort enterré en creusant un puits.
Un autre esprit se manifeste, disant s’appeler Marcel, Marcel des Hautes-Croix (lieu-dit de la région). Il nous explique qu’il voulait acheter la maison, que cela aurait été une bonne affaire. Il est mort sans avoir pu obtenir l’acquisition rêvée. Alors, esprit de vengeance, il se promet que personne n’y demeurera et perturbe tour à tour, tous les occupants de la maison depuis des années.
Nous sommes là en face d’un esprit très matérialiste, très attaché aux choses de la terre et de surcroît têtu. Il sait qu’il est mort et profite de ce nouvel état pour apporter la frayeur et faire fuir les différents occupants. Ce cas est différent du premier, le trouble n’est pas le même, bien qu’existant. Le premier souffre car la mort l’a surpris dans la souffrance du dernier instant, le second s’amuse et se venge car tel était son état d’esprit au moment de mourir, chargé de rancune et d’insatisfaction. (…)

Le Journal Spirite n°70

O espiritismo é uma religião? / Lembrar Humberto Mariotti

[1 – O espiritismo é uma religião?]

– in Prefácio dos tradutores, Carácter da obra e suas qualidades essenciais.

este texto, seguido por uma alusão documentada a respeito de Humberto Mariotti, aqui citado, é a primeira Nota Final (página 307) que se encontra inserida na nossa tradução de “O Livro dos Espíritos”.

Este é um assunto que tem tido interpretações diferentes no meio espírita. No livro “O que é o Espiritismo”? Kardec diz-nos:

“O espiritismo é ao mesmo tempo uma ciência de observação e uma filosofia. Como ciência prática, trata das relações que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia, esclarece as consequências morais derivadas dessas relações”.

Numa definição de espiritismo tão clara como esta, Allan Kardec não mencionou o termo “religião”.

Talvez prevendo que esse problema pudesse colocar-se no futuro, explicou muito bem o seu ponto de vista no discurso que fez na Sociedade de Paris no dia 1 de novembro de 1868, publicado na Revista Espírita do mês seguinte com o título: “O espiritismo é uma religião”? Todo o artigo é bastante importante e merece uma leitura integral. Porque é muito longo, vamos aqui ver só alguns excertos.

Kardec utiliza como ponto central do seu discurso a importância daquilo a que chamou “a comunhão de pensamentos.” Falou do poder da união de pensamentos capaz de gerar reações extraordinárias de efeitos morais e físicos.

Revista Espírita de dezembro de 1868 (excertos):

“…Todas as reuniões religiosas, seja qual for o culto a que pertençam, são fundadas na comunhão de pensamentos; com efeito, é aí que podem e devem exercer a sua força, porque o objetivo deve ser a libertação do pensamento das amarras da matéria. Infelizmente, a maioria afasta-se deste princípio à medida que a religião se torna uma questão de forma. Disto resulta que cada um, fazendo o seu dever consistir na realização da forma, julga-se livre de dívidas para com Deus e para com os homens, já que praticou uma fórmula. Resulta ainda que cada um vai aos lugares de reuniões religiosas com um pensamento pessoal, por sua própria conta e, na maioria das vezes, sem nenhum sentimento de fraternidade em relação aos outros assistentes; fica isolado no meio da multidão e só pensa no céu para si mesmo.

Por certo não era assim que o entendia Jesus, ao dizer: “Quando duas ou mais pessoas estiverem reunidas em meu nome, aí estarei entre elas.” Reunidos em meu nome, isto é, com um pensamento comum; mas não se pode estar reunido em nome de Jesus sem assimilar os seus princípios. Ora, qual é o princípio fundamental da mensagem de Jesus ? A caridade em pensamentos, palavras e ações…”

“…Se é assim, perguntarão: então o espiritismo é uma religião ? Sem dúvida! No sentido filosófico, o espiritismo é uma religião, e vangloriamo-nos por isso, porque funda os vínculos da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as próprias leis da Natureza.

Por que motivo, então, temos declarado que o espiritismo não é uma religião ?

Por não haver senão uma palavra para exprimir duas ideias diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto; porque desperta exclusivamente uma ideia de forma, que o espiritismo não tem.

Se o espiritismo se dissesse uma religião, o público não veria aí mais que uma nova edição, uma variante, se se quiser, dos princípios absolutos em matéria de fé;

uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimónias e de privilégios; não o separaria das ideias de misticismo e dos abusos contra os quais tantas vezes a nossa opinião se levantou.

Não tendo o espiritismo nenhuma das características de uma religião, na aceção usual da palavra, não podia nem devia enfeitar-se com um título sobre cujo valor inevitavelmente se teria equivocado. Eis por que motivo simplesmente se diz: pensamento filosófico e moral.

As reuniões espíritas podem ser feitas religiosamente, isto é, com o recolhimento e o respeito que comporta a natureza grave dos assuntos de que se ocupam; pode-se mesmo, na ocasião, aí fazer preces que, em vez de serem ditas em particular, são ditas em comum, sem que, por isto, sejam tomadas por assembleias religiosas.

Não se pense que isto seja um jogo de palavras; a nuance é perfeitamente clara, e a aparente confusão não provém senão da falta de uma palavra para cada ideia …”

 

CONCLUSÕES:

Lidos atentamente estes excertos da Revista Espírita, ficamos com ideias suficientemente esclarecidas para não confundirmos o espiritismo com as organizações histórico-culturais dogmáticas, com fortíssimas ligações aos poderes político-estratégicos, que têm assumido o papel das:

“…castas sacerdotais com seu cortejo de hierarquias, cerimônias e privilégios”; (…) e das “.ideias de misticismo e dos abusos contra os quais tantas vezes a nossa opinião se levantou.”

Humberto Mariotti (1905 – 1982) grande intelectual que foi por duas vezes presidente da Confederação Espírita Argentina, no fim dos anos 30 e durante os anos 60 do século XX, elaborou no prólogo escrito para a obra El Sermón de la Montana, uma síntese especialmente feliz que nos ajuda a acomodar uma cultura científico-filosófica de índole positiva e racionalista, com a espiritualizada atitude íntima de tantos dos adeptos espíritas:
“…O espiritismo, nos estudos universais que realiza,
dedica à inteligência a ciência,
ao pensamento a filosofia
e ao sentimento a religião…”

Esta distribuição dos diferentes horizontes que o espiritismo contempla, pelas diversas formas do potencial humano, permite-nos acomodar a análise da fenomenologia mediúnica com o pensamento racional e com a subjetividade íntima. Os factos devem ser considerados como factos, as ideias ordenadas como ideias, restando livres os sentimentos para vibrar do modo que mais convier à pessoa. Isso só pode suceder num plano totalmente livre dos constrangimentos do dogma, do pensamento fechado, da repressão íntima e da intolerância coletiva.

Os adeptos e estudiosos do espiritismo são tão fortemente sensíveis à ideia de Deus como ao uso da razão crítica; são tão assíduos praticantes e beneficiários da prece, como estão disponíveis para entender a complexidade do mundo e a memória da Humanidade e as suas contradições.

O desenvolvimento das relações sociais e as contingências do trabalho e da vida não os incapacitam de se sentirem perto dos seus queridos ausentes, íntimos confidentes e agentes invisíveis da espiritualidade envolvente.

Porque é sempre possível analisar racionalmente factos concretos, ao mesmo tempo que se organizam ideias produtivas e harmoniosas enquanto se eleva o pensamento a Deus com um sorriso, uma lágrima ou uma prece. (JCB/MCB)

 

HUMBERTO MARIOTTI

O GRANDE PEDAGOGO ESPÍRITA / MEMBRO DA Confederação Espírita Argentina    (1905 – 1982)

O site vem apresentar mais um grande Gigante e Divulgador da Doutrina Espírita originário dos Países da América Espanhola.

Apresentação da biografia:
Humberto Mariotti, filósofo, poeta, jornalista, escritor e dirigente espírita, nasceu em Zárate, província de Buenos Aires, Argentina, em 11 de junho de 1905. Desde cedo manifestou uma inteligência precoce e vocação para a literatura. Frequentou cursos de veterinária, jornalismo, pedagogia em 1923, 1940 e 1947, respectivamente. A filosofia, a literatura e a zoologia foram suas grandes paixões. De 1937 a 1960 atuou como jornalista e foi professor em vários estabelecimentos de ensino privados.

Na mocidade exerceu expressiva liderança no movimento juvenil espírita argentino. Nesse período tomou contato com o pensador espírita Manuel S. Porteiro (1881-1936), cujo pensamento influenciou decisivamente seu modo de agir e pensar. Tornou-se amigo, companheiro e fiel seguidor das ideias de Porteiro.

Ao lado do escritor e conferencista espírita Santiago Bossero (1903-1967), costumava frequentar a humilde residência de seu mestre, onde passavam dias debatendo, estudando e escrevendo sobre Espiritismo. Os dois chegavam num Ford repleto de mantimentos e as conversas, regadas a mate e muito bom humor, certamente ficaram marcadas de forma indelével no jovem Mariotti.

Porteiro e Mariotti formavam uma dupla doutrinária admirável. Ambos foram eleitos para representar a Confederação Espírita Argentina (CEA) no V Congresso Espírita Internacional, realizado em Barcelona, na Espanha, de 1º a 10 de setembro de 1934. Mariotti tinha nessa época 29 anos. Porteiro era o presidente da CEA e Mariotti, o secretário-geral.

A defesa radical do Espiritismo como ciência integral e progressiva, sem os prejuízos do sincretismo e do religiosismo, pode ser conferida nos anais desse importante evento, com notável participação da delegação argentina, especialmente de Porteiro e Mariotti, contrários às tendências religiosas e esotéricas que disputavam espaço com os espíritas kardecistas nesse congresso.

Mariotti acompanhou os últimos momentos de Porteiro. Quando adoeceu e teve de amputar uma perna, ele e Bossero providenciaram a prótese, a perna mecânica para o amigo. Em seu passamento, foi Mariotti quem proferiu o discurso fúnebre.

Fiel ao pensamento de seu mestre, Mariotti prosseguiu no trabalho de divulgação espírita, destacando-se como escritor, dirigente espírita e eloquente conferencista. A Confederação Espírita Pan-americana foi fundada em 1946 sob sua orientação, da qual ocupou a vice-presidência em duas oportunidades. Também presidiu a Confederação Espírita Argentina em duas gestões (1935-37 e 1963-67).

No dia-a-dia do movimento espírita, Mariotti militou na Sociedade Espírita Victor Hugo, que presidiu ao lado de Bossero por várias gestões. Dirigiu por muitos anos a revista La Idea, órgão de divulgação da CEA. Como educador espírita, atuou no Instituto de Enseñanza Espírita, tendo sido presidente e secretário de propaganda do Ateneo de Letras y Artes, extinta entidade educativa mantida pela confederação argentina. Alguns anos antes de desencarnar, atuou como dirigente da Sociedad Constancia, de Buenos Aires. Além dessas atividades, Mariotti também foi médium psicógrafo e psicofônico.

Foi um notável poeta, aclamado e respeitado, inclusive no meio não-espírita. Em sua verve poética, desenvolveu o que chamava de poesia secreta, com pleno destaque temático ao caráter numinoso, metafísico e espiritualista, cuja inspiração nos princípios espíritas era evidente. Demonstrou também especial interesse pela poesia mediúnica do médium Chico Xavier.

Proferiu conferências em diversos países da América Latina – no Chile, Colômbia, Uruguai, Porto Rico e, especialmente, no Brasil –, devido aos laços de amizade com os escritores espíritas Deolindo Amorim e Herculano Pires.

Seus livros e artigos foram publicados em quase todos esses países, inclusive na Europa. Na Argentina, além das publicações espíritas, muitos periódicos não-espíritas editavam seus artigos aos domingos. No Brasil, escreveu para várias revistas espíritas como Aurora, Reformador, Educação Espírita, Revista Internacional de Espiritismo; e nos periódicos espíritas Espiritismo e Unificação, Mundo Espírita, dentre outros.

Podemos ver seus textos e ensaios nos anais do Instituto de Cultura Espírita do Brasil (ICEB) e nos congressos realizados pela saudosa Associação Brasileira de Jornalistas e Escritores Espíritas (ABRAJEE). Colaborou também durante muitos anos com a revista Estudos Psíquicos, de Portugal.

A partir dos anos 60, Mariotti adere a princípios e conceitos mais próximos ao pensamento do filósofo espírita brasileiro Herculano Pires, distanciando-se de Porteiro. Passa a admitir a conceituação tríplice do Espiritismo, dando especial ênfase ao aspecto religioso da doutrina espírita. É muito provável que devido a essa mudança de rumo, seus textos puderam ser aceitos e publicados por instituições espíritas de orientação religiosa, como a Federação Espírita Brasileira.

Todavia, isso não descarta seu brilho intelectual e a capacidade impressionante de correlacionar a filosofia espírita com as questões mais prementes de nosso tempo, sempre numa linguagem vibrante, visionária e, em muitos momentos, mais poética do que filosófica, quase profética. Sua obra filosófica e literária é vasta, difícil de se abarcar de modo completo.

Muitos escritos seus ainda estão inéditos e grande parte de sua produção intelectual ainda permanece desconhecida.

A relação completa das obras desse grande pensador espírita portenho ainda está por ser feita. Relacionamos a seguir as mais conhecidas, algumas com a data de lançamento. A maioria está indisponível. Mesmo assim, dá para se ter uma ideia da variedade de sua produção intelectual:

• Dialéctica y Metapsíquica (1940);
• Víctor Hugo y la Filosofia Espirita (1955);
• Parapsicología y Materialismo Histórico (1963);
• De La Esencia a La Existencia (1968);
• El Espíritu, la Ley y la Historia (1968);
• Significado Existencial del Acto Poético;
• Don Pancho Sierra, Resero del Infinito;
• Pancho Sierra y el Porvenir de la Medicina;
• Los Ideáis Espiritas en la Sociedad Moderna;
• El Ocultismo Numinoso en el Fenómeno Poético;
• Victor Hugo, el Poeta del Más Allá;
• En Torno al Pensamiento Filosófico de J. Herculano Pires;
• Vida y Pensamiento de Manuel Porteiro;
• Herculano Pires: Filósofo y Poeta;
• Los Asombros Terrestres;
• La Parapsicología a la Luz de la Filosofía Espirita; • La Muerte de Dios.
Poesia:
• Canciones Escritas a la Luz de la Luna (1950);
• Canciones Escritas en una Vida Anterior (1951);
• Canciones que Vienen del Alba (1967);
• Los Asombros Terrestres (1967);
• Pájaros del Arco Iris (1968) – prêmio Fondo Nacional de las Artes; • Marietta.
Obras Inéditas:
• El Alma de los Animales a Luz de la Filosofía Espirita; • La Zoofilosofía en la Metafísica del Occidente;
• El Pensamiento Espiritualista de A. L. Palácios.

Para ver e baixar as suas obras:
http://www.autoresespiritasclassicos.com/Autores%20Espiritas%20Classicos%20%20Diversos/Humberto%20Mariotti/Humberto%20Mariotti.htm

Humberto Mariotti desencarnou em 17 de maio de 1982. Foi sepultado no dia seguinte, no Cemitério do Oeste, em Buenos Aires, com a presença de uma grande quantidade de espíritas, amigos e admiradores. Margarita S. de Testa, representando a Federação Argentina de Mulheres Espíritas, César Bogo pela Confederação Espírita Argentina e Dante Culzoni Soriano, da Confederação Espírita Pan-americana, foram algumas das lideranças espíritas presentes no sepultamento.

Fontes de consulta:

• Os Mestres do Espírito – Planeta Especial. Tradução Luís Carlos Lisboa, 1ª edição, São Paulo, Editora Três, s/d.
• Humberto Mariotti, por Natalio Ceccarini in revista Aurora – ano IV – nº 9 – agosto de 1982, Rio de Janeiro. Revista dirigida por Ademar Constant.
• El Espiritismo y la Creación Poética – Jon Aizpúrua – 1ª edição – Ediciones CIMA – Caracas, Venezuela, 1993.
• Anais do V Congreso Espiritista Internacional – Libro Resumen – Barcelona – 1º al 10 de septiembre de 1934 – Edição digital produzida pela Área de Internet da Federação Espírita Espanhola.

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Prefácio dos tradutores de O LIVRO DOS ESPÍRITOS – terceira edição revista

Prefácio dos tradutores
Com sugestões de leitura e requisitos essenciais para entender a obra

Esta nova tradução de O Livro dos Espíritos, da autoria de Hipólito Leão Denisard Rivail, sob o pseudónimo de Allan Kardec, foi feita pelos abaixo-assinados diretamente da língua francesa, conforme a segunda edição original de 1860, de modo a torná-lo acessível a todas as pessoas que falam a língua portuguesa dos dias de hoje, isto é, do ano de 2018.
Destina-se tanto a leitores espíritas como não espíritas, tendo sido este pre­fácio especialmente redigido para pessoas não espíritas, dando a conhecer as condições essenciais para aceder à mensagem da obra e aos seus ensinamentos. Além da renovação linguística, esta versão do livro contém algumas dezenas de comentários de contextualização cultural, publicadas no fim do mesmo e designadas como “Notas finais”. Têm a finalidade de esclarecer certas palavras e ideias que se encontram deslocadas ou desatualizadas, devido à antiguidade histórica do escrito original.
O que aqui fica dito resulta da imensa admiração e respeito que temos pelo ensinamento dos Espíritos, na forma que foi metodicamente organizada por Hipólito Leão Dénisard Rivail, aliás Allan Kardec.
Como autores da tradução, deste prefácio e das Notas finais, obedecemos exclusivamente, na forma e no conteúdo desse trabalho, à nossa consciência cultural e moral, visto que não somos membros de qualquer organização religiosa, ideológica ou política.

O espiritismo falado em português de Portugal
Tendo procurado traduções de acordo com o português de Portugal dos dias de hoje, só encontrámos versões revistas para português, mas visivelmente subsidiárias das antigas traduções brasileiras, com todas as respetivas características.
Pensamos que não é prestigiante para os espíritas portugueses terem dei­xado passar tanto tempo sem afirmarem uma desejável autonomia cultural, que tivesse realizado a tradução completa de todos os muito notáveis trabalhos de Allan Kardec, incluindo a Revista Espírita, que teriam ganho, junto dos utilizadores da es­plêndida língua portuguesa, mais vigor e trato familiar.

Carácter da obra e suas qualidades essenciais
O Livro dos Espíritos trata de assuntos de índole universal, cujo conhecimen­to é indispensável a todos os seres humanos conscientes do seu devir ontológico.
O Livro dos Espíritos fornece informações concretas e baseadas em factos, explicando de onde viemos antes de nascer e para onde vamos depois da morte, bastando uma consulta cuidadosa ao índice para ter uma ideia dos seus conteúdos científico-filosóficos e bem assim dos seus objetivos morais.

Pormenoriza a natureza e o significado de fenómenos de todos os dias, dos mais simples aos mais complexos, e qual a atitude mais recomendável para enfrentá-los. Esclarece-nos acerca da alegria, da tristeza, da saúde e das enfermidades, da razão de existirem ricos e pobres e por que razão há pessoas que nascem belas, inteligentes e afortunadas e há outras que nascem com dificuldades, tristezas e até desfiguradas fisicamente.
O Livro dos Espíritos fala com profundidade do bem e do mal, ajudando-nos a compreender a sua complexidade, por vezes desconcertante. A cultura que nos apresenta tem o intuito de melhorar o entendimento do mundo e de reforçar a nossa consciência em clima de responsabilidade sem medo; não obriga ninguém a nada, não é uma religião, não configura um catecismo; apresenta uma visão otimista da vida e alarga os caminhos que conduzem à paz dos indivíduos e da sociedade no seu conjunto.

[1 – O espiritismo é uma religião?]
(NOTA: esta numeração passa a ser inscrita em certos pontos do texto e diz respeito às “Notas Finais” de contextualização cultural, que convirá ir consultando.)

Sugestões para a leitura de O Livro dos Espíritos:
Para quem começa, este não é um livro para ler de empreitada, como uma peregrinação e, muito menos, como uma penitência. Alguns conselhos que aqui registamos aumentarão a recetividade de muitos leitores, dando-lhes a exata noção do que vão encontrar pela frente.
Allan Kardec dedicou uma parte muito importante da sua argumentação com os leitores dirigindo-se, naturalmente, às pessoas do seu tempo. Um número significativo de textos é dirigido aos “opositores”, aos “incrédulos” e aos “adversários” do espiritismo. Nesse tempo, diferentemente do que se passa hoje, escasseavam as atividades lúdicas, e a comunicação social, como a conhecemos hoje, estava à distância de muitos anos. Havia, portanto, certas pessoas que, com a popularidade das “mesas girantes” e das “reuniões espiritas” em geral, se aproximavam desse fenómeno para o contestar, argumentando das mais diversas formas.
É a essas pessoas que Allan Kardec se dirigia em larga porção da “Introdução”, da “Conclusão” e de muitos parágrafos dos extensos comentários espalhados ao longo do Livro.
O leitor da atualidade, posto de sobreaviso, vai compreender o que foi escrito e saberá levar esses textos na devida conta. Estar a argumentar com opositores incrédulos e adversários do espiritismo não faz sentido nenhum na atualidade, porque esses, muito dificilmente abrirão sequer “O Livro dos Espíritos”.
O livro propriamente dito só começa depois de toda a complicada “Introdução” e vem a seguir a um pequeno texto chamado “Prolegómenos”, palavra que quer dizer: “introdução” ou “noções preliminares de uma obra ou de uma ciência”.
O leitor deve ter a liberdade de procurar inicialmente no livro o que mais lhe interessar, lendo por aqui e por ali os temas mais apetecíveis. Poderá, para esse efeito, consultar primeiramente o Índice.

Leia e releia com atenção o que achar mais válido e interessante.
Se não estiver de acordo com o que está explicado em certo ponto, tenha a coragem de prosseguir.

Adie as certezas difíceis de atingir com facilidade imediata, para que a longa jornada da vida possa abrir-lhe uma outra maneira de ver as coisas que agora não alcança, mas que tanta falta lhe fazem: o sentido otimista da vida, a esperança, a serenidade e a confiança. Se quiser prosseguir desse modo, é nossa convicta opinião que a leitura deste livro poderá ser um precioso auxiliar para atingir esses objetivos.
Não se pode esperar que a vida e o mundo, a natureza e todo o Universo sejam de entendimento imediato e fácil. Deve, pois, continuar a explorar, mais na atitude de quem estuda do que na atitude de quem lê por simples curiosidade.

O leitor que queira aprender, realmente, deve estar preparado para relacionar diversas partes do livro entre si, tentando encontrar relações coerentes entre os diversos ensinamentos. Só depois de ter feito estas explorações iniciais, com todo o interesse e vontade, valerá a pena ler o livro de uma assentada, ou passar, em alternativa favorável, à leitura de todos os escritos de Allan Kardec, incluindo o formidável conjunto da Revista Espírita, também publicada em vida pelo seu autor.

Requisitos essenciais para entender o livro e a origem dos seus ensinamentos
Sendo muito difícil avaliar a complexidade extraordinária do Universo e configurar com facilidade o significado da vida e da morte, há pessoas que desistem de compreender a realidade como projeto coerente, justo e generoso.
A ciência de observação baseada no estudo dos fenómenos espirituais, associada à enorme coerência de tudo o que nos rodeia desde o átomo às estrelas permite, pelo contrário, concluir que nada acontece de forma gratuita ou casual.
A par dessa conclusão fortemente documentável, todos nós necessitamos de construir reservas de convicção e de energia que nos auxiliem a vencer os obs­táculos com êxito, podendo, desejavelmente, ajudar quem nos rodeia, familia­res, amigos e a sociedade, com vista ao progresso, à felicidade, à verdade e à justi­ça, tais como se encontram fielmente configurados pelo conhecimento espírita.

A conclusão contrária de que o mundo e a vida resultam de acasos sem nexo, sem origem nem destino perfeitamente harmonizados, é uma desistência negligente que conduz à desmoralização, à dureza e ao medo.
As provas da coerência do plano das vidas e da natureza são tão volumosas e eloquentes, estão aqui tão próximas de cada um de nós, que não será necessário gastarmos muito tempo argumentando em seu favor. Os que ainda não atingiram esta ideia comecem a prestar atenção: ler “O Livro dos Espíritos” pode ser um bom começo.

Pensamos, portanto, de forma inabalável, que tudo o que existe deriva de uma inteligência suprema criadora de todas as coisas.
Fiquemos agora apenas por essa expressão, à qual não é necessário dar nome. É mais um sentimento que uma ideia definida que reside no íntimo intuitivo da sensibilidade. Deixemos que ela permaneça aí, onde melhor se compreende e onde mais perto está de tudo o que somos.

Quanto ao leitor que ainda duvida, esperamos com toda a convicção que nos encontre mais tarde, comungando da mesma fé que nos anima, com esperança e vontade esclarecida, harmonia e paz no coração. A criação magnânima da vontade superior que nos trouxe aqui não tem pressa. A jornada, que começou não se sabe onde nem como, continuará a desenvolver-se por todo o sempre. Tenhamos, pois, a serenidade que corresponde a esse devir sem limites nem fronteiras.

Como parte mais técnica e prática, sem cujo entendimento é impossível avançar para a leitura, é favor considerar o seguinte: apesar de dotados de importantíssimo património de capacidades orgânicas e racionais, os seres humanos entendem o Universo com ferramentas muito modestas e limitadas.
Os nossos cinco sentidos, a vista, o ouvido, o olfato, o paladar e o tato, deixam-nos a distâncias inimagináveis da realidade das coisas concretas, do mais perto ao mais longínquo, do mais pequeno ao infinitamente grande.
Tudo o que existe é muito mais do que podemos entender com essas limitadas ferramentas sensoriais, por muito completas e exigentes que sejam a nossa imaginação e a nossa inteligência.
No Universo (ou nos Universos?…) é muito mais aquilo que não se vê e não se entende, do que aquilo que se percebe e se sente com a vista e com o entendimento. A espantosa marcha da ciência tem dado passos de gigante ao tentar aproximar-se dessa enormidade de segredos. Mas quanto mais avança, mais profunda é a noção das coisas ignoradas.
Teremos que regressar ao grande Sócrates e à ideia que lhe conferiu a categoria do homem mais sábio de toda a Grécia: aquele que tinha a noção máxima de tudo o que desconhecia.
Existimos, pois, antes de nascermos neste mundo, num outro plano de que não temos conhecimento, no qual continuaremos a existir depois de falecido o corpo que nos serve de veículo existencial. O nascimento e a morte, portanto, não são o começo e o fim de tudo, e esse é um dos ensinamentos fundamentais de “O Livro dos Espíritos”.
Para confirmar factualmente essa realidade são conhecidas fontes de informação, de cuja existência há provas abundantes, que estão documentadas ao longo de toda a existência da Humanidade.

A mediunidade e a troca direta de informações entre o mundo dos vivos e o dos mortos

Havendo pessoas especialmente dotadas com mais um do que os normalíssimos cinco sentidos, têm por isso a capacidade, incompreensível para a maioria, de poderem sentir, ver e até dar voz às entidades espirituais que, depois da vida material, passam a existir no plano a que chamamos “mundo espiritual”.
Essa capacidade, esse sentido raro, chama-se “mediunidade”, porque são chamados “médiuns” os que a possuem.
Médium é uma palavra latina que signifíca “meio”, e que serve para designar o “in­termediário” ou “tradutor” das inumeráveis mensagens que têm sido trocadas entre os dois planos da existência, de forma que pode ser comprovada pela realidade dos factos.
A mediunidade é muito mais abundante do que se julga, tem graus de operacionalidade e modalidades muito diversas e já foi estudada em meio científico por diversas autoridades isentas e da maior competência, para além de se tornar evidente para qualquer pessoa que dela tenha o conhecimento direto.

“Mundo material” é o nosso, o do corpo físico que conhecemos, o mundo das coisas que vemos e palpamos à nossa volta.
O “mundo espiritual” é o mundo que não vemos, mas que se faz sentir po­derosamente, porque é nele que existimos antes e iremos existir depois, por toda a eternidade. Os contactos entre o “mundo material” e o “mundo espiritual” são contínuos e realizam-se de diversas formas desde há uma imensidade de anos.
O autor de “O Livro dos Espíritos”, Hipólito Leão Denisard Rivail, aliás Allan Kardec, organizou e sistematizou de modo filosófico um grande conjunto de apontamentos tirados de conversas tidas, ao longo de anos, entre pessoas vivas e entidades espirituais, que puderam “conversar” normalissimamente por intermédio de médiuns.
Esse trabalho foi desenvolvido em França, em meados do século dezanove. O autor referido designou essa cultura como sendo: “o espiritismo, ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como das suas relações com o mundo corporal”.
É destas conversas, e dos comentários feitos pelo autor da obra a respeito das ideias por ele organizadas, que é feito “O Livro dos Espíritos”.
Segundo as conclusões seguras a que o “espiritismo” chegou, todos nós somos Espíritos, temporariamente ocupados por um breve intervalo de aprendizagens e experiências diversas através da vida no nosso corpo material.
Depois regressaremos, em paz e na maior das liberdades, ao nosso estado natural e mais permanente de Espíritos. Não se esqueçam: com letra maiúscula, por todas as razões mais nobres e mais válidas.

Notas breves sobre o método de tradução que seguimos

Sendo o francês e o português línguas da mesma família latina, tivemos a preocupação de fugir ao critério erróneo da “tradução à letra”, respeitando o fundo e não a forma das palavras do grande livro, tal como os ensinamentos nele contidos recomendam. O autor teve o intuito de escrever um livro que fosse acessível a todos os leitores da sua época. Sabemos, contudo, as profundas modificações que registaram, entretanto, todas as técnicas de comunicação. A frase mais curta, a economia de recursos de carácter retórico e enfático, a sim­plificação dos tempos verbais e muitos outros meios, foram usados por nós para facilitar a aproximação aos leitores, respeitando, entretanto, o carácter próprio que foi conferido à obra pelo seu autor.
Para além das versões em português, procurámos esclarecer muitos dos seus aspetos através de traduções noutras línguas e da pesquisa de outras obras do mesmo autor.
Consultámos, por exemplo, a tradução em castelhano de Alberto Giordano, publicada na Argentina em 1970 e influenciada pela que foi feita pelo professor brasileiro José Herculano Pires, que também analisámos com cuidado; e a excelente tradução em língua inglesa da autoria da jornalista Anna Blackwell, profunda co­nhecedora da cultura espírita, que foi contemporânea e amiga da família Rivail du­rante o tempo que viveu em Paris. A edição de que nos servimos tinha por intuito revelar a obra de Allan Kardec no universo cultural anglo-saxónico e foi publicada em Boston em 1893, mas o prefácio da autora está assinado de 1875, em Paris.

Também lemos as conhecidíssimas traduções de Guillón Ribeiro, a seu tempo dirigente da Federação Espírita Brasileira que, quando pelas primeiras vezes nos vieram à mão, desde logo despertaram em nós a determinação de fazer uma tradução para português de Portugal dos nossos dias. Com o devido respeito por esse trabalho, não foi o modelo que procurámos seguir, por razões muito concretas, mas que não é oportuno detalhar nesta breve apresentação.

A escolha das palavras

Sabendo que as palavras têm alma, usámos uma estrutura lexical coerente com o carácter filosófico e moral da obra, no contexto da sua visão otimista da magnânima obra da criação e do glorioso destino da Humanidade.
No texto original de Allan Kardec, por tendências de época que serão compreensíveis e estão bem estudadas, é usado em certas passagens do Livro algum vocabulário herdado das teorias penalizantes do universo filosófico das antigas religiões.
O aproveitamento dessas expressões nas traduções dos dias de hoje, deixou em absoluto de fazer sentido. Prosseguimos, nesta edição, no uso de referências lexicais compatíveis com a cultura que nos orienta com todo o rigor moral e toda a exigência intelectual. Porém, com uma visão do mundo, que encoraje a conquista da paz e do progresso pelo raciocínio, e da ultrapassagem do erro pelo conhecimento racional. Para colocar esta questão plano histórico cultural, sugerimos a leitura da Nota Final nº 39, que trata da “queda do homem”, e do ensino primordial das religiões dogmáticas.

Allan Kardec

Hipólito Leão Denisard Rivail,
organizador dos ensinamentos dos Espíritos
No início deste prefácio de tradutores escolhemos a grafia do nome Hipólito Leão Denisard Rivail, com os dois nomes próprios traduzidos e Denisard com “s”, como está na sua certidão de nascimento. Fizemos isso por ser a versão que nos parece mais perto da nossa língua e, especialmente, porque nos temos habituado a pensar nele como um semelhante, nosso amigo íntimo.
O destino fez com que Hipólito Leão/Allan Kardec tivesse ficado sem biografia oficial propriamente dita, feita por um contemporâneo seu. Por algu­ma coisa foi: a obra é o que interessa, ditada por narradores invisíveis, configu­rada pelo autor que organizou a mensagem.
Vale muito a pena ler tudo o que deixou escrito, sobretudo este “Livro dos Espíritos”, trabalho estruturador da mensagem de que se encarregou. De cada vez que se lê, novas coisas se descobrem e melhor se entendem o todo e os por­menores. Será estudo útil para os que desejam encontrar o fio da vida, tantas vezes encarada como drama sem solução, e serem capazes de construir agora um destino que valha a pena, com alegria e entusiasmo, porque há um depois!…
Hipólito Leão começou a interessar-se pelo tema que iria tratar de forma tão brilhante e generosa numa posição distanciada de qualquer crença, outros- sim cuidadosamente positivista e até cautelosamente cético, numa idade de ple­na maturidade, apenas por ter sido insistentemente convidado por amigos para esse efeito.
O trabalho, que começou aos 55 anos de idade (numa época em que a esperança de vida era muito inferior à da atualidade), foi levado a cabo com de­dicação total, mediante um esforço hercúleo, sem medida, que de certa forma conduziu ao desenlace da sua vida.
Convém referir que o modelo expositivo que serve à estruturação de O Livro dos Espíritos, desenvolvido nas restantes obras de Allan Kardec, obedece ao formato que durante os séculos XVIII e XIX constituía os princípios da exposição cientifica clássica, definindo ordenadamente:
1° – A escolha do objeto de estudo, que se conclui ser o Espírito, tratado no Livro Primeiro (As Causas Primárias);
2° – A análise do objeto de estudo, ou seja, a consideração e avaliação de toda a fenomenologia que constitui a sua razão de ser, que é tratada no Livro Segundo (O Mundo Espírita ou dos Espíritos);
3° – O estabelecimento das leis que regulam esse conjunto de fenómenos, que é feito no Livro Terceiro (sobre as Leis Morais);
4° – A dedução das consequências da aplicação dessas leis, que é feita no Livro Quarto (sobre as Esperanças e Consolações).
O critério de Hipólito Leão, em todo o imenso trabalho que efetuou, nun­ca foi o de se promover pessoalmente à condição de dirigente ou autoridade ideológica e muito menos religiosa. A metodologia utilizada para a estrutura­ção do “corpus” de informações e saberes científico-filosóficos que levou a cabo foi isenta de segundos sentidos de proveito pessoal ou institucional.

O professor Hipólito Rivail desaconselhou os grandes coletivos espiritas

Obedecendo a critérios que foi enunciando em diversas intervenções, nunca favoreceu o agrupamento de grande número de adeptos em instituições federativas as quais, de antemão, declarou perniciosas, por facilitarem a arqui­tetura do poder e a manipulação das consciências.
Toda a realidade que se seguiu ao seu falecimento, quer em França, quer no estrangeiro, deu plena razão às previsões e avisos que formulou.
Os pequenos grupos de cidadãos, harmonicamente associados numa con­vivência produtiva de pensamento claro e de reta consciência, na obediência da razão crítica e do diálogo construtivo, formam o modelo mais claramente por si recomendado para constituir a sociedade espírita.
Em síntese, fique esclarecido que a obra traduzida e a filosofia que encerra oferecem uma visão otimista da vida, liberta de dogmatismo, verdadeiramente emancipadora da Humanidade e produtora de paz, na igualdade entre todos os seres humanos.
Consideramos ainda que O Livro dos Espíritos defende, com o máximo respeito, a integridade ecológica do planeta que habitamos, o direito à dignida­de, à justiça e à máxima felicidade de todos os seres que nele habitam.
A característica essencial desta tradução, que sugere a passagem de toda a obra de Kardec para o português de Portugal/2018, num clima cultural aberto, é propor o regresso metódico a uma obra muito conhecida pelo seu nome, mas escassamente debatida; abrindo o seu acesso, se possível, a novos públicos e a jovens inquietos pelo grande mistério da sua origem e do seu destino.
Para esta terceira edição foram cuidadosamente revistos e ampliados os seus conteúdos de referenciação cultural, além de se ter procurado com mais abertura uma versão mais próxima da nossa linguagem de todos os dias, usando as prodigiosas qualidades estético-culturais de que dispõe a magnífica língua portuguesa.
Consideramos, não obstante, que a nossa tarefa de ler atentamente o que nos deixou Allan Kardec, não fica por aqui. A sua leitura em português dos nossos dias faz parte de um debate de ideias que gostaríamos de ver par­tilhado e enriquecido pelo maior número de leitores, espíritas e não espíritas.

O destino adequado para O Livro dos Espíritos não é permanecer imóvel, como peça sacralizada de ideias petrificadas. Julgamos que deve ser entendido por todos os seus leitores de antes, de agora e do futuro, como uma obra ener­gicamente VIVA e justificadamente ABERTA.

Entregamo-la a todos os prezados leitores com os melhores votos de feliz e proveitosa leitura

José da Costa Brites e Maria da Conceição Brites
Setembro de 2018

Bibliografia geral e leituras

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Ilustração de: Wooli Chen, visto em This Works / WeTransfer

Temos andado a publicar aqui momentos especiais do trabalho de tradução de “O Livro dos Espíritos”. Esta notícia tem por tema a pequena bibliografia geral relativa às Notas Finais.

O Prefácio dos tradutores destina-se a preparar as pessoas que nunca tenham lido o livro antes;
As Notas Finais servem para informar o leitor do critério de tradução de certas palavras e para fornecer opiniões de contextualização cultural de textos com mais de 150 anos.
A pequena bibliografia geral também é destinada aos leitores que nunca encontraram antes “O Livro dos Espíritos”, obra que servirá – se atentamente o lerem – para esclarecer um segredo há muitos séculos desvendado por homens de ideias, com experiência de vidas vividas, mas persistentemente escondido pelas forças determinadas em conservá-lo oculto e secreto.

Esse segredo é o conhecimento fundamental e fundamentado da origem e do destino dos seres humanos. Saberem porque estão vivos e conhecerem bem as regras que orientam a sua vida presente, abrindo-lhes as portas para um mais claro futuro de progresso e de felicidade.
Mesmo para os que desconfiarem que é promessa exagerada, vale a pena começar já a ler, para que não percam mais tempo em desvendá-lo, já que facilita a marcha pela estrada, por vezes acidentada, que nos conduz ao  futuro.

A bibliografia geral que aparece depois das Notas Finais de todo o livro não manipula consciências nem condiciona as opções do leitor. Apenas revela as principais ajudas com que caminhámos ao encontro desta cultura que ensina a viver e, ao mesmo tempo que produz conhecimentos livres de compromissos de grupo ou fronteiras dogmáticas, também ajuda a construir a felicidade.

Bibliografia geral e leituras


ALLAN KARDEC:
‒ Todas as obras e publicações editadas em vida pelo autor, de 1857 a 1869;

GABRIEL DELANNE:
Todas as suas obras e publicações, em especial as seguintes:
‒ O Espiritismo perante a Ciência. Paris, 1885;
‒ O Fenómeno Espírita. Paris, 1893;
‒ A Evolução Anímica. Paris, 1895;
‒ A Alma é Imortal. Paris, 1897;
‒ A Reencarnação. Paris, 1927.

LÉON DENIS:
Todas as suas obras e publicações, em especial as seguintes:
1885 – O Porquê da Vida, 1885;
1898 – Cristianismo e Espiritismo, 1920 (última edição);
1889 – Depois da Morte, 1920 (idem);
1903 – No Invisível, 1924 (idem);
1905 – O Problema do Ser do Destino e da Dor, 1922 (idem);
1910 – Joana D’Arc Médium, 1926 (idem).

sobre JESUS HISTÓRICO:


o professor Antonio Piñero


ANTÓNIO PIÑERO,
Catedrático de Filologia Grega, com especialidade em Língua e Literatura do Cristianismo Primitivo da Universidade Complutense de Madrid, autor, entre outras, das seguintes obras:

– CIUDADANO JESÚS – Las respuestas a todas las perguntas; Atanor Ediciones, Madrid, várias edições desde 2012;
– GUIA PARA ENTENDER EL NUEVO TESTAMENTO; Editorial Trotta, múltiplas edições desde 2006, Madrid;
– ORIGENES DEL CRISTIANISMO – Antecedentes y primeiros passos; Ediciones El Almendro e Universidade Complutense de Madrid, 2004;
– JESÚS, LA VIDA OCULTA – Según los Evangelios rechazados por la Iglesia; Esquilo Ediciones, 1ª edição 2007, Badajoz;
– JESÚS DE NAZARET – El hombre de las cien caras” – textos canónicos y apócrifos; EDAF, Madrid, México, Buenos Aires, SanJuan, Santiago, Miami, 2012;
– EL OUTRO JESÚS – Vida de Jesús segun los evangelios apócrifos – Ediciones El Almendro, Córdoba; primeira edição: 2004.

Mosa JS

JACOB SLAVENBURG:
– (n. 1943 em Gorinchem, Holanda). Desde jovem percebeu que os acontecimentos históricos reais eram muito diferentes dos que tinha aprendido na escola ou nos círculos religiosos. Licenciado em História Cultural, dedicou-se à história das religiões depois da extraordinária descoberta dos manuscritos de Nag Hammadi, em especial a respeito do homem de Nazaré. Atualmente é professor em várias instituições e a sua obra é muito conhecida:
– A HERANÇA PERDIDA DE JESUS (De verloren erfenis) – A verdadeira história das origens do cristianismo, Marcador Editora, Queluz de Baixo, 2012

MEMÓRIA da HUMANIDADE:


“Aquellos que no recuerdan el pasado, están condenados a repetirlo.”
George Santayana.

As obras aqui indicadas, embora muito importantes, representam apenas um exemplo simbólico da atenção que é devida ao conhecimento da História Universal, sem a qual é impossível enquadrar os conceitos científicos, culturais e morais. Sem recursos minimamente estruturados desta disciplina cultural é impossível ter uma ideia válida da importância da obra de Allan Kardec e da cosmovisão espírita. Impossível será igualmente ultrapassar o contexto de um planeta de expiação e de provas, sujeito ainda à tutela dominante do pensamento dogmático e da predominância de espíritos ainda não muito evoluídos.

A Chegada das Trevas é a história largamente desconhecida – e profundamente chocante – de como uma religião militante pôs deliberadamente fim aos ensinamentos do mundo clássico, abrindo caminho a séculos de adesão inquestionável à “única e verdadeira fé”.

O Império Romano foi generoso na aceitação e assimilação de novas crenças. Mas com a chegada do Cristianismo tudo mudou. Esta nova fé, apesar de pregar a paz, era violenta e intolerante. Assim que se tornou a religião do império, os zelosos cristãos deram início ao extermínio dos deuses antigos – os altares foram destruídos, os templos demolidos, as estátuas despedaçadas e os sacerdotes assassinados. Os livros, incluindo grandes obras de Filosofia e de Ciência, foram queimados na pira. Foi a aniquilação.

Levando os leitores ao longo do Mediterrâneo – de Roma a Alexandria, da Bitínia, no norte da Turquia, a Alexandria, e pelos desertos da Síria até Atenas -, A Chegada das Trevas é um relato vívido e profundamente detalhado de séculos de destruição.

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ALEXANDRE HERCULANO dispensa apresentações para todos aqueles que têm conhecimento do seu imenso prestígio como historiador e cidadão que lutou com imensa bravura e se exprimiu como investigador e grande homem de pensamento, dos mais insígnes de toda a nação cultural portuguesa.

A sua obra a respeito da Inquisição em Portugal é de leitura fundamental.

Clicando na capa poderá descarregar uma versão brasileira do livro. Assim manifestamos homenagem à imensa generosidade de divulgação de valores e partilha do imenso povo brasileiro:.ALEXANDRE 

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– HISTÓRIA DA ORIGEM E ESTABELECIMENTO DA INQUISIÇÃO EM PORTUGAL- Alexandre Herculano (1810-1877).

 

 

 

07-trat– PEQUENA HISTÓRIA DAS CRUZADAS; Londres 2004 – Chistopher Tyerman; Edições Tinta da China, Lisboa 2008.

08-trat

RECURSOS LINGUÍSTICOS:


Entre outros:

– CNRTL/ORTOLANG: http://www.cnrtl.fr/definition/;
– LEXILOGOS: http://www.lexilogos.com/francais_langue_dictionnaires.htm

ortol.

GABRIEL DELANNE – Vida e Obra de um seguidor de ALLAN KARDEC

A Evolução Anímica-1…

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Abaixo se apresenta a biografia de um dos mais distintos expoentes da doutrina espírita: GABRIEL DELANNE, entendido como um dos mais destacados seguidores de ALLAN KARDEC, divulgador da vertente científica da cultura espírita e seu entusiástico impulsionador.

Além da biografia de GABRIEL DELANNE, encontra-se à disposição do visitante um documento muito interessante, encontro com DELANNE, de autoria de uma conhecida individualidade brasileira, o Dr. Silvino Canuto de Abreu, ilustre investigador espírita que se deslocou a Paris para se encontrar pessoalmente com Delanne, com o qual trocou diversas impressões que constituem um momento notável. Além do relato do encontro redigiu ainda um texto importante para a caracterização do entrevistado e do papel que desempenhou na consolidação e divulgação do espiritismo, na senda de Allan Kardec.

GABRIEL DELANNE, Vida Apostolado e Obra – Paul Bodier e Henri Regnault

Encontro com DELANNE, Silvino Canuto de Abreu

Estas são as principais obras da autoria de GABRIEL DELANNE, algumas ainda não traduzidas para a língua portuguesa:

O ESPIRITISMO PERANTE A CIÊNCIA

O FENÓMENO ESPÍRITA

EVOLUÇÃO ANÍMICA

L’Évolution Animique

Recherches sur la médiumnité

A ALMA É IMORTAL

Les_apparitions_matérialisées_tome_I

Les_apparitions_materialisees_tome_II

E o seu último trabalho, de 1924

La Reincarnation

A Reencarnação.

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“O Livro dos Espíritos” – muito belo na nossa língua

 

NOTA: estas notícias têm interesse, mas dizem respeito às primeiras duas edições da nossa tradução de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, que foram revistas e melhoradas pela TERCEIRA EDIÇÃO. É favor consultar:

Terceira edição revista da tradução de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, edição livre e aberta para todos

 

Nunca “O Livro dos Espíritos” foi tão belo na nossa língua ‒ acaso fortuito ou aceno da esperança?
Na parte final da SINOPSE inserida por alguém na apresentação feita no site da Livraria Bertrand, a respeito da nossa tradução de “O Livro dos Espíritos”, aparecem-nos palavras generosas, que são como boa nova apetecida, porque nos ajudam a alimentar a esperança.
Dizem o seguinte:

Além de se tratar de uma nova e mais rigorosa tradução do original francês (sem preconceitos ou fins religiosos – o que nos leva, em algumas passagens, a sublinhar diferenças em relação às versões hoje mais correntes), os tradutores elevam o texto a uma condição literária que até hoje este nunca teve em português, incluindo notas que esclarecem e contextualizam o texto original.
Nunca O Livro dos Espíritos foi tão belo na nossa língua.

Os detentores deste site desconhecem inteiramente a pessoa que se exprimiu assim, tão clara e convictamente. Não, não foi um daqueles favores pedidos a um amigo de boa vontade que nos conhece há muito e que “teve o máximo gosto…”, etc.etc.
Foi alguém que leu com atenção, que conhece o assunto e que estava no sítio certo à hora certa para dizer o que disse.

Empreender a tradução de um grande livro como “O Livro dos Espíritos”, será sempre uma atitude especial, pois o trabalho tem de se começar muito antes de ter início, dura ao longo de toda a tarefa e prolonga-se para depois. Com efeito, nunca abrimos o livro que não descubramos, por aqui e por ali, coisas que poderiam estar melhor e que merecem afinação, ou emenda!…

É muito desconfortável concluir que os leitores portugueses foram, durante mais de século e meio, lendo esta importantíssima obra num português diferente daquele que lhes é mais familiar, recheado de características que ousamos caracterizar como defeituosas.

Cada leitor, pesquisando várias versões, consultando o original francês – os que tiverem conhecimento dessa língua, tão familiar e culturalmente próxima do português – podem aprofundar sentidos, aproximarem-se dos textos que nos foram deixados por Kardec e, paralelamente, do precioso “ensino dos Espíritos”.

O grande ideal que nos anima é de que “O Livro dos Espíritos” seja categorizado, para todos os efeitos, como OBRA LIVRE E OBRA ABERTA!…

fragmento de um painel de azulejos da autoria de costa brites

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Contracapa – vale a pena ler

NOTA: estas notícias têm interesse, mas dizem respeito às primeiras duas edições da nossa tradução de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, que foram revistas e melhoradas pela TERCEIRA EDIÇÃO. É favor consultar também:

Terceira edição revista da tradução de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, edição livre e aberta para todos

Contracapa da obra publicada.
para poder ler: é favor clicar e ampliar imagem.

O arranjo gráfico da primeira/segunda edições foi da autoria de Ulisses Lopes.

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Duas leis morais que mudam de nome

“passagem para a Atlântida”, grafite e acrílico s/ tela s/ platex, Costa Brites 1998

 Livro III Capítulo V e Capítulo VI

Continuamos a abordar na última série de notícias aqui publicadas, temas relacionados com a nossa tradução de “O Livro dos Espíritos”, convictos – da nossa parte – que a análise aprofundada dos aspectos linguísticos que com o mesmo se relacionam, se encontra apenas no seu começo. Isso também faz parte da ideia que apresentámos de fazer de “O Livro dos Espíritos uma Obra Viva e Aberta.

A revisão linguística a que procedemos vai ser muito incompletamente apreciada se os leitores só repararem na mudança do nome de duas das leis morais.
Realmente, a tradução foi muito mais além, e só daqui a algum tempo isso irá tornar-se claro.
A mudança do nome de duas leis (a lei da destruição, que para nós fica designada como lei da transformação; e a lei da conservação, que para nós fica designada como lei da sobrevivência) não obedece ao capricho de marcar diferenças, mas única e simplesmente porque consideramos que as traduções até agora em vigor são equívocos sérios do ponto de vista cultural e filosófico, mais do que simples erros de opção formal. Ora vejamos:

A palavra “transformação”

Perguntas 728 a 736 (sobre a ideia da morte como transformação necessária ou como destruição abusiva)
A palavra francesa “destruction”, nas várias versões em língua portuguesa de “O Livro dos Espíritos” foi, até ao presente, traduzida pela palavra “destruição”. Prevaleceu o conceito incorreto da “tradução à letra”.
Assinalemos o distanciamento semântico da palavra “destruição” relativamente à ideia da morte como momento feliz de regresso à pátria espiritual, episódio natural da transformação evolutiva, permanente e universal, que caracteriza a cosmovisão espírita.
Nos dicionários de português o primeiro significado da palavra destruir é: “proceder à destruição de; causar destruição em; demolir, arrasar; aniquilar”. Esses significados remetem o termo para o seu mais nítido campo significativo, tal como está claramente definido na pergunta n° 752 desta mesma obra, ao definir de modo contundentemente negativo o “instinto de destruição”:

Podemos ligar o sentimento de crueldade ao instinto de destruição?
É o instinto de destruição no que ele tem de pior, porque se a destruição é às vezes necessária, a crueldade nunca é necessária. Ela é sempre a consequência de uma natureza má.

De resto, o próprio teor da pergunta n° 730 vem em apoio do que dizemos acima:

Uma vez que a morte deve conduzir-nos a uma vida melhor, livrando-nos dos males deste mundo, sendo mais de desejar do que de temer, porque é que o ser humano tem por ela um horror instintivo que a torna motivo de receio?

Como forma de justificar a adoção da palavra “transformação” como tradução mais correta de “destruction”, para além da pesquisa feita na base de dados Ortolang, podemos ainda socorrer-nos de outros momentos desta mesma obra de Allan Kardec. Recorremos ao texto em francês da resposta a esta mesma pergunta n° 728, que é totalmente eloquente a este respeito:

Il faut que tout se détruise pour renaître et se régénérer ; car ce que vous appelez destruction n’est qu’une transformation qui a pour but le renouvellement et l’amélioration des êtres vivants.

Traduzindo : É necessário que tudo se extinga, para que renasça e se regenere; porque aquilo que chamais a morte do ser vivo é apenas uma transformação que tem por objetivo a renovação e o melhoramento de todos eles.

No comentário à pergunta n° 182, Allan Kardec esclarece que nos mundos mais evoluídos do que a Terra, a morte não causa a mínima apreensão aos Espíritos, porque a aceitam sem temor, como uma simples “transformação”:

L’intuition qu’ils ont de leur avenir, la sécurité que leur donne une conscience exempte de remords, font que la mort ne leur cause aucune appréhension; ils la voient venir sans crainte et comme une simple transformation.

Traduzindo: A intuição que têm do futuro, a segurança que lhes dá uma consciência isenta de remorsos, fazem com que a morte não lhes cause nenhuma apreensão: vêem-na aproximar-se sem medo e como uma simples transformação.

Isto é: A intuição que têm do futuro, a segurança que lhes dá uma consciência isenta de remorsos, fazem com que a morte não lhes cause nenhuma apreensão: veem-na aproximar-se sem medo e como uma simples transformação.
Coube ao francês Antoine Lavoisier a honra de dar nome a essa importantíssima lei da ciência, que encerra até profundo significado filosófico, mediante a conhecidíssima expressão: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.
As razões de natureza científico-cultural que podem ter levado Allan Kardec à adoção do termo “destruction”, neste capítulo de “O Livro dos Espíritos”, foram esclarecidas por Gabriel Delanne, um dos mais importantes seguidores de Kardec, na sua obra “L’Evolution Animique”, no que toca às investigações e descobertas efetuadas, por altura da publicação de “O Livros dos Espíritos”, pelo cientista francês Claude Bernard, fundador da medicina experimental, sobretudo na sua obra publicada em Paris no ano de 1867 “Principes de Médecine Expérimentale”.
Quanto ao uso corrente da língua portuguesa, se alguém morre de morte natural ou acidental, ninguém dirá entre nós – em sentido próprio – que essa pessoa “se destruiu” ou “foi destruída”.

Juntámos aos argumentos disponíveis no próprio texto do original redigido por Allan Kardec, o comentário seguinte:

A morte, transformação libertadora

Pergunta 339 (O momento da encarnação é seguido de perturbação semelhante ao que se verifica na desencarnação?)

A morte aparece na resposta a esta pergunta bem caracterizada como uma transformação libertadora, o contrário da destruição: “na hora da morte, o Espírito deixa a escravidão”. A que corresponde, no original: “A la mort, l’Esprit sort de l’esclavage”.

A palavra “sobrevivência”

Perguntas 702 – 703 (sobre o instinto de sobrevivência)
Preferimos a palavra “sobrevivência” à palavra “conservação”, pela contaminação semântica que esta arrasta consigo, longe da generalidade antropológica que oferece a primeira. Ao fazer esta opção, sabemos que estão a ser quebrados velhos hábitos de tradução de “O Livro dos Espíritos” para a língua portuguesa. Julgamos, entre outras razões, que foi o conceito da “tradução à letra”, que de maneira nenhuma perfilhamos, que justifica a tradução do termo francês original “conservation” pelo termo português “conservação”.
Consultando muito cuidadosamente a base de dados francesa Ortolang, criada pelo CNRTL-Centre National de Ressources Textuelles et Lexicales, uma boa quantidade de razões recomenda a opção do termo “sobrevivência” e outras tantas razões prejudicam a escolha do termo “conservação”.
Poderia até esta última ser preferida, caso se compusesse com uma segunda palavra, isto é: “conservação da espécie”. Mas a ideia de “sobrevivência” tem maior grau de generalidade e é mais adequada à variedade de usos que a palavra tem ao longo de “O Livro dos Espíritos”, onde o uso do termo “conservação” sempre apresenta inconvenientes expressivos. Concentrar a designação da lei numa só palavra também é vantajoso..

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ALLAN KARDEC desaconselhou grandes coletivos espíritas

Dando sequência ao primeiro destaque das Notas Finais da nossa tradução para a língua portuguesa de Portugal dos nossos dias, estamos hoje a inserir  a Nota Final  que tem por tema “a organização do espiritismo”, com o qual Allan Kardec muito se preocupou durante todo o período que tão afincada e generosamente se dedicou à sua tarefa de organizar o espiritismo (usando as suas póprias palavras).
Allan Kardec foi muito claro nos avisos que fez a esse respeito, por ter adivinhado os riscos que corria o espiritismo face às perspectivas de apropriação por grandes grupos organizados de uma doutrina que tem essencialmente a ver com a íntima atitude espiritual de cada pessoa, sob a orientação do raciocínio desinteressado  e da reta consciência moral.


[ Allan Kardec e a organização do espiritismo] Nota Final situada na página nº 257 da primeira edição.

Muitas foram as intervenções de Allan Kardec, de que eloquentemente nos falam os seus livros e a Revista Espírita, a respeito da organização do espiritismo e dos cuidados que os seus dirigentes deverão tomar para impedir a centralização abusiva e os desvios dogmáticos.
Notemos que têm sido esses vícios que, há milénios, têm retirado à Humanidade a capacidade de se auto determinar social, cultural e moralmente. Fundamental é que a cultura espírita possa configurar-se como abordagem racional, tolerante e objectiva do mundo e da vida, de modo a permitir a realização concreta da Lei do Progresso.
As citações abaixo não passam de referências esparsas colhidas através da leitura das fontes indicadas. Contudo, ao mesmo tempo que designam os núcleos pouco numerosos de interessados como forma ideal de agremiação espírita, afirmam a decidida rejeição das várias formas de concentração de poder nas organizações espíritas, que possam reduzir o seu sentido de honestidade moral e intelectual.

Revista Espírita de Dezembro de 1861, sobre “Organização do Espiritismo”

“…aos que têm a coragem da sua opinião, e que estão acima das mesquinhas considerações mundanas, diremos que o que têm a fazer se limita a falar abertamente do Espiritismo, sem afectação, como de uma coisa muito simples e muito natural, sem pregá-la, e sobretudo sem buscar nem forçar convicções, nem fazer prosélitos a todo custo. O Espiritismo não deve ser imposto. Vem-se a ele porque dele se necessita, e porque ele dá o que não dão as outras filosofias…”
“…é sabido que as grandes reuniões são menos favoráveis às belas comunicações e que as melhores são obtidas nos pequenos grupos. É necessário, pois, empenhar-se em multiplicar os grupos particulares. Ora, como dissemos, vinte grupos de quinze a vinte pessoas obterão mais e farão mais pela propaganda do que uma sociedade única de quatrocentos membros.…”
“…Quer a sociedade seja una ou fraccionada, a uniformidade será a consequência natural da unidade de base que os grupos adoptarem. Ela será completa em todos os grupos que seguirem a linha traçada pelo Livro dos Espíritos e o Livro dos Médiuns. Um contém os princípios da filosofia da ciência; o outro, as regras da parte experimental e prática. Essas obras estão escritas com bastante clareza para não dar lugar a interpretações divergentes, condição essencial de qualquer nova doutrina…”

“O Livro dos Médiuns” − Segunda parte

– “Das manifestações espíritas” Capítulo XXIX – “Das reuniões e das Sociedades Espíritas”:
“…A grande dificuldade de reunir grande número de elementos homogéneos (…) leva-nos a dizer que, no interesse dos estudos e por bem da causa mesma, as reuniões espíritas devem tender antes à multiplicação de pequenos grupos, do que à constituição de grandes aglomerações….”
“…As grandes assembleias excluem a intimidade, pela variedade dos elementos de que se compõem; exigem sedes especiais, recursos pecuniários e um aparelho administrativo desnecessário nos pequenos grupos. A divergência de carácter, das ideias e das opiniões, é nelas mais frequentes e oferece aos Espíritos perturbadores mais facilidade para semearem a discórdia. Quanto mais numerosa é a reunião, tanto mais difícil é conterem-se todos os presentes…”
“…Os grupos pequenos jamais se encontram sujeitos às mesmas flutuações. A queda de uma grande Associação seria um insucesso aparente para a causa do Espiritismo, do qual os seus inimigos não deixariam de tirar partido. A dissolução de um grupo pequeno passa despercebida e, além disso, se um se dispersa, vinte outros se formam nas proximidades. Ora, vinte grupos, de quinze a vinte pessoas, terão mais êxito e muito mais farão pelo ensino do espiritismo, do que uma assembleia de trezentos ou de quatrocentos indivíduos…”

Revista Espírita de Dezembro de 1868; “Constituição transitória do Espiritismo”:

“…Estabelecida a necessidade de uma direção, de quem receberia poderes o seu chefe? Será aclamado pela totalidade dos adeptos dispersos pelo mundo inteiro? É uma coisa impraticável. Se se impuser pelo seu próprio poder, será aceite por uns, rejeitado por outros e vinte pretendentes poderão surgir disputando a sua posição: seria ao mesmo tempo o despotismo e a anarquia. Semelhante ato seria próprio de um ambicioso, e ninguém seria menos adequado que um ambicioso, e por isto mesmo orgulhoso, para dirigir uma doutrina baseada na abnegação, no devotamento, no desinteresse e na humildade. Estando fora do princípio fundamental da Doutrina, não poderia senão falsear-lhe o espírito….”
“…pretender que o Espiritismo em toda a parte seja organizado da mesma maneira; que os espíritas do mundo inteiro sejam sujeitos a um regime uniforme, a uma mesma maneira de proceder; que devam esperar a luz de um ponto fixo no qual deverão fixar-se, seria uma utopia tão absurda como esperar que todos os povos da Terra formem uma só nação, governada por um único chefe, regida pelo mesmo código de leis e sujeita aos mesmos costumes…”
“…O Espiritismo é uma questão de essência; ligar-se à forma seria uma puerilidade indigna da sua grandeza. Os verdadeiros centros espíritas deverão dar-se as mãos fraternalmente e unirem-se para combater os seus inimigos comuns: a incredulidade e o fanatismo…”

O nome de Jesus

um rosto impossível de retratar

Esta é a terceira notícia da série que reproduz Notas Finais da nossa tradução para português de “O Livro dos Espíritos”.

[9] – O nome de Jesus – Introdução VI – Resumo da Doutrina dos Espíritos
É neste ponto de “O Livro dos Espíritos” que surge a primeira referência ao nome de Jesus, tendo utilizado Allan Kardec o adjetivo “Cristo”, o que nos obriga a esclarecer qual foi o motivo que nos levou, ao longo de toda esta obra, a usar para designá-lo exclusivamente o seu verdadeiro nome.
Há dois mil anos, no Próximo Oriente como em muitas outras partes do mundo, as pessoas não tinham nomes tão organizados como agora, com sobrenomes e apelidos. Tinham apenas um nome pessoal ao qual se juntava um designativo para diferençar pessoas com o mesmo nome: o seu local de origem, a profissão ou uma característica muito própria do indivíduo.
Jesus (derivado do nome judaico Jeshua) era conhecido no local onde vivia como filho de José, o carpinteiro, e mais genericamente como “o nazareno”, por ter nascido em Nazaré. É muito comum, em meio espírita usar-se esta designação, Jesus de Nazaré.
No tempo de Allan Kardec, numa sociedade profundamente influenciada pelo pesadíssimo predomínio católico, “Jesus Cristo” era designação usual, tanto que uma imensa maioria de católicos julgava que Cristo seria parte integrante do nome de Jesus, o que não é verdade.
Sendo o espiritismo uma cultura que é orientada pela ordenação racional de factos comprováveis pela experiência, isto é, uma filosofia não dogmática que parte de uma ciência de observação, não pode correr o risco de se deixar embalar por ideias que não são apenas diferentes, são perfeitamente antagónicas.
Ou seja, o espiritismo não aceita dogmas como o da designada “santíssima trindade” que sacralizou Jesus de Nazaré, afastando-o da sua natureza humana, escamoteando o seu papel fundamental de modelo de comportamento moral que nos propõe o ensino dos Espíritos.
Isto é muito claro ao lermos a pergunta nº 625 de “O Livro dos Espíritos”, que pedimos leiam com profunda atenção:

Pregunta: Qual o tipo mais perfeito que Deus ofereceu aos seres humanos, para lhe servirem de guia e modelo?
Resposta: Considerai o exemplo de Jesus; a que se segue o muito elucidativo comentário de Allan Kardec:

Jesus é, para os seres humanos, o tipo de perfeição moral a que pode aspirar a Humanidade na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a mais pura expressão da sua lei, porque estava animado do Espírito divino e por ter sido o ser mais puro que apareceu na Terra.
Se alguns dos que pretenderam instruir os seres humanos na lei de Deus algumas vezes os desviaram para falsos princípios, foi por se deixarem dominar por sentimentos demasiado terrenos e por terem confundido as leis que regem as condições da vida da alma, com as que regem a vida do corpo. Muitos deles apresentaram como leis divinas o que eram apenas leis humanas, criadas para servir as paixões e dominar os homens.

Sendo, portanto, modelo de homens, é impossível conceber Jesus como entidade por qualquer forma constituído de forma artificialmente diferente de qualquer um de nós, seus irmãos, também muito legitimamente honrados pela categoria inalienável de filhos de Deus.
“Cristo”, por seu turno, é um nome que deriva da palavra grega “christos”, que no contexto do cristianismo primitivo de influência greco-judaica inseria Jesus no elenco do messianismo judaico, que quer dizer exatamente “o messias”, “o enviado”, “o ungido”.

...

Paulo, que nunca conheceu pessoalmente Jesus, deu um primeiro passo nessa direção, quando criou “O Cristo da fé” que se afastava muito do Jesus histórico, cuja vida e mensagem lhe não interessavam, uma vez que ele centrava toda a sua doutrina na “morte e ressurreição” de Jesus. Quando o cristianismo começou a helenizar-se e a expandir-se entre os gentios (os não judeus), o título de Cristo passou a ser uma espécie de sobrenome.

Depois do colapso do poder dos Césares de Roma, esvaziados da prerrogativa da sua divinização que lhes era conferida pelo paganismo, tiveram que lançar mão da popularidade crescente e progressiva do cristianismo.
Este tinha avançado de forma imparável impulsionado pelos ensinamentos de Jesus de Nazaré, em coerência com as antigas sabedorias e com a vanguarda científico filosófica das escolas de pensamento Grego, nomeadamente Pitágoras, Sócrates e Platão (Vide capítulo III da Introdução de “O Evangelho segundo o Espiritismo”).
O Império romano, aliado ao poder de alguns altos dignitários do cristianismo nascente, apoderou-se do cristianismo para impor a universalidade da sua influência política e estratégica.
Cristo foi-se tornando uma expressão corrente, enquanto o Jesus ressuscitado recebia o sobrenome de “senhor” ou “kyrios”, fórmula que encaixa adequadamente nas determinações políticas que foram assumidas no Concílio de Niceia, no ano de 325, pelo Imperador Constantino, o grande, para obedecer exclusivamente a interesses de predomínio político e estratégico.

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Allan Kardec usou indistintamente as palavras Jesus, Cristo, e até Jesus Cristo com o mesmo significado. Porém, quer na ordem das ideias de carácter doutrinário, quer na ordem da consideração histórica da pessoa de Jesus, cento e cinquenta anos depois da elaboração de “O Livro dos Espíritos”, entendemos que é forçoso fazer opções quanto à utilização desta diversidade de nomes, que pode carregar consigo o peso de graves contradições.
A nossa decisão não é apenas linguística nem apenas doutrinária: respeita e faz a devida utilização da memória dos povos, leva em conta as trágicas consequências de mais de 1.700 anos de dogmatismos impiedosamente intolerantes e sangrentos.
Reforçando ideias, repetimos as esclarecidas palavras de Kardec:

“…Se alguns dos que pretenderam instruir os seres humanos na lei de Deus algumas vezes os desviaram para falsos princípios, foi por se deixarem dominar por sentimentos demasiado terrenos e por terem confundido as leis que regem as condições da vida da alma, com as que regem a vida do corpo. Muitos deles apresentaram como leis divinas o que eram apenas leis humanas, criadas para servir as paixões e dominar os homens.”

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um rosto impossível de retratar

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“O Livro dos Espíritos” traduzido para português de Portugal no catálogo de Natal da Livraria Bertrand

 

NOTA: estas notícias têm interesse, mas dizem respeito às primeiras duas edições da nossa tradução de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, que foram revistas e melhoradas pela TERCEIRA EDIÇÃO. É favor consultar também:

Terceira edição revista da tradução de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, edição livre e aberta para todos

 

Publicamos abaixo a página do catálogo de livros comercializados neste Natal pela LIVRARIA BERTRAND e que divulga o versão de “O Livro dos Espíritos” traduzida para português de Portugal e publicada pela Luz da Razão Editora.
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Salientamos a sinopse incluída:

Com este livro, em 18 de Abril de 1857, raiou para o mundo a era espírita. O Livro dos Espíritos é o código de uma nova fase da evolução humana e sobre ele se ergue todo um edifício: o da Doutrina Espírita. Ele é a pedra fundamental do Espiritismo, o seu marco inicial. O Livro dos Espíritos não é, porém, apenas, a pedra fundamental ou o marco inicial do Espiritismo. Porque é o seu próprio delineamento, o seu núcleo central e ao mesmo tempo o arcabouço geral da doutrina.
Examinando-o, em relação às demais obras de Kardec, que completam a codificação espírita, verificamos que todas essas obras partem do seu conteúdo. Até a publicação desta obra, os problemas espirituais eram tratados de maneira empírica ou apenas imaginosa, com ela, o espírito e os seus problemas saíram do terreno da abstração, para se tornarem acessíveis à pesquisa experimental, o sobrenatural tornou-se natural. Tudo se reduziu a uma questão de conhecimento das leis que regem o Universo.

A obra agora editada, vê, ao fim de 160 anos, uma tradução do original Francês para português de Portugal, apresentando notas e comentários dos tradutores. Além de se tratar de uma nova e mais rigorosa tradução do original francês (sem preconceitos ou fins religiosos – o que nos leva, em algumas passagens, a sublinhar diferenças em relação às versões hoje mais correntes), os tradutores elevam o texto a uma condição literária que até hoje este nunca teve em português, incluindo notas que esclarecem e contextualizam o texto original.
Nunca O Livro dos Espíritos foi tão belo na nossa língua.

Informação para todos os visitantes interessados;
Ao longo de “espiritismo cultura” podem ser consultadas informações detalhadas a respeito do tema desta notícia.
Convidamos todos, portanto, a efectuar uma pesquisa cuidadosa ao longo das notícias que se seguem, sem esquecer a valiosíssima apreciação crítica do professor João Donha, e o trabalho que analisa os critérios de tradução utilizados pelos autores, “As palavras têm alma”.
A pesquisa pode ser feita desenrolando os conteúdos ou clicando nos subtítulos do “menu”.
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Para aceder a esta página do catálogo de Natal da LIVRARIA BERTRAND é favor clicar na imagem acima

Recado dos tradutores, grandes admiradores da língua portuguesa e do estudo independente e não dogmático do espiritualismo científico como filosofia com objectivos morais:

A emocionante categoria de todos os organismos vivos e a complexidade do Universo que nos rodeia, indicam que a vida não é um fenómeno casual.
Para além das convicções dos crentes, é a lógica da Criação que demonstra que existimos de há muito antes e que continuaremos a existir, de acordo com a lógica insondável da complexidade Universal.
Para além das inumeráveis pesquisas da ciência, cujas verdades são cada vez mais fluídas e indeterminadas, tenhamos em conta o testemunho expresso pela hipersensibilidade de milhões de seres que, através dos séculos, têm falado do que veem, do que sentem e viveram para lá da parede do invisível.
Voltamos a falar na ciência pois que nos diz agora que, de todo o Universo, só conseguimos ver e conhecer uma ínfima parte, sendo tudo o mais invisível e impalpável.

O LIVRO DOS ESPÍRITOS surgiu num momento propício, embora difícil, da história da humanidade, e resulta de ideias honestamente pesquisadas e metodologicamente organizadas a partir dessas opiniões sensíveis, cujos divulgadores afirmam estar baseadas em factos.

Já vivemos e sentimos o suficiente para crer que há boas razões para estarmos atentos ao invisível. Mais do que isso, achámos matéria substancial e comprovável para estudar a sério o que nos espera para além da imobilidade final do corpo.
O que fala em nós não é a matéria e sabemos o suficiente para construir, quanto mais não seja, um indispensável guia para a viagem que nos espera e que, à imagem e semelhança do Universo que nos rodeia, tem o perfil insondável dos horizontes sem fim à vista.

Mesmo para quem não acredita em nada, mas queira pôr de lado os tabus do silêncio, para isso foi escrito “O Livro dos Espíritos”.

Durante muitos anos o Livro foi lido em Portugal escrito em brasileiro, ou adaptado ao português com maior ou menor clareza. A nossa tradução foi estudada e fundamentada da melhor maneira que pudemos, numa base de independência ideológica e com a mais honesta e aberta curiosidade intelectual.

No nosso sentir e no nosso querer, não é uma crença – muito menos dogmática. É um conjunto precioso de informações que podem fazer falta já durante a vida, porque explicam de forma cabal o que vem depois.
JCB/MCB..

Aspecto de um dos estabelecimentos da Livraria Bertrand na cidade de Coimbra

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PowerPoint sobre a nossa tradução de “O Livro dos Espíritos”

 

NOTA: estas notícias têm interesse, mas dizem respeito às primeiras duas edições da nossa tradução de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, que foram revistas e melhoradas pela TERCEIRA EDIÇÃO. É favor consultar também:

Terceira edição revista da tradução de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, edição livre e aberta para todos

Para ter acesso ao PowerPoint é favor clicar na imagem

Razões que tivemos para realizar a tradução de “O Livro dos Espíritos”, o seu Prefácio e as suas Notas finais

1 – Insatisfação pelas versões conhecidas em português do Brasil, e o desconhecimento de uma tradução disponível em Português de Portugal que correspondesse às nossas expectativas;
2 – O valor da obra, a sua cosmovisão progressista, optimista e emancipadora, que abre de par em par as portas de uma cultura cientifico-filosófica com objectivos morais, estimulou o gosto de a estudar com método e de a traduzir com rigor para nosso próprio uso;
3 – As Notas finais resultaram do grande interesse do trabalho de pesquisa a respeito da obra de Allan Kardec, cujos benefícios desejámos partilhar com os leitores, cientes de que fica muito por saber e muito por investigar.
4 – Concebida como trabalho para uso pessoal, esta tradução foi feita por puro gosto, sem interesses materiais ou pessoais. O seu resultado final foi eleito à categoria de ato de partilha, para ajudar o maior número possível de leitores a esclarecerem o funcionamento do Universo, a sua origem e o seu destino, que são os temas de que trata “O Livro dos Espíritos”.

José da Costa Brites e Maria da Conceição Brites
22 de Abril de 2017
Nos 160 anos de “O Livro dos Espíritos”.

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E ABRIL DE 2017 – Apresentação nacional em Braga

NOTA: estas notícias têm interesse, mas dizem respeito às primeiras duas edições da nossa tradução de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, que foram revistas e melhoradas pela TERCEIRA EDIÇÃO. É favor consultar também:

Terceira edição revista da tradução de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, edição livre e aberta para todos

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Razões dos tradutores:

A nossa tradução de “O Livro dos Espíritos” foi feita inicialmente apenas para uso pessoal, visto que não nos agradavam completamente as versões que conhecíamos em língua portuguesa.
Para além da mensagem dos Espíritos que o Livro nos apresenta, a linguagem e a argumentação desenvolvidas por Allan Kardec, ao longo da obra, foram talhadas de acordo com a sua sensibilidade, face à complexidade da época em que viveu.

No tratamento dessas componentes essenciais, tivemos que seguir o seu exemplo, pensando numa nova geração de leitores, que alargue sensivelmente o número de interessados no esclarecimento da sua origem e do seu destino, em contexto de evolução espiritual.

Por isso se justificaram, não apenas a inclusão de um “Prefácio de tradutores”, com dados genéricos para as pessoas que nunca leram Kardec, como também um conjunto de notas finais de contextualização histórico-cultural, que achámos não só adequadas, mas imprescindíveis.

Não é possível manter intocada uma obra que ensina a viver e que tem de concorrer com as novas concepções da vida e do mundo, correndo com isso o risco imediato de não ser nem compreendida, nem aceite pelas gerações que já nasceram sob o signo de novas ideias.
Estamos a pensar na nova geração de leitores que, habituados a linguagens muito mais atraentes e dinâmicas, só poderá aceitar um livro que lhes explique de forma clara, leve e transparente:

‒ O funcionamento do mundo;
‒ As regras e princípios que norteiam a vida;
‒ O que precisam de fazer para cumprir as suas missões de aperfeiçoamento moral e intelectual.

Acreditamos na universalidade e na perenidade da mensagem de “O Livro dos Espíritos”. Estamos seguros que tem argumentos e qualidades suficientes para levar às pessoas de todas as idades uma mensagem válida de edificação da vida.
Pertencendo ambos à geração de portugueses que tiveram o Francês como segunda língua e tendo tido uma experiência continuada, não só com o idioma mas também com a cultura da nação francesa, foi fácil começarmos de há muito a ler Allan Kardec nos originais, tendo assumido recentemente o projeto de traduzir para português o mais possível da sua importantíssima obra.
O trabalho que foi feito destina-se a cumprir um objetivo fundamental, que julgamos elementar.
A justificação para tomarmos tal iniciativa poderá talvez apoiar-se no teor da parábola dos “talentos”, contada por Jesus de Nazaré, pois compreendemos que era a altura propícia e que não devíamos esperar nem mais um dia para realizá-la.
Fizemos a nossa leitura/tradução com a máxima atenção e gosto.
Concluímos que a obra de Allan Kardec é demasiado preciosa para ficar prisioneira de uma errada consagração imobilizadora.
O trabalho feito proporcionou-nos um convívio precioso, a quase intimidade intelectual com a personalidade e a obra de Allan Kardec.

Sendo o francês e o português línguas da mesma família latina, tivemos a preocupação de fugir ao critério erróneo da “tradução à letra”, respeitando o fundo e não a forma das palavras do grande livro, tal como os ensinamentos nele contidos recomendam.
O autor teve o intuito de escrever um livro que fosse acessível a todos os leitores da sua época. Sabemos, contudo, as profundas modificações que registaram, entretanto, todas as técnicas de comunicação.
A frase mais curta, a economia de recursos de carácter retórico e enfático, a simplificação dos tempos verbais e muitos outros meios, foram usados por nós para facilitar a aproximação aos leitores, respeitando, entretanto, o carácter próprio que foi conferido à obra pelo seu autor.
Sabendo que as palavras têm alma, usámos uma estrutura lexical coerente com o carácter filosófico e moral da obra, no contexto da sua visão otimista da magnânima Obra da Criação e do glorioso destino da Humanidade.
Para além das versões em português, procurámos esclarecer muitos dos seus aspetos através de traduções noutras línguas e da pesquisa de outras obras do mesmo autor.
Consultámos, por exemplo, a tradução em castelhano de Alberto Giordano, publicada na Argentina em 1970 e influenciada pela que foi feita pelo professor brasileiro José Herculano Pires, que também analisámos com cuidado; e a excelente tradução em língua inglesa da autoria da jornalista Anna Blackwell, profunda conhecedora da cultura espírita, que foi contemporânea e amiga da família Rivail durante o tempo que viveu em Paris. A edição de que nos servimos tinha por intuito revelar a obra de Allan Kardec no universo cultural anglo-saxónico e foi publicada em Boston em 1893, mas o prefácio da autora está assinado de 1875, em Paris.

José da Costa Brites e Maria da Conceição Brites
Abril de 2017

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